O povo português e o povo grego têm um interesse comum em resolver o problema da dívida e alterar a atual arquitetura económica e financeira da UE, afirmou à agência Lusa o ministro-adjunto grego para as relações económicas internacionais.

“Um dos interesses em comum, sejam governos de centro-direita, de centro-esquerda ou de esquerda, penso que consiste em alterar a médio prazo a arquitetura económica e financeira da União Europeia (UE), que atualmente prejudica as economias soberanas e periféricas”, considerou Euclid Tsakalotos, 55 anos, numa entrevista por telefone a partir de Atenas.

O responsável grego sublinha que “os líderes portugueses e espanhóis” também “têm todo o interesse” em alterar esta situação e resolver o problema da dívida, “mesmo que possuam uma convicção política diferente da nossa”, antes de argumentar que a união monetária europeia “não é propriamente uma união monetária, no sentido da que existe nos Estados Unidos, Austrália ou Canadá”.

Ainda numa referência a Portugal, e no rescaldo do contencioso que opôs Lisboa e Madrid a Atenas no âmbito das negociações do Eurogrupo sobre a Grécia, o ministro-adjunto, considera “absolutamente crucial que o povo português entenda que aquilo que o Governo grego reivindica sobre a sua dívida não é apenas positivo para o grego comum, mas também para o português comum ou o espanhol, e mesmo para o holandês ou alemão…”.

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O ministro-adjunto eleito por duas vezes deputado pelo partido da esquerda radical Syriza, que dirige o Governo da Grécia após a vitória nas legislativas de 25 de janeiro, aposta numa Europa “liberta da armadilha da dívida”, incluindo a França ou o Reino Unido que também assistem ao “aumento do rácio da dívida face ao PIB” devido às políticas de austeridade.

“Isso foi exatamente o que aconteceu nas décadas de 1920 e 1930. Cortes nas despesas e aumentos dos impostos não reduz o peso da dívida em percentagem do PIB, que pelo contrário se torna ainda maior”, frisa.

Após definir a zona euro como “o ‘homem doente’ da economia mundial” em particular devido aos “anos de estagnação com efeito dilatório no resto do mundo”, o membro do Executivo de Atenas sugere que os designados países periféricos da UE encontrem uma solução que inclua a “mutualização” da dívida e a alteração das políticas de austeridade.

“Porque não há forma de Portugal, Espanha ou a Grécia recuperarem a sua competitividade se o problema da dívida não for resolvido, se a Alemanha insistir em possuir enormes excedentes comerciais, se não existir um aumento da cooperação entre as economias”.

Euclid Tsakalotos lamenta no entanto que “diversos líderes europeus, não necessariamente os portugueses” estejam mais preocupados na reação negativa das populações às suas políticas “em vez de demonstrarem coragem para criar novas bases numa Europa de iguais”.

O ministro-adjunto grego pugna assim por uma Europa “que vá para além da austeridade” e enfrente a realidade de que as políticas dos últimos cinco anos “não resultaram” e pelo contrário contribuíram para o aumento do desemprego e da pobreza.

“É necessário um novo modelo que coloque os interesses das pessoas no centro”, sustém, sem deixar de referir que estas ideias “estão de novo a irromper” nas instituições financeiras mundiais, como na OCDE ou FMI.

Ao abordar as consequências políticas do atual cenário, e dirigindo-se de novo “aos líderes portugueses e espanhóis”, diz que “se a Grécia for humilhada” os ganhos não reverterão para os partidos moderados do centro-esquerda ou da centro-direita “mas para as forças políticas nacionalistas e centrífugas”.

E precisou: “Se o Governo grego for humilhado, ou derrotado, ou expulso do euro, isso será uma mensagem para muitas pessoas de que esta Europa não está preparada para as reformas, que não está aberta às mudanças democráticas, que não tem capacidade para assumir as questões sociais como o combate ao desemprego, melhores práticas laborais, melhores reformas…”.

No entanto, o ministro-adjunto fez questão de concluir com uma nota positiva, antes de considerar que os “bons resultados eleitorais” do partido da esquerda radical na Grécia se deveram ao facto “de o centro-esquerda em particular, e nos últimos dez, 15 anos, não ter sido capaz de avançar com uma agenda de salários, pensões, reformas, Estado social, afinal as necessidades das pessoas”.

Ao mencionar os últimos “30 anos de neoliberalismo, onde os partidos se tornaram conchas vazias” sustentou que as formações de centro-esquerda e centro-direita têm demonstrado incapacidade de resposta.