Uma nave da NASA lançada há 36 anos para o espaço vai este domingo passar a uma distância próxima da Terra, tal como foi programado em 1986. A International Sun-Earth Explorer-3 (ISEE-3), que foi ativada em 1978, foi reativada em junho deste ano, depois de 17 anos a orbitar o Sol sem qualquer função, o que motivou que ficasse apelidada de “nave zombie”. Passará a cerca de 15 mil quilómetros da superfície da Lua, o que é a distância mais próxima da Terra que atingirá nos próximos anos.

A reativação da nave foi promovida por um grupo de cidadãos que conseguiu fazer com que o aparelho, cujos sistemas se encontram ainda quase todos funcionais, retomasse o trabalho científico e o envio dessas informações para a Terra. A intenção do grupo era fazer com que a nave ficasse a orbitar o nosso planeta, mas a tentativa falhou porque os propulsores falharam. Assim, a ISEE-3 continuará indefinidamente na órbita do Sol, mas agora reaproveitada.

Os cidadãos que estão atualmente a controlar a ISEE-3 conseguiram reunir 160 mil dólares numa plataforma de crowdfunding e lançaram esta semana um site onde é possível perceber toda a história da nave e acompanhar a rota da ISEE-3 em tempo real. Nesse site, o grupo diz querer tornar o velho aparelho na “primeira nave da ciência dos cidadãos” [citizen science, no original].

Quando foi lançada pela NASA em 1978, a ISEE-3 orbitava entre a Terra e o Sol e foi a primeira nave a permitir o acesso científico ao fluxo de eletrões e protões dos ventos solares antes de atingirem a Terra. Depois, foi reprogramada para passar junto do cometa Giacobini-Zinner, o que conseguiu em setembro de 1985. Em 1986, Robert W. Farquhar, o responsável pelo voo da ISEE-3, definiu uma nova rota para a nave, ficando logo estabelecido que ela passaria muito perto da Lua, e daí entraria na órbita da Terra, de onde seria possível fazê-la descer de volta ao planeta. No entanto, os cálculos de Farquhar não foram feitos com total exatidão, pelo que a nave irá passar mais longe do satélite terrestre do que o inicialmente previsto.

Entretanto, a NASA substituiu os sistemas de comunicação rádio com as suas naves e as comunicações com a ISEE-3 pararam, apesar de a nave nunca se ter desligado. Em 1997, a NASA deixou oficialmente de lhe atribuir missões. O grupo de cidadãos conseguiu restabelecer contacto com a nave e deverá conseguir mantê-lo por mais quatro meses, momento em que a ISEE-3 já se encontrará demasiado longe para o alcance dos aparelhos de contacto. Dennis Wingo, engenheiro e líder do grupo – que se estabeleceu em abril e se reúne num restaurante McDonald’s abandonado – considera que “ainda há muito para aprender sobre o Sol”, o que o motivou a iniciar o projeto de reaproveitamento do ISEE-3.

Farquhar, hoje com 81 anos, e vários outros cientistas envolvidos no projeto original da nave decidiram colaborar nesta tentativa de trazer a ISEE-3 para a órbita da Terra. “Vou dizer-lhe adeus”, comentou Farquhar ao saber que o plano falhara. Ele estará no McDonald’s este domingo a acompanhar a passagem da ISEE-3, que se repetirá daqui a 17 anos.

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