As eleições de hoje na Finlândia acentuaram a divisão entre o norte e o sul da zona Euro, dificultando ainda mais a resolução do problema da Grécia. O vencedor das eleições, o Partido do Centro, é um partido de centro-direita, crítico das ajudas à Grécia. O seu líder, Juha Sipila, já afirmou que será muito difícil um governo por si liderado apoiar um terceiro programa à Grécia.

Como se viu durante a campanha eleitoral, a maioria dos finlandeses é contra mais ajudas à Grécia. A economia finlandesa está em crise e o país necessita de cortes nas despesas públicas. Os finlandeses deram este mandato ao novo governo e não entendem por que razão um país com problemas económicos e que se prepara para reduzir os custos das políticas sociais deve apoiar financeiramente a Grécia.

Além disso, a aproximação unilateral do governo liderado pelo Syriza à Rússia apenas contribuiu para piorar a imagem da Grécia. Os finlandeses têm medo do poder russo – e há razões poderosas para isso – e viram o governo grego ignorar completamente as suas preocupações de segurança. Como afirmaram os líderes do partido vencedor, “se a Grécia não mostra qualquer tipo de solidariedade em relação à ameaça russa, por que razão devemos ser solidários com os gregos?”

O principal parceiro de coligação será o Partido Nacional. Liderado pelo até agora primeiro-ministro, Alexander Stubb. Mas será ainda necessário um terceiro partido para se formar uma maioria parlamentar. Será ou o Partido dos Finlandeses, nacionalista e eurocéptico, ou os sociais-democratas, de centro esquerda. A inclusão do partido eurocéptico no novo governo será o cenário mais provável, o que iria ainda tornar mais difícil um apoio à Grécia. O partido votou contra os dois programas anteriores para a Grécia.

Temos assim hoje na zona Euro uma divisão muito complicada. A Grécia precisa de apoio dos outros países da zona Euro, mas não quer aplicar as medidas exigidas pelos credores. Do outro lado, a Finlândia – um dos credores – deixou de acreditar no governo grego e parece não estar disposta a emprestar mais dinheiro à Grécia. E ambos os governos gozam de legitimidade democrática. Nenhum tem mais ou menos do que o outro. Não me parece que as nossas opiniões em relação às respectivas posições seja agora o mais relevante. O ponto central é o aumento da pressão política sobre o Euro. A democracia continua a afastar países que partilham a mesma moeda. E também não vale a pena procurar culpados e vítimas. O curso da política não será travado por julgamentos morais.

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