A VII Cimeira das Américas começa esta sexta-feira no Panamá com a presença de 35 dirigentes do continente americano, incluindo os presidentes norte-americano e cubano, que se reunirão para continuar o processo de reconciliação entre os respetivos países. O encontro acontece depois de John Kerry e Bruno Rodriguez, os responsáveis diplomatas dos dois países terem estado reunidos.

O encontro bilateral entre Barack Obama e Raúl Castro decorrerá, é certo, à margem da cimeira, mas Cuba estará pela primeira vez nela representada, e o chefe de Estado norte-americano declarou, em entrevista à agência de notícias espanhola Efe, que após o histórico anúncio de normalização das relações diplomáticas, feito em dezembro, os diálogos bilaterais empreendidos com Cuba constituem “as negociações mais intensas e de mais alto nível das últimas décadas” entre os dois países.

Embora convencido de que os respetivos diplomatas estão a fazer “progressos significativos” e de que poderão proceder à reabertura das embaixadas, Obama acrescentou que essa é “apenas uma parte” do processo de normalização das relações diplomáticas, cortadas desde 1961, e que os Governos de Washington e Havana já iniciaram conversações sobre outros temas, como a aviação civil, direitos humanos e telecomunicações.

A reunião entre os dois presidentes acontece depois de uma outra reunião entre John Kerry e Bruno Rodriguez, que estiveram reunidos, na véspera da Cimeira das Américas. O Departamento de Estado norte-americano publicou, na sua conta na rede social Twitter, uma fotografia mostrando um aperto de mão entre o secretário norte-americano e o ministro dos Negócios Estrangeiros cubano, no primeiro encontro entre chefes da diplomacia de ambas as nações em mais de meio século.

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Outro dos participantes será o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que, também em entrevista à Efe, sublinhou a importância da “histórica presença” de Cuba na Cimeira das Américas para “acelerar a normalização das relações” entre os dois países.

O responsável das Nações Unidas tem também agendada uma reunião com Castro à margem da cimeira e adiantou que tenciona pedir-lhe que continue a caminhar no sentido da reconciliação com os Estados Unidos, na qual os dois Governos têm trabalhado nos últimos meses.

Um escândalo de corrupção em grande escala no Brasil, um massacre de estudantes que envolve a polícia no México, o assassínio misterioso de um procurador na Argentina e a queda da cotação das matérias-primas marcam também o contexto em que vários chefes de Estado americanos chegam a esta cimeira de dois dias.

Por estas razões, alguns, como a chefe de Estado brasileira, Dilma Rousseff, ou o Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, preferirão deixar para os outros a tarefa de atrair atenções, dando, por exemplo, espaço ao Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para provocar os Estados Unidos após as recentes sanções impostas por Washington a alguns responsáveis venezuelanos.

Outros aliados da Venezuela, como o equatoriano Rafael Correa, o boliviano Evo Morales ou o nicaraguense Daniel Ortega deverão seguir as passadas de Maduro, o que poderá ter consequências na forma como se desenrolará a cimeira.

A propósito da Venezuela, Obama disse já que nem os Estados Unidos nem o continente americano devem “manter silêncio” perante a situação naquele país, que atualmente enfrenta “enormes desafios” e com cujo Governo Washington continua aberto ao “diálogo direto”.

Na opinião do Presidente norte-americano, o “diálogo interno” para encontrar “uma solução política para as divisões que fragmentam a sociedade venezuelana” é o “melhor caminho” para aquele país latino-americano.

Ausente da cimeira estará a Presidente chilena, Michelle Bachelet, que resolveu não se deslocar ao Panamá na sequência de um escândalo financeiro que envolve o seu filho e afetou a sua credibilidade, tendo mesmo suscitado rumores de demissão. Graves inundações no norte do país contribuíram igualmente para a sua decisão de não participar.

Também a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, marcará presença no encontro, que aproveitará para manter reuniões bilaterais com diversos líderes americanos. Será, aliás, a primeira vez que a UE se faz representar neste fórum, tencionando debruçar-se sobre “temas de interesse mútuo”, como o desenvolvimento sustentável, a segurança, o ambiente e as alterações climáticas.