Os três anos em que Portugal recebeu assistência financeira da Troika vão ficar documentados no Projecto Troika. O livro de fotografia e um documentário têm edição marcada para novembro, mas a equipa de nove autores, todos ligados à imprensa, ainda precisa de 5% de financiamento. Boaventura Sousa Santos vai escrever o prefácio.

Os despidos (de cultura, de educação e de dinheiro, pessoas que sentem que não têm nada para dar), os idosos e os cortes das reformas, a emigração e o desemprego jovem são alguns dos temas captados pelas lentes de oito fotojornalistas: Adriano Miranda, António Pedrosa, Bruno Simões Castanheira, José Carlos Carvalho, Lara Jacinto, Paulo Pimenta, Vasco Célio e Rodrigo Cabrita. Pedro Neves é o responsável por realizar o documentário, que será independente dos trabalhos fotográficos.

“Queremos mostrar as consequências e resultados na sociedade portuguesa das intervenções impostas a todos nós”, explicou ao Observador o fotojornalista do jornal i, Rodrigo Cabrita. A ideia de criar um projeto “de cariz social e histórico sobre a intervenção da Troika” foi do fotojornalista do Público Adriano Miranda, que depois falou com Lara Jacinto. “É um ato de cidadania da nossa parte”, afirmou Rodrigo, que já tinha feito parte do 12-12-12, projeto fotográfico que também deu em livro.

Os casos, “que têm a ver com as medidas impostas pela Troika um pouco por todo o país”, são uma amostra, como reforça Rodrigo. “Isto é um bocadinho da crise que nós encontrámos, não tem a presunção de mostrar a crise toda”. O livro vai ter “cerca de 200 páginas, com fotografias a cores e a preto e branco”. Rodrigo Cabrita promete “trabalhos muito bons, que valem como um todo”.

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Trabalhos nem sempre fáceis de fazer. “Houve um caso de um senhor que dormia num carro e fazia hemodiálise, não fui capaz sequer de o fotografar, tive de ir ter com a minha família. É pesado”, contou o fotojornalista. O Projecto Troika “vai ser um bom documento para refletir, para olharmos para o nosso passado, presente e futuro. Hoje são eles, amanhã podemos ser nós”, disse.

A Troika já é passado. Mas, para Rodrigo Cabrita, a crise ainda é presente. “Duvido muito que se fizéssemos uma ronda pelas pessoas que fotográfamos a ver se estavam no mesmo sítio, provavelmente estão lá. Nada mudou”.

Para além do tempo, os nove autores têm investido dinheiro do seu bolso. Dizem não querer lucro, mas as economias não chegam para levar o Projecto Troika até às bancas. Quem quiser contribuir para os 5% que faltam pode fazê-lo no site do projeto. As modalidades vão desde um euro até aos 50 euros. Quem doar cinco euros, por exemplo, recebe depois um postal com uma das imagens do Projecto Troika assinado pelo autor. Quem fizer uma doação de 30 euros recebe o livro em casa, assim que esteja nas livrarias.