À primeira quarta-feira de cada mês era certinho. Reservava-se o dia para o jejum e a penitência, a bem de uma causa maior, o “alívio da peste negra”. O temor pela doença pulmonar era muito e percebia-se: no final da Idade Média, a peste que também ficou conhecida por bubónica reduziu em quase um terço a população europeia da época. Por isso, a bem da cautela, em 1665 uma lei obrigou os irlandeses a pouparem a barriga para prevenir a propagação da peste — e fê-lo até hoje. Isto quando uma epidemia da doença é coisa que já não se vê na Europa há mais de 100 anos.

E há mais, porque, agora, as batatas e a farinha de trigo deixaram de ser alimentos que deviam ser reservados aos pobres. Ou às “classes inferiores”, como se lia na lei que perdurava desde 1817. Só a partir desta segunda-feira é que qualquer irlandês as poderá comer quando quiser, já que apenas agora é que estas duas leis foram abolidas pelo governo.

É isso mesmo: na Irlanda ainda vigoravam quase seis mil leis com mais de 194 anos. O Irish Times não deixou escapar a ocasião e escolheu algumas das leis mais inusitadas que ainda estavam em vigor. Uma, datada de 1533, ainda proibia as críticas ao casamento do rei britânico Henrique VIII com Anne Boleyn, a sua segunda mulher (a Irlanda apenas se tornou independente do Reino Unido em 1921). Outra, proclamada em 1618, ainda obrigava pessoas residentes nas Plantações de Ulster (uma província do país) a abandonarem terrenos que foram colonizados por escoceses e ingleses.

Esta medida, denominada de Statute Law Revision Bill, surge na sequência do esforço que o governo irlandês tem feito, nos últimos 13 anos, para “limpar” o sistema legal do país de leis que “não serviam qualquer propósito além de confundir quem tentava ler o statute book [o equivalente à constituição do país]”, como defendeu Simon Harris, ministro da Reforma e da Despesa Público irlandês. Esta foi a quinta lei deste tipo que foi aprovada durante este período e aboliu 5.782 leis.

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