Angela Merkel disse na segunda-feira que já há apoio suficiente entre os 28 Estados-membros para nomear Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão, mesmo que alguns países sejam desfavoráveis a esta escolha. Uma indireta para Cameron, que não quer Juncker no cargo de topo em Bruxelas e está a mobilizar forças no Conselho Europeu para bloquear esta escolha. A possível nomeação do principal candidato do Partido Popular Europeu para suceder a Durão Barroso pode significar a ruptura final entre o Reino Unido e a União, mas de que lado fica Merkel?
“Estou a trabalhar para assegurar que Jean-Claude Juncker tem a maioria necessária no Conselho para ser o próximo presidente da Comissão Europeia”, disse Merkel quando questionada sobre o impasse na nomeação do sucessor de Barroso. A maioria necessária neste caso é uma maioria qualificada no Conselho Europeu, o que obriga a que decisão tenha o apoio de 55% dos Estados-Membros, incluindo pelo menos quinze deles, e representando simultaneamente no mínimo 65% da população da União. Uma maioria que pode ser obtida sem o Reino Unido que se opõe de forma veemente à nomeação de Juncker.
“Mesmo que a decisão seja controversa – como sabem é preciso uma maioria qualificada para esta decisão -, deve ser tomada tendo em conta o espírito europeu. Dentro deste espírito trabalhamos sempre para alcançar o mais alto nível de consenso”, disse Angela Merkel.
Apesar de no passado Merkel ter parecido hesitante em apoiar Juncker – preferindo soluções como a nomeação de Christine Largarde para substituir Barroso -, após as eleições que deram a vitória ao PPE (e o maior número de assentos ao centro-direita) e que este ano contam pela primeira vez para a decisão do Conselho na nomeação do presidente da Comissão, a chanceler tem vindo a defender que Juncker é a personalidade indicada para o cargo. Uma opinião que não é partilhada por David Cameron, que teme a veia federalista e integralista do político luxemburguês.
Numa altura de efervescência na União e em que os radicalismos de esquerda e direita parecem obrigar o Conselho a ter em conta, mais do que nunca, o voto dos cidadãos nestas europeias, Merkel (cujo voto ponderado devido à população e à dimensão da Alemanha é o mais importante numa maioria qualificada) terá de decidir se opta por uma via de mais integração europeia em que Juncker liderará o processo e o Reino Unido ou trava o progresso comunitário, alinhando com a visão de David Cameron. Avançar com Juncker significa deixar o Reino Unido para trás e possivelmente perdê-lo como parte do projeto europeu.
Descontentamento face à UE no Reino Unido pode obrigar a referendo antecipado
David Cameron não tem largado o telefone para garantir que Jean-Claude Juncker não chega a presidente da Comissão. Com o luxemburguês no cargo de topo em Bruxelas, o primeiro-ministro britânico considera que tudo continuaria igual no seio da União e essa é uma opção que não agrada ao Reino Unido, abalado pela vitória do UKIP no domingo e ciente do descontentamento da opinião pública em relação à União Europeia.
Angela Merkel, o primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt e o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban foram alguns dos contatos feitos por Cameron nos últimos dias para travar a nomeação de Juncker pelo Conselho Europeu como candidato à presidência da Comissão. Ter um presidente da Comissão favorável a uma maior integração europeia, não é uma ideia popular no Reino Unido, especialmente para Cameron que após o resultado estrondoso do UKIP vê a tarefa de defender a permanência do país na União Europeia como uma tarefa cada vez mais difícil.
Para o cargo, Cameron parece preferir uma figura como Enda Kenny, primeiro-ministro irlandês ou Donald Tusk, primeiro-ministro polaco. Uma perspectiva que defendeu durante o jantar informal do Conselho no passado dia 27 de Maio. A nomeação do presidente da Comissão é um assunto que está a antecipar a discussão do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia. Esta consulta pública está marcada para 2017, mas segundo um artigo da Der Spiegel, Cameron não pode garantir a manutenção do país no espaço comunitário caso Juncker seja eleito.