De acordo com Sandra Duarte Cardoso, presidente daquela organização não governamental (ONG), legalmente constituída há dez anos, só falta que a Ordem dos Médicos Veterinários reconheça o diretor clínico da instituição. A Lusa contactou a Ordem para tentar perceber porque ainda não foi passada a acreditação do responsável, mas até ao momento não recebeu qualquer esclarecimento.

O hospital, onde há duas salas de consultas, uma de raio-x, um laboratório de análises, um bloco de cirurgia e três enfermarias (uma para gatos, outra para cães e uma outra para os casos infetocontagiosos), ocupa uma loja do Bairro da Horta Nova, arrendada à Câmara Municipal de Lisboa.

As obras de recuperação e adaptação do espaço, que estava “em muito más condições”, demoraram cerca de três anos e meio, contou à Lusa Sandra Duarte Cardoso. As intervenções foram sendo feitas “aos poucos” com recurso a verbas da associação, dinheiro arrecadado em ações pontuais, doações do “maior mecenas” da SOS Animal (um hotel em Lisboa) e até da família de Sandra.

Quando funcionar, o hospital, cujo modelo “existe em vários pontos do mundo”, terá quatro tabelas de preços: uma normal, para o público em geral, uma outra para os associados, associações e colaboradores da SOS Animal e duas para pessoas carenciadas, devidamente sinalizadas. “Essas pessoas vão ter acesso aos cuidados médico-veterinários com preços controlados (pagarão o preço de custo) ou se não tiverem rendimentos não pagam nada”, explicou a responsável.

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O facto de este ser “um bairro muito carenciado”, vizinho de outro em condições semelhantes, o Bairro Padre Cruz, fez com que a SOS Animal optasse por instalar ali o hospital, “não só para dar apoio médico-veterinário e de saúde pública (neste bairros há situações de adultos e crianças com doenças passadas pelos animais), mas também para trabalhar com os moradores no aspeto de formação cívica e respeito pelos animais”. Além disso, a associação pretende “criar postos de trabalho e também bolsas de estudo, para fomentar vontade e gosto em trabalhar com os animais”.

Moradores do bairro lamentaram à Lusa que o equipamento, que “faz tanta falta”, esteja de portas fechadas. “Não se admite que esteja aqui uma coisa tão perfeita e tão perto de nós e esteja fechada, que haja uns entraves para não deixar isto abrir”, disse Albano de Almeida, que tem uma cadela e um gato que resgatou da rua. Referindo que no bairro há “dezenas de cães”, o morador lamentou ter que ir “a uma clínica longe” de cada vez que os animais precisam de alguma coisa. “Poupava não só em transportes como em consultas. A gente sabe como são as clínicas privadas, eu sei porque já me tocou no corpo”, disse.

Também Luísa Joaquim, vizinha da Horta Nova, considerou “uma pena” o hospital não abrir, porque “há muita gente que precisa da SOS para os animais que tem”. “Aparecem muitos animais abandonados porque as pessoas não têm dinheiro para irem para as clínicas. Eu sei porque tive dois animais, foi uma fortuna que eu gastei e ao fim ao cabo eles morreram”, recordou. Luísa já não tem animais em casa, mas, com a amiga Maria Leopoldina Carolino, trata e alimenta cerca de uma dezena de gatos de rua.

“Há pessoas que nos ajudam, dão-nos ração. Vamos lá tratar deles todos os dias”, contou Maria Leopoldina, referindo que “as pessoas não têm possibilidades de levar os animais ao veterinário, as clínicas privadas são um balúrdio, e acabam por abandoná-los”. Maria Leopoldina acredita que o hospital “ia facilitar muito”, porque assim, “as pessoas que não têm poses acabavam por não abandonar os animais”.

A presidente da SOS Animal lamentou não poder ajudar a população, referindo que “as pessoas às vezes não compreendem e ficam tristes com a associação”. “Mas se atendemos temos um problema grave legal. Nós não podemos fazer qualquer tratamento médico-veterinário dentro do hospital até termos licenciamento, senão estamos a recorrer numa contraordenação que implica uma coima muito grande que pode inviabilizar o projeto”, explicou.