Algumas pessoas ainda recordarão um velho western de 1946 realizado pelo então famoso cineasta norte-americano King Vidor chamado «Duelo ao Sol»… Podíamos augurar que o anunciado duelo televisivo entre os dois candidatos à liderança do PSD fosse algo do género mas, se se tratou de um duelo, foi à chuva… Com efeito, ambos os candidatos se resguardaram o melhor possível do mau tempo que se abateu sobre o partido depois de Pedro Passos Coelho se ter afastado da liderança por manifesta falta de apoio dos seus adversários de sempre dentro do PSD; dos antigos aliados do CDS, que hoje não pensam noutra coisa que não seja serem cooptados pelo PS nas próximas legislativas; e, finalmente, de uma parte do eleitorado que sustentou a chegada de PPC ao poder em 2011 depois da virtual bancarrota socialista mas que agora parece acreditar na «reversão da austeridade».
A tal ponto que «em pleno horário nobre, a RTP1 alcançou, apenas, um share de 10,7% e um rating de 5,3%, o que corresponde a 513 mil espectadores sintonizados no canal 1». Perante esta falta de entusiasmo, que por contraste deve ter entusiasmado as hostes do actual governo, os candidatos desperdiçaram o seu de tempo de antena com questiúnculas do passado do PSD das quais só os profissionais se recordam e com vagas promessas de políticas governamentais das quais já ninguém se lembra 24 horas depois. Se fossemos obrigados a decidir qual dos dois candidatos à liderança do PSD teve a performance menos má, no mero sentido televisivo do termo, é possível que tenha sido Santana Lopes, mas Rui Rio não lhe ficou muito atrás no tédio inspirado aos telespectadores. Santana Lopes terá tido o mérito de jogar ao ataque mas em direcção a quê, se não a slogans partidários gastos há décadas?
No dia seguinte ao debate, Rui Rio lembrou-se de sugerir que as futuras pensões, cuja dupla crise de ordem demográfica é reconhecida por todos menos pelos políticos de serviço, poderiam vir a ser ajustadas segundo a conjuntura económica… É caso para perguntar se os candidatos à liderança do PSD conhecem realmente os problemas com que o país se defronta, mesmo que a maioria do eleitorado não tenha plena consciência deles, ou simplesmente se esconderam essas questões do público – membros do PSD ou não – a fim de não o assustar ou se o fizeram por medo de não terem argumentos contra o governo da «esquerda unida»? Venha o diabo e escolha!
A impressão com que se fica é que, do mesmo modo que o governo foge das dificuldades reais do país como o diabo da cruz, desde as pensões aos incêndios, também os candidatos da pretensa oposição ao PS e companhia ignoram os «fundamentais» da situação sócio-económica portuguesa ou se os escondem com medo de afastar o eleitorado. Provável ignorância ou possível ocultação veem a dar no mesmo no que diz respeito à falta de informação e de coragem política devida aos eleitores, as quais estão ou deviam estar na base das decisões que qualquer dos partidos terá de tomar em breve.
Nem sequer se conseguiu saber se algum dos candidatos estaria disponível para se aliar ao PS depois das próximas legislativas (previstas para Maio de 2019) caso a geringonça perdesse a maioria! Rio já deu a entender que sim no passado mas agora fugiu ao assunto. Quanto a Santana, fez disso a sua única diferença substantiva quando, na realidade, foi ele quem colaborou com o governo actual e acabou por entregar o dinheiro exigido da Misericórdia ao Montepio…
Em contrapartida, conforme assinalou Rui Ramos, não está excluído que um dos temas das próximas legislativas venha a ser a nomeação de um novo Procurador-Geral da República, já que o mandato da actual PGR, Joana Marques Vidal, chega ao seu termo em Outubro próximo! O certo é que os jornais denunciaram há muito poucos dias um facto muito pouco tranquilizador para a nossa opinião sobre a justiça portuguesa. Com efeito, o processo movido contra o antigo primeiro-ministro socialista José Sócrates e os seus alegados cúmplices entrou «há mais de um mês no limbo»!
Há alguma relação entre estes diversos factos? Haverá perigo, como teme Rui Ramos, que a substituição de Joana Marques Vidal seja «fatalmente entendida como um golpe da oligarquia política para dissuadir os magistrados de perturbarem os seus negócios»? Daqui a menos de um ano saberemos quem lhe sucederá e quais os papéis desempenhados, respectivamente, pelo governo e pelo presidente da República na nomeação de um novo PGR. Isso nos indicará, a seu tempo, o que pensar a este respeito. É bom não esquecer, enteetanto, que muita gente tem receio que a sombra de Sócrates e dos seus cúmplices continue a projectar-se sobre o PS e que o seu processo legal continue no limbo… Eis o que não estávamos à espera que durasse até hoje e muito menos que se prolongasse ad infinitum!