1. O CDS esteve muito bem a apresentar a moção de confiança ao governo. Há duas razões que a justificam. Em primeiro lugar, é importante continuar a insistir no cinismo em que assenta a frente de esquerda. É uma coligação puramente negativa que serviu apenas para impedir que o PSD formasse governo em 2015. A única preocupação do governo e dos seus camaradas das extremas esquerdas foi reforçar o poder nas estruturas do Estado dos respectivos partidos e sindicatos. De resto, o PCP e o Bloco de Esquerda passaram o tempo todo simultaneamente dentro e fora da coligação com o PS. Este oportunismo politico desgasta a qualidade da democracia portuguesa.

A natureza do acordo da frente de esquerda também contribuiu para a degradação dos serviços públicos. As esquerdas, que sempre defenderam a saúde, a educação e os transportes públicos, estão a destruí-los. Nenhum governo português consegue, nem conseguirá, aumentar as despesas do Estado, manter os níveis necessários de investimento público e cumprir as regras fiscais da zona Euro. Depois do desastre de 2011, António Costa sabia que podia fazer tudo menos violar as regras do Euro. A segunda opção foi aumentar as despesas com o funcionamento do Estado, é aí que estão os votos. O investimento público foi esquecido porque o dinheiro não chega para tudo. O estado dos serviços públicos expõe a contradição da frente da esquerda: é impossível cumprir as regras europeias e governar com uma maioria anti-europeia. É possível disfarçar durante quatro anos com a economia global e europeia a crescer. Mas não será possível governar mais uma legislatura com a frente de esquerda. Marcelo sabe isso, mesmo que não o diga em público. Costa sabe isso e anda nervoso. Centeno também o sabe e quer ir para Bruxelas.

Em segundo lugar, já todos perceberam que Portugal vai perder um ano em campanha eleitoral. Todos os fins de semanas se organizam congressos, conferências, convenções e todo o tipo de encontros partidários. Se o Presidente da República, o PM e os partidos parlamentares fossem responsáveis e se preocupassem com o estado do país, as eleições legislativas seriam no mesmo dia das eleições europeias, no fim de Maio. Como vai viver o nosso país, com tanta contestação e sem um governo a tomar decisões importantes e em campanha permanente? Será um ano a tirar selfies, a fazer promessas que nunca serão cumpridas e a enganar os portugueses com inaugurações repetidas e falsas. A moção de censura do CDS ajuda a explicar a farsa política em que vivemos.

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