O fundador e ex-líder do CDS acredita que, a verificar-se a queda do Governo de Passos Coelho, Aníbal Cavaco Silva só tem duas saídas possíveis: ou dá posse a um Executivo liderado por António Costa ou nomeia um Governo de iniciativa presidencial, pensado para três meses e com o acordo dos líderes dos dois principais partidos.

Em entrevista à TVI, Freitas do Amaral defendeu que se o Presidente da República “quiser ser um Presidente cumpridor da Constituição e seguidor das praxes das democracias parlamentares europeias”, então, “tem a obrigação constitucional de empossar” um Governo de esquerda. Essa seria, pelo menos, a solução escolhida pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, que, segundo o Correio da Manhã, almoçou esta terça-feira com o líder socialista.

Caso contrário, se Cavaco Silva evocasse um “problema de consciência” que o impedisse de dar posse a António Costa, poderia então tentar um “Governo de independentes“, pensado para três meses, com o acordo dos líderes dos dois principais partidos. Mesmo considerando essa solução “legítima“, Freitas do Amaral acredita que seria “muito difícil de concretizar“.

Se as duas soluções são legítimas, a terceira hipótese – a de Cavaco Silva manter o Governo de Passos em gestão – seria “verdadeiramente dramática“. Freitas do Amaral lembrou, a propósito, que um Governo de gestão dificilmente conseguiria aprovar um Orçamento e que as próximas eleições só podem acontecer em junho. Ora, por essas contas, o país só teria um Orçamento aprovado em outubro. “Alguém acredita que Portugal vai estar oito meses sem Orçamento? Eu não acredito. Seria uma coisa contrária aos superiores interesses nacionais“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mesmo defendendo que Cavaco Silva deve dar posse a um eventual Governo de António Costa suportado no Parlamento por Bloco e PCP, o fundador do CDS não deixa de reconhecer que não esperava “este desenvolvimento” e que, se fosse hoje, talvez “não teria dito publicamente que ia votar no PS” – ainda durante a campanha eleitoral, Freitas do Amaral, que há muito se divorciou do CDS, anunciou a sua decisão de votar em António Costa. “Há muitas pessoas que agora têm todo o direito de dizer: ‘Eu fui enganado’“.

O antigo parceiro de coligação de Sá Carneiro na Aliança Democrática não deixa de reconhecer que existem diferenças profundas entre os três partidos, sobretudo entre PS e PCP. “Depois do que se passou em 1975, ficou traçada uma barreira entre PS e PCP que durou 40 anos. Só agora é que essa barreira se desbloqueou. Isso agora mudou. Mudou porque o PCP se sentiu ameaçado pela grande subida do BE e porque o BE pensou que se deixasse o PS sozinho no governo, sem o acordo dos outros partido”, os socialistas poderiam capitalizar os votos agora conseguidos pelos Bloco. Talvez por isso, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa foram “dominados pelo pragmatismo“, mostraram uma “surpreendente abertura” para negociar e não ficaram presos ao “dogmatismo teórico“.

Agora, como tanto o PCP como Bloco estão conscientes de que não ganharam eleições e, como tal, que não podemreivindicar alterações tão profundas” como a saída do Euro e da Nato, vão bater-se “por medidas de carácter social para as camadas mais desfavorecidas” e pela própria sobrevivência política. “[Estes três partidos] têm um grande interesse partidário em aguentar o máximo possível, porque qualquer um dos três pode perder votos nas próximas eleições. Esse é um cimento muito forte“.

Fernando Medina acredita que Governo de gestão seria desastroso para o país 

Também o atual presidente da Câmara de Lisboa acredita que, se o Governo de Passos Coelho cair no Parlamento, então Cavaco Silva não terá outra solução a não ser dar posse ao Governo de António Costa suportado por Bloco e PCP. A hipótese de manter um Governo de gestão está, por isso, fora do baralho

Isto porque, segundo Fernando Medina, a “legitimidade dos Governos depende do Parlamento” e não do Presidente da República. Posto isto, também “não é crível que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas aceitassem ficar num Governo de gestão”.

Mas, acima de tudo, porque “o Presidente da República percebe muito bem o desastre que seria para o país termos um Governo de gestão durante largos meses até às próximas eleições”, explicou o autarca socialista no seu habitual espaço de comentário na TVI. 

Para o antigo número dois de António Costa, o líder socialista cumpriu a “obrigação” que tinha ao agendar a discussão do acordo das esquerdas para a altura em que vai ser discutido o programa de Governo de Passos Coelho.

Agora, socialistas, bloquistas e comunistas devem dar um sinal “claro” e “inequívoco” de que, com esse acordo, garantem o cumprimento “das obrigações internacionais”, concretizam uma “mudança” na orientação política que tem sido seguida por este Governo e demonstram a “solidez e a sustentabilidade” necessárias para essa aliança.