Partida no Canadá, passagem por Roma, pelo Vaticano, chegada em Washington e Havana, pelo telefone.
É esta a geografia do histórico acordo alcançado entre os Estados Unidos da América e Cuba. A agência Reuters conta que na primavera de 2013 o presidente norte-americano, Barack Obama, autorizou um dos seus colaboradores mais próximos a levar a cabo conversações secretas com o país liderado por Raul Castro. A Reuters refere que o caminho escolhido foi o mesmo que abriu a porta às negociações com o Irão sobre a questão do nuclear.
No discurso em que anunciaram ao mundo que as relações diplomáticas entre Cuba e os EUA serão reatadas, Barack Obama e Raul Castro enalteceram a importância que o Papa teve no desfecho. Obama agradeceu – “Obrigado. Especialmente ao Papa Francisco” – e Raul Castro também enalteceu a participação de Bergoglio – “por facilitar a negociação entre ambos os países”.
Passados apenas alguns minutos das respetivas declarações de Castro e Obama, a secretaria de estado do Vaticano fez saber que “ao longo dos últimos meses” Jorge Mario Bergoglio escreveu a ambos os líderes “convidando-os a resolver questões humanitárias de interesse comum, como a situação de alguns detidos, para dar início a uma nova fase das relações entre os dois países.”
Depois de vários meses de encontros no Canadá, as conversações entre as duas partes avançaram, em outubro deste ano, para Roma. No Vaticano reuniram-se as delegações de ambos os países.
O epílogo da “histórica decisão”, como lhe chamou a secretaria de estado do Vaticano, escreveu-se em dois gabinetes. Durante cerca de uma hora Barack Obama e Raul Castro limaram as arestas do acordo que envolveu a libertação de três presos cubanos que estavam na Flórida (Gerardo, Rámon e Antonio) e de um norte-americano detido em Cuba desde 2009, Alan Gross.
Da conversa tida ao telefone saiu o compromisso:
- Os Estados Unidos vão reabrir a embaixada em Havana, encerrada há mais de 50 anos, rever a designação de Cuba como um Estado que apoia o terrorismo (o país foi colocado nessa lista em 1982) e aliviar as restrições a viagens e relações comerciais
- Cuba comprometeu-se a libertar 53 prisioneiros identificados como presos políticos pelos Estados Unidos
Apesar do sucesso das negociações que começaram no Canadá há um ponto que continua, pelo menos para já, por resolver, e Raul Castro até sublinhou que é o mais importante, o embargo imposto a Cuba pelo congresso norte-americano em 1961 – “o bloqueio tem muitos prejuízos humanos e económicos para o nosso país e deve terminar”, disse Castro. Mas se esta ponta continua solta, a julgar por aquilo que também disse Barack Obama – “Estes cinquenta anos demonstraram que o isolamento não funciona” – poderá não tardar muito até que seja atada.