Em pouco mais de um mês, o governo conseguiu acabar com o investimento externo em Portugal. O pobre do ministro da Economia, Caldeira Cabral, farta-se de dar entrevistas a dizer que o investimento externo constitui a sua grande prioridade. Infelizmente, as suas funções acabaram antes de se iniciarem.

A decisão de recapitalizar o Novo Banco através das obrigações seniores (transferidas para o BES) vai afectar gravemente os investimentos por partes dos maiores fundos financeiros. Como se sabe, os dois maiores prejudicados – a BlackRock e a Allianz – serão provavelmente os maiores fundos de investimento globais, e ambos com uma presença importante na economia nacional, com ações de empresas listadas. Com este governo, duvido que voltem a investir em Portugal. E nenhum fundo voltará a comprar obrigações seniores de bancos portugueses.

Estes (e outros) fundos de investimento são cada vez mais importantes para as economias europeias, especialmente como consequência da crise financeira. Um dos resultados da crise, longe de estar resolvido, é a dificuldade dos bancos para financiar a economia; o que em Portugal é particularmente grave, no sentido em que a economia nacional estava fortemente dependente dos empréstimos dos bancos. Ora, os fundos de investimentos estão gradualmente a substituir o papel dos bancos no financiamento da economia (como mostra a recente legislação europeia sobre mercados de capitais e investimentos alternativos). Na maioria dos países da zona Euro, faz-se um esforço para atrair os investimentos dos grandes fundos. Em Portugal, o governo faz o oposto.

No sector financeiro, a venda do Banif ao Santander terá tremendas implicações para as economias das regiões autónomas. Um banco espanhol será o maior operador na Madeira e nos Açores. O que significa que dominará os créditos das respectivas economias. As decisões serão tomadas em Madrid, e não em Lisboa. Lamentavelmente, o governo não tratou o Banif como uma questão de soberania nacional.

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Ainda mais grave, a reversão das concessões das empresas dos transportes a operadores privados e a tentativa de alterar a privatização da TAP irão afectar negativamente a economia nacional. O governo apressou-se a garantir que não será forçado a pagar indemnizações. Mas essa questão é secundária. O principal problema será, mais uma vez, o desaparecimento da confiança por parte de investidores externos. As empresas lesadas irão recorrer aos tribunais, em Nova Iorque em Londres; e a imprensa económica internacional não ignorará os casos judiciais. Esta perda de confiança será muito mais penalizadora para a economia portuguesa do que a soma de todas as eventuais indemnizações.

Estas decisões revelam um problema de fundo do governo. Não entendeu que a prioridade deveria ser a economia e não as políticas orçamentais. Refém da sua oposição as “políticas de austeridade” do último governo, a coligação das esquerdas anda entretida a alterar o que foi feito entre 2011 e 2015 em lugar de governar de acordo com as necessidades do país em 2016. A austeridade acabou durante o mandato do anterior governo, no dia em que a “troika” abandonou o país. Se a coligação de direita tivesse formado governo, também teria adoptado algumas políticas de expansão orçamental (embora de um modo mais controlado do que o actual governo).

O governo deveria ter sido pragmático e concentrar-se inteiramente na recuperação económica, com medidas para captar mais investimento externo e para promover o aumento das exportações. Em vez disso, afastou o investimento externo e está a promover o consumo interno. A economia nacional vai sofrer e o governo será penalizado por governar para o passado e não para o futuro.