Pode-se não gostar, e eu não gosto nada, do Bloco de Esquerda, mas terá, pelo menos, o mérito de afirmar convicções e de lutar por elas no espaço público. Cartazes espalhados a eito pela cidade há anos e a apresentação em catadupa de propostas sempre mais fracturantes falam disso.
Aqui há dias, a comandante-adjunta Mortágua, membro do politburo bloquista, até apanhou um avião e tudo para ir a Barcelona levar um cravo português à intentona independentista picaresca e falhada do Puigdemont (que um dia deste terá de ir preso, como os outros, se tiver sorte).
O tópico catalão era pífio, é certo, mas o gesto, às vezes, máxime na política, é tudo. Isto por dizer que da nossa direita, historicamente campeã dos interesses, se calhar, infelizmente, talvez não se possa dizer o mesmo quanto à defesa de convicções.
No pantanal relativista que nos faz perder o pé, no mundo lívido e aleatório da pós-verdade onde ficará a casa da direita? Só pode estar no idioma rigoroso e original de uma afirmação permanente, clara e simples dos nossos princípios e valores cristãos de sempre. Que alicerçam desde a primeira hora portuguesa, de forma vital, a nossa autoconsciência soberana e a nossa independência. Que são, evidentemente, católicos, visto que o catolicismo é a única expressão fundamental que o cristianismo assumiu e assume historicamente em Portugal. E não, não estou a falar em nome de um qualquer confessionalismo político ou de um proselitismo serôdio agitado a bem da e pela Igreja Católica. Falo de uma coisa chamada realidade natural.
Os valores da liberdade, da subsidiariedade da totalidade do Estado, da solidariedade e da justiça, da livre propriedade, do mérito individual e da justa recompensa.
Falo da pessoa e da família com todas as suas potencialidades e liberdades como o primeiro lugar, como o elo mais forte, como o referencial insubstituível, a parede forte onde se desmoronam todas as fracturas. Princípio, fim e sujeitos de toda a política.
Falo de um país com funcionários públicos, mas muito mais mobilizador da livre iniciativa e defensor e campeão do sector privado, o único que cria riqueza e rendimento para distribuir.
Se a direita Portuguesa não fizer apelo sem álibis, nem complexos de esquerda e/ou de consciência, sem embaraços e sem reservas na construção e na formulação substanciada da sua mensagem política, na apresentação (e execução quando em funções) das suas propostas concretas à mobilização, à adesão, à participação e ao voto dos católicos Portugueses, não serve para nada como direita e em Portugal não tem caminho nenhum.
Miguel Alvim é advogado e membro do Conselho Político Nacional do CDS