Caro Dr. António Costa, pensei escrever-lhe um SMS mas achei melhor comunicarmos por aqui. Sinto-o preocupado com os seus cartazes eleitorais e reconheço que não é motivo para menos. Saberá melhor do que eu que o humor mata na política. Que, mais do que erros, incompetência ou casos judiciais, o que põe um político fora de combate é entrar no anedotário nacional. Os portugueses perdoam tudo excepto cair no ridículo, como decerto terá constatado há uns anos com o seu camarada António Guterres ou, mais recentemente, com Miguel Relvas, a quem recomendaram ir estudar em plena volta à França em bicicleta. Presumo que nunca se tivesse imaginado em tal situação, mas sejamos realistas: escolher cenários evangélicos, utilizar estatísticas de modo enviesado, criticar involuntariamente o legado do anterior governo Sócrates e falsificar “histórias reais” com funcionários de uma junta de freguesia socialista não constituem técnicas recomendáveis de comunicação política. Mas antes que a ansiedade o empalideça ou se convença que a dispensa do seu director de campanha resolve os seus problemas, permita que lhe ofereça um conselho – até porque, manifestamente, precisa de ser bem aconselhado. É que os cartazes foram um desastre, sim, mas o seu principal problema é político: o PS está a comunicar mal porque a sua mensagem não é boa.
O Dr. António Costa passou meses a convencer-nos de que tinha propostas, de que era alternativa, e de que esta estava realisticamente sustentada num cenário macroeconómico elaborado por reputados economistas. Ora, não sei se já reparou mas, quanto ao desemprego, assunto sobre o qual tanto se tem discutido e que destacou nos cartazes de “histórias reais”, o seu cenário macroeconómico já foi ultrapassado pela realidade. De acordo com o INE, a actual taxa de desemprego (11,9%) está abaixo das metas que o PS estabeleceu para 2015 (13,6%) e 2016 (12,2%) o que, julgo que concordará, não é um pormenor mas todo um mundo de distância entre o que o PS anteviu e o que está a acontecer no país. Eu diria que a raiz dos seus problemas assenta aí: o país melhora a cada dia que passa, o que coloca o Dr. António Costa numa corrida contra o tempo, apresentando-se como solução para problemas que se estão a resolver sem o seu auxílio.
Nesse sentido, o conselho que lhe dou é que esqueça os cartazes, reveja a sua estratégia e se preocupe sobretudo com o que os seus deputados andaram a dizer nos últimos quinze dias. É que estes lançaram alertas dramáticos sobre os níveis de desemprego, esgrimiram os números oficiais do INE, mostraram-se preocupados com a economia e sugeriram que a solução para todos os males passa por elegê-lo primeiro-ministro. Ou seja, dramatizaram a situação actual do país, esforçando-se para transformar em más as boas notícias. No fundo, fingiram que o contexto é óptimo e que não houve troika nem um programa de assistência financeira. Que o desemprego não está a diminuir (quando já está abaixo do que estava quando o governo iniciou funções) e que a criação de emprego não está a aumentar. Que a economia está em queda quando, finalmente, está a crescer e se estima que assim se manterá. No fundo, fingiram que só o Dr. António Costa poderá melhorar o que, afinal, tem melhorado sem o seu contributo. E, porque essa mensagem não faz sentido, sujeitaram-se a serem postos no sítio pelo secretário-geral da UGT. Não tenha dúvidas, Dr. António Costa, isto é muito pior do que os seus cartazes: é que ninguém gosta de más notícias e muito menos de ser tratado como gente estúpida a troco de um voto.
Estou certo que recordará com saudade os tempos em que todos lhe garantiam maiorias absolutas sem ir a votos. Ou, há poucas semanas, quando os editoriais dos jornais portugueses celebravam o que prometia ser o arranque de uma campanha eleitoral à volta de documentos sólidos e de propostas concretas do PS. Afinal, foi pura ilusão: o Dr. António Costa optou por fazer da campanha eleitoral uma batalha entre duas visões do país – a de um Portugal em recuperação e a de um Portugal de rastos. Fez mal: cada indicador estatístico publicado afasta-nos da visão catastrofista e, consequentemente, da necessidade de o eleger primeiro-ministro. Veja bem no buraco em que se enfiou.
Não lhe posso garantir que ainda tenha alguma saída mas eu, que não ambiciono ser o seu terceiro director de campanha, arriscava dizer aos portugueses o que já disse aos chineses. É que, apesar da sua experiência, estou em crer que se esqueceu de uma das regras elementares da política: quem passa a vida a negar a realidade é, mais cedo ou mais tarde, derrotado por ela. Pense nisso durante as férias. E depois, em Outubro, não diga que não foi avisado.