O conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) reúne-se, nesta quinta-feira, para decidir a direção das taxas de juro, com os mercados de olhos postos em Frankfurt e já a contar com cortes no preço do dinheiro e outras medidas destinadas a combater o fantasma da deflação na zona euro.
A expetativa é a de que o BCE atue e os mercados já estão a descontar esse efeito nas negociações. Durante este mês, já foi inclusivamente noticiado, pela agência Reuters, um plano com algumas medidas que iriam ser discutidas na reunião de hoje, como cortes nas taxas de juro para novos mínimos históricos e apoios às pequenas e médias empresas (PME), mas a compra de ativos em larga escala pelo banco central ainda estava fora dos planos.
Uma das hipóteses para este tipo de quantitative easing poderia passar por o banco central deixar de fazer operações de esterilização das compras de dívida pública que fez no mercado secundário de obrigações ainda durante a vigência do Securities and Markets Program (SMP), entretanto extinto para dar lugar ao Outright Monetary Transactions (OMT), que nunca chegou a ser usado.
Para evitar um excesso de liquidez no mercado com o dinheiro que era injetado aquando da compra das obrigações, o BCE decidiu oferecer depósitos semanais aos bancos no exato montante do total das obrigações que tinha no seu balanço. Os avisos do presidente do BCE, Mario Draghi, para os riscos de uma espiral deflacionária na zona euro, que poderia provocar um longo período de taxas baixas de inflação na zona euro, criaram a expetativa de que o BCE se preparava para atuar.
Já após a última reunião do conselho de governadores, Mario Draghi disse que os bancos centrais estavam “confortáveis” com a ideia de atuar na próxima reunião e disponíveis para usar instrumentos não convencionais, se assim fosse necessário. Os analistas já fizeram as apostas, mas, na maioria, já não se questionam se vai ou não o BCE fazer alguma coisa, mas antes o que vai decidir. Caso o BCE fique aquém do que esperam os analistas, os mercados devem fazer sentir o seu desapontamento, dizem.
As expetativas são as de que a taxa de juro para as principais operações de refinanciamento seja reduzida de 0,25% para 0,1%, que a taxa de juro aplicada nos depósitos passe de 0% para -0,1%, que a taxa de juro para a facilidade permanente de cedência de liquidez (empréstimos overnight) seja cortada de 0,75% para 0,6%.
Saiba o que pensam os analistas de algumas das principais casas de investimento, segundo a agência Bloomberg:
Bank of America
BCE deve contemplar um vasto leque de medidas, mas não avança com o quantitative easing. Taxa de juro para principais operações de refinanciamento deve ser cortada para 0,1% e taxa dos depósitos para -0,1%.
Pimco
Ainda é muito cedo para dizer se o BCE avança com a compra de ativos, vai depender muito dos números do crescimento económico e da inflação nos próximos meses.
BNP Paribas
Existe uma hipótese relativamente alta de o BCE anunciar um programa de compra de ativos hoje, dado o abrandamento da inflação na zona euro.
Deutsche Bank
Uma injeção de liquidez através da compra de 200 mil milhões de euros de Asset-Backed Securities (dívidas de vários tipos, que não residenciais e dívida pública, securitizadas) ou novos empréstimos de longo prazo e corte na taxa de depósito para -0,15% ainda não estão completamente refletidas nos mercados.
Citigroup
Inflação na zona euro registada em maio aumenta a hipótese do BCE rever em baixa as projeções que divulga amanhã para a inflação e para o crescimento económico.
Goldman Sachs
Uma revisão nas projeções para a inflação, juntamente com cortes nas taxas de juro, podem provocar a desvalorização do euro. O mais provável é serem decididas medidas direcionadas para aumentar liquidez em certos setores da economia, assim como um corte de para 0,1% da taxa de juro das principais operações de refinanciamento.
Sunrise
Um corte nas taxas de juro pode não ser algo assim tão certo, porque os resultados da inflação em maio são semelhantes aos de março, em comparação homóloga.
Royal Bank of Scotland
Não é provável uma solução bombástica na reunião de hoje. A compra de ativos pelo BCE é vista como provável, nos inquéritos feitos pelo banco.
UBS
Dados da inflação suportam apoiantes de cortes nas taxas de juro pelo BCE, para 0,1% no caso das principais operações de refinanciamento e para -0,15% na taxa de depósitos.
Morgan Stanley
As três taxas devem ser cortadas em 15 pontos base na reunião de hoje. BCE pode acabar com esterilização da dívida pública comprada no mercado secundário, que ainda tem no balanço.
Credit Suisse
Bom momento nos mercados pode ser revertido se o BCE desapontar.
HSBC
BCE deve recorrer a mais medidas de estímulo nos próximos meses.
Commerzbank
As três taxas de juro de referência devem ser cortadas em 15 pontos base.
Société Generale
O BCE deve anunciar um corte nas três taxas de juro de referência, deixar de esterilizar compras de dívida pública e anunciar plano de compra de ativos na ordem dos 300 mil milhões de euros.
Market Securities
BCE deve garantir, na reunião de hoje, amplo aumento da liquidez e que as taxas de juro devem continuar baixas durante um longo período de tempo, para combater expetativas de baixa inflação.
JPMorgan
BCE deve cortar taxa de juro das principais operações de refinanciamento e a taxa de juro dos depósitos, extensão do regime em que empresta o dinheiro que os bancos pedirem (contrariamente ao que acontecia antes da crise, em que decidia um valor e os bancos faziam ofertas em forma de leilão), compra de ABS de PME e novos empréstimos de longo prazo.
Dansk Bank
BCE deve cortar taxas de juros nas principais operações de refinanciamento e na taxa dos depósitos, introduzir nova linha de empréstimos a três anos.