O xadrez político do próximo ano joga-se primeiro nas eleições legislativas, mas para o primeiro-ministro há muita gente no partido com aspirações políticas que já só pensa nos efeitos que este Orçamento do Estado tem… nas presidenciais. Numa reunião com as distritais do partido esta quinta-feira, Passos Coelho disse que pessoalmente não apoiaria nenhum candidato que ande a falar contra o partido, leia-se contra o Governo. Uma frase que foi entendida por muitos como dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa, mas também a Marques Mendes ou a Rui Rio, que nos últimos tempos tem criticado as opções do Executivo.

A reunião ocorreu esta quinta-feira à noite, durante um jantar na sede do PSD, em Lisboa, que terminou pelas ooh30 de sexta-feira.

O assunto não foi puxado à mesa da reunião por nenhum dos presidentes das distritais, mas pelo próprio Pedro Passos Coelho que, na abordagem que fez ao calendário eleitoral de 2015 manifestou o desagrado por alguns sociais-democratas estarem a pedir uma antecipação das eleições legislativas. E foi aí que disse que há “alguns” candidatos do partido “preocupados com o calendário das legislativas” e que isso só pode querer dizer que estão “preocupados com o apoio” do partido do Governo que desenhou o Orçamento para 2015. Para Passos Coelho, muitos dos que na área do PSD criticam o orçamento querem ter as mãos livres de apoios para se lançarem nas presidenciais, contaram ao Observador várias fontes do PSD.

Ora, perante a crítica, Passos Coelho deu nova tónica à frase que escreveu na moção quando disse que não apoiaria “cata-ventos” da opinião pública. E disse que este é um “tempo de combate político” e quem não está a travá-lo, ou que está a embarcar nos argumentos da oposição, não pode contar com o apoio pessoal de Passos Coelho. Ainda referiu que “o partido pode apoiar quem decidir”, mas que pessoalmente está fora de questão um apoio a quem “tem andado a falar mal do partido”.

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A declaração foi, assim, também entendida como um abrir de porta a uma eventual candidatura de Pedro Santana Lopes, que não tem escondido a vontade em poder vir a apresentar-se às presidenciais de janeiro de 2016, e que é apoiante deste Governo.

Mas na análise de Passos Coelho, na altura de escolher um candidato presidencial, será ele o líder do partido uma vez que fez passar a ideia aos presentes que iria ganhar as eleições legislativas. Nunca se referiu a António Costa, mas falou genericamente do PS para dizer que as dificuldades do Governo se prenderam com os envios para o Tribunal Constitucional de legislação por parte (também) do PS.

A linha de estratégia de defesa do primeiro-ministro está montada há algum tempo, e nesta reunião com presidentes das distritais do partido, para analisar o Orçamento do Estado para 2015, Passos Coelho referiu-se ao Orçamento como não tendo sido fácil de adotá-lo, mas que acredita no “bom senso” dos portugueses. Ou seja, disse Passos que acredita que nas eleições legislativas, os portugueses vão saber distinguir entre a responsabilidade do PSD e o resto. “Não vamos ganhar eleições a baixar impostos nem a aumentar salários”, disse segundo relato feito ao Observador. E terá mesmo desabafado que se pudesse “teria baixado” os impostos.

De qualquer forma, manifestou-se convicto que será capaz de ganhar as próximas legislativas, admitindo que as condições são “complexas” mas que tem argumentos a seu favor, como ter conduzido o país a uma saída do resgate.

O primeiro-ministro não se referiu a Paulo Portas ou às negociações sobre orçamento. “Nunca fala diretamente de Portas”, disse ao Observador fonte do PSD.

Passos Coelho tem reunido com os líderes das distritais do partido para apresentar as linhas gerais dos orçamentos do Estado deste Governo e fê-lo novamente este ano. E para que a argumentação chegue às bases do partido, vão ser organizadas sessões de apresentação do documento pelas secções do partido por vários responsáveis do Governo e do partido. Uma iniciativa à semelhança da que tem sido feita em anos anteriores.