Manuela Ferreira Leite e o nosso muito querido Marcelo, como toda a gente, não vêem obstáculos à próxima regeneração da Pátria, a não ser que venha por aí uma grande surpresa. Com certeza não repararam ainda na existência e no carácter político do Presidente Trump. Trump, para o público bem-pensante, não passa de um objecto de ódio. Mas sucede que ele é também, e com mais consequência, o representante do isolacionismo que, depois de quase 80 anos, voltou a dominar a América. Como a Inglaterra, no fim do século XIX, princípio do século XX, a América acabou por se cansar do papel de polícia do mundo, que de facto carrega desde 1941. Ainda com tropas em 17 países, está farta de guerras e de gastar dinheiro com elas. O que Trump disse em Bruxelas na inauguração do edifício da NATO (que custou mais de mil milhões) é uma clara afirmação disso mesmo. Com a sua costumada brutalidade, o homem avisou a União Europeia que tinha de pagar a sua parte na defesa comum, que 23 dos seus 28 membros não pagam, e as dívidas acumuladas no passado recente, que, segundo parece, são enormes. E para esclarecer melhor onde queria chegar não invocou, como era tradicional, o artigo 5 do tratado da Aliança Atlântica, pelo qual a América estende a sua protecção à Europa dita Ocidental. Os senhores da UE, que se fundou e cresceu ao abrigo desse guarda-chuva, não ficaram contentes. Para começar, irão ter de investir 2 por cento do PIB em armamento e, a prazo, sobre eles paira a ameaça, que Trump deixou implícita, da completa anulação das responsabilidades americanas nos assuntos da UE, que ele considera irresponsável e parasitária. A referência ao expansionismo de Putin como que dava a entender que a Europa devia tratar dele sozinha; enquanto a América trataria do equilíbrio entre as grandes potências. Ora, se assim for, a Europa, que não é manifestamente uma grande potência, cai de novo no seu antigo problema: como evitar a hegemonia alemã? Ou mesmo, a leste, a hegemonia russa?
Mais do que isto, que não é pouco, os murmúrios sobre os “excedentes” da Alemanha e a inquietação sobre a política comercial de Trump – outro sintoma do isolacionismo – provocaram uma imprevisibilidade universal pouco favorável ao investimento. Só os mestres do optimismo português andam descansados.
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A Gala da SIC, além do vexame para a humanidade que sempre foi, teve um ar póstumo, com nomes gastos, graçolas sem graça, e o velho Balsemão consolado no banho de sabujice de que ele tanto gosta. Mas, desta vez, trouxe uma novidade. A tribo que a si própria se chama “indústria do entretenimento” ou até “cultura” queixou-se muito da avareza do Estado: das fatias que lhe cortaram no orçamento; do fim de teatros que inexplicavelmente se descrevem como “independentes” (e que, de facto, só são independentes do público); do cinema que não se fez (e não fez falta a ninguém); e de maneira geral da “lei seca” a que a submeteram.
O dr. António Costa, que a tribo miseravelmente rondou em 2015, está de parabéns.