Os sicários eram um grupo de judeus fanáticos que lutava contra a ocupação romana da Judeia. Como arma favorita tinham um punhal curto, a sica. Usavam-no em assassinatos pontuais. A aparente aleatoriedade destes ataques espalhava um sentimento de vulnerabilidade entre os romanos. Os sicários representavam o medo e o terror, pondo em causa a governação de Roma. Era a fórmula perfeita duma subversão armada.

Hoje, ainda na Cisjordânia e em Jerusalém, a diferença não é muita. A arma é a mesma. Apenas se invertem os papéis e a forma de propagação da mensagem. Em vez de judeus, são palestinianos fanáticos; e a palavra ganhou força das redes sociais do ciberespaço.

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Olhemos agora para esta região, onde a tensão tem vindo a crescer deste Setembro, depois de confrontos na Esplanada das Mesquitas. A recente onda de violência já causou mais de uma centena de vítimas mortais em ambos os lados, gerando uma cultura de ódio e histerias colectivas.

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Perante a inoperância dos líderes, os jovens palestinianos – muitos deles já nascidos depois dos acordos de Oslo (1993) – optaram por passar das palavas aos actos. Assim, armados com facas, tesouras, chaves de fenda ou prosaicos descascadores de batatas têm atacado de uma forma aleatória civis e soldados israelitas, tornando-os reféns do medo. Agem individualmente e com fins suicidas. O controlo sobre eles é nulo. Não obedecem a nenhum comando. Mas, como bons nativos digitais que são, têm uma ligação umbilical ao ciberespaço. E é aí que tudo tem começado.

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A violência armada das últimas semanas tem sido espontânea e descoordenada. Mas parte da mesma fonte de instigação: posts de texto, imagens e videos, no Twitter ou no Facebook. Neste apelo à violência o punhal (ou outro objecto perfurante) assume de novo um papel preponderante. Incitam-se os seguidores a esfaquear judeus nas ruas em nome da causa palestiniana. Falou-se já de uma 3ª Intifada, ou da Intifada Facebook, que levou já a uma intervenção diplomática norte-americana e europeia.

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Chegamos assim à relação simbiótica entre terrorismo e redes sociais digitais – uma evidência, cujas consequências ainda insistimos em ignorar. Não conseguimos medir o verdeiro peso destas plataformas na instigação da violência, mas sabemos que tornam o terrorismo mais letal. Amplificam a mensagem mais que outros mass media. Nas redes sociais a disseminação ecoa, porque nunca ocorre no vácuo. Haverá sempre nativos digitais receptores. Isto é um factor determinante: consegue-se uma maior aglutinação em torno de causas ou ideias, com a condicionante de ser difícil identificar o autor do post incendiário.

Mas, para além da dimensão propagandística, ou do efeito megafone, as redes sociais influenciam a operacionalidade de grupos terroristas. Têm servido para coordenação, facilitação e apoio de acções armadas. São uma espécie de motor que une os pedaços fragmentados de redes terroristas, ajudando a incluir células ou indivíduos isolados e dispersos. Permite que estruturas emergentes e auto-organizadas actuem uniformemente em nome da mesma causa.

A nossa sensação de vulnerabilidade cresce com estes sicários digitais.

Talvez ainda não estejamos conscientes da ansiedade que as redes sociais do ciberespaço podem gerar. Mas já é tarde para as desligarmos.

(com a Global Risk Awareness)

Professor universitário; porta-voz do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo