Será desta que o Parlamento vai ter a lista dos clientes do BES Angola que estavam cobertos pela garantia soberana de Luanda? O PS e o PSD apresentaram requerimento a pedir a Paulo Morais que forneça à comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do Banco Espírito Santo (BES) e Grupo Espírito Santo (GES), o anexo que identifica os beneficiários da garantia assinada por José Eduardo dos Santos.

O pedido surge na sequência de declarações do responsável da associação Transparência e Integridade, segundo os quais tem documentos que permitem identificar muitos dos clientes dos créditos de alto risco que foram concedidos pelo BESA. Em declarações à Rádio Renascença, Paulo Morais, revela que na lista de empréstimos estava, à cabeça, a Marta dos Santos, irmã do presidente José Eduardo dos Santos, que teve um crédito de 800 milhões de dólares, para desenvolver em Talatona um projeto imobiliário que teria sido promovido em parceria com o empresário português José Guilherme, o construtor que deu os 14 milhões a Ricardo Salgado.

Paulo Morais refere ainda outras figuras do comité central do MPLA que terão também obtido empréstimos sem prestarem qualquer garantia ao banco. Acrescenta que muitos desses financiamentos tiveram como destino a realização de investimentos em Portugal, designadamente no setor imobiliário. A garantia soberana cobria financiamentos de 5700 mil milhões de dólares, dos quais cerca de metade, entre dois a três mil milhões de dólares, estariam já em situação de incumprimento quando o documento foi assinado pelo presidente angolano.

Os deputados da comissão de inquérito têm pedido a várias personalidades e entidades o anexo à garantia “firme, definitiva e irrevogável” que o presidente José Eduardo dos Santos assinou no final de 2013 a favor do BESA e do seu acionista e que revogou logo a seguir à resolução do Banco Espírito Santo.

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O tema voltou a estar em evidência esta semana na audição do antigo presidente do BESA. Rui Guerra recusou-se sempre a identificar os clientes e operações, invocando a lei angolana de sigilo bancária. Apesar de todos os mutuários desses empréstimos estarem identificados, nem em todos os casos se conhecem os beneficiários últimos, ou seja, os acionistas, destas operações, revelou.

A garantia salvou as contas do BESA e do próprio BES que ficou dispensado de constituir provisões para as perdas que teria na participada angolana a quem emprestou 3,3 mil milhões de euros. Foi graças a este financiamento que o BESA concedeu elevados montantes de crédito sem garantias e de alto risco.

Rui Guerra confirmou a existência de dois anexos, um com os clientes dos empréstimos beneficiados, e outro com os imóveis associados a estas operações. Diz que a lista foi elaborada pelo BESA, com o apoio do auditor, a KPMG Angola, e as autoridades angolanas. No BES ninguém teria conhecimento dela. Também não há indicação de que o Banco de Portugal conheça o anexo.