Pedro Passos Coelho terá ficado com poucos aliados, mas não desistiu de lutar por uma maior ligação da península ao mercado interno europeu de energia e o finca-pé em Bruxelas deu resultados. Nesta madrugada, o Conselho Europeu decidiu que são necessárias medidas “urgentes” para atingir, no caso português, o mínimo de 10% de interconexões – estruturas que permitem transmissão de eletricidade e a sua comercialização entre países – até 2020. Esta percentagem terá de aumentar até 2030 para 15%. A meta traçada permitirá aumentar as exportações de energia para o mercado europeu.
Mais, a Comissão ficará encarregue de acompanhar o progresso destes países – Espanha e países Bálticos também foram abrangidos – e informar o Conselho “de todas as formas possíveis de financiar as redes energéticas destes países para cumprirem o prazo de 10% até 2020”, pode ler-se nas conclusões desta reunião dos 28 Estados-membros. O primeiro-ministro já tinha descrito Portugal e Espanha como “uma ilha energética, pois o grau de interligação com França – única forma terrestre de escoar energia para os restantes parceiros europeus – é de apenas 2% e que por isso não deixaria cair o tema, mesmo em frente a François Hollande – que prefere apostar na energia nuclear, em vez de receber energias renováveis da Península.
O Financial Times descreve que Passos Coelho terá ficado isolado depois de Mariano Rajoy ter “deixado cair o assunto”, e assim coube a Portugal bater-se pelos “ibéricos”. O espanhol ter-se-á queixado das reticências francesas em construir as linhas energéticas nos Pirenéus, mas terá sido o primeiro-ministro português a ameaçar que não haveria acordo caso novas metas não fossem instituídas. “Em última análise, Portugal e Espanha ganharam a sua batalha para assegurar que as redes europeias de energia estão melhor interligadas”, escreve o jornal.
Esta reunião do Conselho Europeu vem no seguimento do que tem vindo a ser discutido após a conflito entre Rússia e Ucrânia ter demonstrado que faltava segurança energética ao abastecimento da União Europeia, não só pela alta dependência de muitos países face ao gás de Moscovo, mas também porque a estratégia energética estava a ser pensada país a país e não como um todo, fazendo com que os excedentes produzidos em Portugal ou Espanha não chegassem aos restantes Estados-membros. As metas de 2030 aprovadas esta noite, não só definem que até esse ano as emissões de carbono têm de ser reduzidas 40% face a 1990, como ainda que 27% da energia europeia em 2030 tem de vir de energias renováveis.
Vinho português na última cimeira de Barroso
Os líderes europeus beberam vinho português no jantar desta cimeira que decorreu em Bruxelas, a última de Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia.
Na conferência de imprensa, em que deu conta do acordo alcançado, Durão Barroso terminou a dizer que, no jantar, os líderes europeus beberam cerveja belga e vinho português da região do Alentejo. Esta foi uma forma de marcar as saídas de Durão Barroso da liderança da Comissão Europeia, de que foi presidente durante 10 anos, e de Van Rompuy da presidência do Conselho Europeu. Aliás, o belga levou hoje os netos para a sua última cimeira.
O novo presidente do Conselho Europeu será o polaco Donald Tusk, enquanto o luxemburguês Jean-Claude Junker subtituirá Barroso na liderança da Comissão Europeia nos próximos cinco anos, a partir do início de novembro.