A economia pode crescer ainda menos que o esperado na revisão em baixa feita pelo Governo no cenário macroeconómico, incluído no segundo Orçamento Retificativo deste ano, e que será discutido hoje no Parlamento, calcula a Unidade Técnica de Apoio Orçamental. A UTAO admite que fique apenas pelos 0,8% do PIB, 0,2 pontos abaixo do estimado pelo Executivo.
Na versão preliminar da análise, a que o Observador teve acesso, a UTAO fez cálculos ao que esperariam ser a evolução do PIB nos últimos dois trimestres do ano, tendo em conta o perfil histórico do crescimento económicos nos últimos dois trimestres do ano. E para a economia crescer 1% na totalidade de 2014, o PIB teria de crescer em média 0,5% nos últimos dois trimestres do ano.
Mas, dizem os técnicos, a variação em cadeia histórica, calculada pela UTAO, é de um nível muito inferior: apenas 0,14%.
Caso as contas dos técnicos se verifiquem, a economia cresceria apenas 0,8%, abaixo dos 1% apontados pelo Governo no orçamento retificativo. Esta previsão do orçamento retificativo já era uma revisão em baixa face ao último cenário oficial do Governo, que apontava para um crescimento de 1,2% do PIB, no Documento de Estratégia Orçamental apresentado no final de abril.
Os técnicos deixam, no entanto, o alerta de que estas contas têm muita incerteza em seu redor e que já aconteceu, como em 2013, um crescimento mais expressivo na parte final do ano.
Caso se concretize o cenário, os técnicos lembram as contas do Governo no DEO que dizem que cada queda de 1 ponto percentual no PIB pode implicar um aumento do défice em 0,3% do PIB e do valor da dívida pública em 1,6 pontos percentuais do PIB nominal.
Este efeito pode ser mais leve, considerando o perfil de crescimento traçado pelo Governo. O ajustamento feito aponta para que a economia esteja mais apoiada no consumo privado – de elevado conteúdo exportador – que paga impostos e, assim, ajuda a melhorar o saldo orçamental.
Exportações perdem quota de mercado?
Esta alteração do perfil de crescimento pode trazer algumas dores de cabeça para o ajustamento externo da economia. A UTAO diz que pediu mais informação ao Ministério das Finanças sobre a redução das exportações no cenário macroeconómico.
As Finanças responderam dizendo que não se espera uma queda na procura externa líquida dirigida à economia portuguesa, o que, explica a UTAO, pode significar que as empresas portuguesas estão novamente a perder quota de mercado.
Taxa de desemprego desce, mas…
O Governo voltou a reduzir a taxa de desemprego que prevê para este ano. No DEO esperava que o desemprego atingisse os 15,4% e agora, no Orçamento Retificativo, espera que atinja os 14,2%.
No entanto, a UTAO explica que para a taxa de desemprego cair para os 14,2%, com um crescimento previsto do emprego de 1,7%, uma parte desta vai ter de ser feita através da redução da população ativa.
Ou seja, existem menos pessoas consideradas no universo que é usado para calcular a taxa de desemprego, o que faz com que a taxa em si seja mais baixa.
Para atingir este resultado, diz a UTAO, a população ativa tem de cair 0,6%. Este valor contrasta claramente com a previsão que o Governo fazia em abril no DEO, quando esperava que a população até crescesse, embora de forma marginal, em 0,1%.