Começo com a farsa. Eu percebo que os eleitores já tenham adquirido imunidade à campanha eleitoral do PS. É verdade que já tivemos os cartazes que prometiam combater a precariedade ao mesmo tempo que não pagavam às pessoas que exibiam. Também sei que depois das cartas que querem descobrir as Índias e Brasis que há em mim, pessoa irrepetível e que não sou nenhuma fração (adicionalmente não sou, esclareço, um integral ou um número imaginário), despedindo-se António Costa de mim com um ‘afetuoso abraço’ aparentemente não havia (cogitava eu ingenuamente) margem para maiores sustos. Esperava, no máximo, que na semana antes das eleições Costa se despedisse com um beijinho repenicado.

Estava enganada. Na segunda feira viu o PS por bem informar-me que, e cito, ‘António Costa e Fernanda Tadeu casaram há 28 anos. Não houve festa mas sim um hambúrguer rápido no Abracadabra na Rua do Ouro com os padrinhos Diogo e Teresa Machado, antes de seguirem para Veneza em lua-de-mel. António sempre soube gerir a sua vida pessoal e profissional e Fernanda tem sido o seu maior apoio.’ Na imagem, Costa confessa-se utilizador de bolsas de cintura. Não contentes, o jornal de campanha do PS entrevistou Fernanda Tadeu, onde a senhora avisou que tinha identidade (não pensássemos nós que era uma raiz quadrada) e deu informações políticas relevantes sobre o marido como o gosto por terrines.

Bom, cada um dará a importância que entender ao hambúrguer de Costa, mas eu trago o assunto para aqui por uma razão que me provoca menos risos. Vamos lá ver: Fernanda Tadeu não tem qualquer interesse para o eleitorado senão por estar casada com um candidato a primeiro-ministro. Então, como conciliar estas aparições da senhora com os ataques vis que pessoas ligadas ao PS têm feito às fotografias de Laura Ferreira na comunicação social desde que está doente com cancro (e exibe corajosamente a sua cabeça sem cabelo)?

De cada vez que há uma fotografia de Laura, logo socialistas têm corrido a acusar Passos Coelho de usar a doença da mulher para fins eleitorais. O conselheiro preferido de Costa, Porfírio Silva (candidato a deputado e membro do secretariado nacional do PS), escreveu mesmo no twitter ‘Usar a doença de uma Pessoa para dourar a pílula eleitoral de alguém… é do domínio do abjeto’ (a 9/7/2015, às 14h56).

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Esta duplicidade de critérios e hipocrisia são fatores que devemos julgar moralmente, não são pormenores da campanha. Porque revelam aquilo que é verdadeiramente intolerável no PS e nas pessoas que gravitam à sua volta: o total desrespeito pela dignidade dos que não são socialistas ou mais para a esquerda.

A Passos Coelho acusam de usar a doença de Laura para caçar votos (evidentemente transferindo os motivos que teriam se acaso lhes fossem vistos os mesmo atos). E a Laura (que lá por não ser mulher de um socialista não deixa de ter também identidade) num cúmulo de desumanidade dizem-lhe ‘esconda-se, tenha vergonha de aparecer publicamente nesse estado’.

Ou então é novo exemplo da sobranceria com que o PS se movimenta pela democracia portuguesa, gritando de histeria porque Passos Coelho não esconde a família para logo de seguida contarem o casamento de Costa e lhe mostrarem a mulher. Desde quando é que os outros partidos espevitados podem fazer o mesmo que faz o PS?

Como a farsa tem o seu elemento de tragédia, vamos ao tema trágico: os refugiados que por estes dias morrem. Já muita gente escreveu sobre a necessidade da solidariedade possível (é impossível a todos, e com as restrições que a segurança europeia impuser) com estas pessoas que fogem, sobretudo, da guerra – e eu concordo, pelo que não vou repetir.

Mas, ao ler esta notícia do Público sobre os refugiados que Penela vai acolher, qualquer observador exterior me descreveria como tendo um pequeno ataque de nervos. Os refugiados, muçulmanos, vão ter aulas de português – mas mulheres para um lado e homens para outro. É mesmo isto: Portugal, um estado laico, vai gastar recursos a dobrar para dar aulas de português a refugiados, que generosamente acolheu, porque a religião destes aprova a segregação por sexos.

Como muito provavelmente já terão percebido, não tenho grande paciência para as tolerâncias europeias às barbaridades com que os islâmicos brindam o fair sex (inclusive dentro da UE). É para mim uma questão pessoal (e que faz decidir o voto) que os direitos das mulheres não sejam engavetados sempre que se trata de, em nome da sacrossanta tolerância e da fuga a epítetos de ‘racista’, contemporizar com os costumes dos países de origem dos imigrantes muçulmanos. Por isso, calhando, nas aulas (conjuntas) melhor seria explicar que por cá os sexos convivem, há igualdade de direitos constitucionalmente protegida e que é obrigação dos refugiados adaptarem-se aos costumes do país que os acolhe.

O ideal seria até dizer que na Europa essa coisa da segregação por sexos não existe no espaço público. Mas essa bonita lição já foi inviabilizada por Jeremy Corbyn, o homem que vai tornar finalmente o Labour num partido marxista. Aquilo que nem a União Soviética conseguiu, em 1979, com a infiltração do sindicalista e agente soviético Jack Jones nas altas fileiras do Labour. (Temos muito a agradecer a Margaret Thatcher por ganhar eleições.) É que o dito lunático propôs a segregação de sexos nas carruagens do metro para evitar violações. Donde: não são os homens que têm de se refrear de violar mulheres, são estas que se devem acautelar e fugir da testosterona irreprimível.

Enfim, a farsa não é exclusiva do nosso partido socialista.