1. Os partidos políticos nascem, crescem, mudam e entram em declínio. É raro, mas por vezes até se tornam irrelevantes. As direitas portuguesas podem ter entrado num desses períodos de transformações. O PSD passa por uma crise de identidade doutrinária e ideológica. O CDS quer crescer e aproximar-se ou até ultrapassar o seu parceiro habitual de coligações. Simultaneamente, apareceram dois movimentos liberais de centro-direita, a Iniciativa Liberal e o Democracia 21. Definitivamente, as direitas em Portugal agitam-se.
Os entusiasmos devem, no entanto, ser temperados com um pouco de realismo. É difícil criar novos partidos e sobretudo é necessário saltar das redes sociais para o país dos eleitores. A conquista de votos dá muito mais trabalho do que colecionar likes no mundo da internet. O crescimento do CDS também não será fácil. Não nos devemos esquecer que a diferença entre o PSD e o CDS continua na casa dos 20 pontos.
Mas se a criação de novos partidos ou o crescimento de partidos mais pequenos são difíceis, não são impossíveis. Vejam o que se tem passado na Europa durante os últimos cinco anos. Na Grécia, foram as esquerdas que se transformaram radicalmente. O grande partido da esquerda socialista, o PASOK, tornou-se irrelevante e o Syriza, um partido relativamente novo, chegou ao governo. Imaginem, em Portugal, o PS com menos de 10% e o Bloco a ganhar eleições. Em Espanha, também entre as esquerdas, o Podemos cresceu alcançando o PSOE. Em França, a revolução foi ainda mais longe, com o quase desaparecimento dos socialistas, substituídos à esquerda pelo movimento radical de Melenchon e, à direita, pelo partido de Macron.
Mas as direitas também se transformaram. No país vizinho, o Cidadanos, partido criado há pouco mais de cinco anos, aproximou-se do PP e, neste momento, lidera as intenções de votos segundo algumas sondagens. O nervosismo do PP entende-se: teme que os Cidadanos façam o que os populares fizeram à UDC nos anos de 1990. Os democratas cristãos foram o maior partido do centro direita espanhol até ao fim dos anos de 1980. Em França, os Republicanos também foram vítimas do fenómeno Macron e passam agora por uma fase de reconstrução. Em Itália, a Liga ultrapassou o principal partido das direitas das últimas três décadas, a Forza Italia de Berlusconi. Por fim, na Alemanha, apesar da resistência da CDU, a direita anti-europeia, a AfD, irmã gémea da crise do Euro, tornou-se no terceiro maior partido do parlamento alemão e, com a formação da grande coligação, na líder da oposição. A Europa mostra que os partidos nascem, crescem e quase desaparecem.
Será Portugal diferente de todos estes países europeus? Irá a estabilidade partidária manter-se por muitos anos? Entre as esquerdas, a geringonça salvou o domínio do PS e condenou o BE e o PCP a manterem os seus lugares secundários. Se os bloquistas sonharam com um destino semelhante ao do Podemos ou mesmo do Syriza, esse sonho terá morrido com o apoio a António Costa. A instabilidade passou para as direitas. Conseguirá o CDS crescer para os 15, 20%, aproximando-se do PSD?
Nunca as condições foram tão favoráveis para as pretensões do CDS. O PSD nunca teve no passado um líder tão próximo do PS, como é agora Rui Rio (mesmo que ainda possa mudar). A centralização do PSD abre caminho para o CDS crescer. As dificuldades enfrentadas pelo governo de Passos Coelho e a formação da geringonça mobilizaram o eleitorado das direitas. Os quase 40% da coligação entre o PSD e o CDS em 2015, depois de quatro anos tão duros, são o resultado da mobilização do eleitorado das direitas, apesar da perda da maioria absoluta. A ida do PS para o governo, apesar da vitória eleitoral das direitas, revoltou muitos e cria um eleitorado aberto à mobilização política. Poderá não ser suficiente para uma maioria absoluta mas servirá para o CDS crescer, tenham os cristãos democratas o engenho para mobilizar o eleitorado órfão das direitas.
Na política pós-geringonça, o voto útil perdeu grande parte do seu significado. A estabilidade política deixou de depender de maiorias absolutas de um só partido, do PS ou do PSD. As eleições agora servem para dar uma maioria absoluta às esquerdas ou às direitas. Se os portugueses deixarem de valorizar as maiorias absolutas de um só partido, o voto útil desaparece. Entre as direitas, o CDS será, obviamente, o partido que mais beneficia do fim do voto útil.
Mas o CDS só poderá beneficiar do fim do voto útil se não se embrulhar em discussões inúteis sobre a sua natureza ideológica, se é mais cristão-democrata ou mais liberal. Um partido político que quer crescer não é um clube ideológico mas sim uma casa de várias famílias ideológicas, onde se soma e não se exclui. O desafio será conquistar votos e esses conseguem-se com propostas políticas e não com discussões ideológicas. Um bom ponto de partida seria o CDS tornar-se no partido da redução de impostos, da luta contra a ditadura fiscal imposta por aqueles que não conseguem fazer política sem aumentar o poder do Estado e sem tirar recursos aos portugueses.
2. As minhas felicitações ao ISCSP. Contratou um docente, Passo Coelho, com a experiência e o conhecimento para dar aulas sobre política, quer nacional como europeia. Um docente que, para variar, sabe muito sobre o que está a ensinar. Espero que os alunos aproveitem esse privilégio.