Discrição. É um “acordo de cavalheiras” quando, entre elas, perguntam baixinho: “Tens um tampão?” Principalmente se a espécie masculina estiver por perto. Mas, apesar também no máximo da discrição, não há maneira de ignorar a publicidade e o marketing que, atentos a tudo, criam pensos higiénicos e tampões cada vez mais pequenos (ou seja, mais discretos), ao mesmo tempo que os criativos anúncios publicitários mostram mais leveza e felicidade nessa altura do mês: “A publicidade recria situações onde supostamente nos sentimos incomodadas, quando o normal seria que as mulheres gerissem a sua menstruação como quisessem”, diz Lara Alcázar, presidente do grupo feminista Femen, ao El Pais. Mas se a publicidade e o desconhecimento ostracizam o período menstrual das mulheres, há quem queira desmistificar o assunto. É o caso de professoras, psicólogos, grupos feministas, ONG e até de um produtor de programas infantis que quer ensinar as crianças desde cedo.

Sharra Vostral, autora do Under Wraps: a History of Menstrual Tecnology (ainda sem edição em português) é um desses casos. A professora universitária escreve no livro que os tampões “são uma invenção tecnológica para esconder que as mulheres sangram”. “A sociedade ocupou-se a fazer-nos sentir culpadas e empurra-nos para o desconhecimento do corpo e da sexualidade, assim como para acreditar que o nosso sangue é sujo e humilhante. É parte da nossa natureza e não há nada nele que nos deva envergonhar. Pelo contrário, há-que valorizar como uma parte da libertação dos nossos corpos”, acrescenta.

Mas também há homens que têm a mesma opinião: Pelo menos alguns: “Sem dúvida, uma sociedade mais igualitária não repudiaria o feminino e não faria com que uma mulher se sentisse suja por falar abertamente da sua menstruação. Se fossem os homens a ter [o período] o tratamento seria bem diferente”, acredita José Bustamante Bellmunt, psicólogo especialista em sexualidade e casais, e vice-presidente da Associação de Especialistas em Sexologia. Também escreveu o livro Em que Pensam os Homens?

Saúde em risco

Só 12% das meninas e mulheres têm acesso a produtos de higiene íntima em todo o mundo e uma em cada 10 crianças falta à escola em África quando tem o período, de acordo com a Plan Internacional. Por causa disso, a ONG espanhola decidiu montar uma campanha em junho: a falta dos cuidados básicos de higiene durante a menstruação é um risco para a saúde de milhares de meninas nos países em vias de desenvolvimento. No Reino Unido, por exemplo, a campanha #justatampon, levou milhares de anónimos e de pessoas conhecidas a partilharem fotografias nas redes sociais, com um tampão, para quebrar o tabu e arrecadar fundos para levar pensos higiénicos e tampões para as mulheres que não podem comprá-los.

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Em Portugal, o Pan (Pessoas-Animais-Natureza) sugere que se distribuam copos menstruais nas consultas de planeamento familiar, para minimizar o custo – para o bolso e para o ambiente –  e até já existe um que pode ser controlado através de uma aplicação.

Para Alcázar, a presidente do grupo feminista espanhol, esconder o período é um símbolo de desigualdade de géneros. Acabar com o estigma não obriga a pedir um tampão aos gritos (não deixa de ser um acto íntimo), mas a deixar de esconder, de segregar, ou de ficar envergonhada porque um dos tampões que costuma estar mala decidiu espreitar quando a abriu. No fundo, diz, por as coisas a nu: a realidade é que as mulheres sangram. E não há que ter vergonha disso.

Tampões Fantoche

Da Suécia chega outra notícia sobre o tema (esta um pouco mais engraçada): há um novo vídeo a fazer sucesso no canal de crianças sueco. Os protagonistas? Uns tampões dançarinos. Sim, uns tampões que dançam. A ideia é ensinar às crianças o funcionamento do corpo humano, desmistificando o período.

Os fios dos tampões servem para lhes dar movimento, como aos fantoches. Também há mergulhos num copo com líquido vermelho e alguns esguichos, mais graffitis com gotas de sangue.

Deixamos o refrão:

Período, período, hip hip hooray para o período!
O corpo está a trabalhar como deve
E isso é muito, muito bom – hooray!

Cante. Ou então não. De uma forma ou de outra, não tenha vergonha disso.

Pode ver a versão traduzida para inglês aqui.