As más condições com que crianças e bebés chegam à costa grega tem chocado a equipa da Polícia Marítima em missão na ilha Lesbos, que deixou de dar prioridade ao controlo das fronteiras para salvar os refugiados em perigo.

Para os seis elementos da Polícia Marítiam Portuguesa que patrulham diariamente as águas do Mar Egeu “a grande dificuldade” tem sido lidar com as crianças e bebés que viajam muitas vezes em condições sub-humanas nas embarcações.

“A principal dificuldade que encontramos aqui é sempre o contacto com as crianças e bebés, há muitas crianças e bebés que veem em condições muito más de navegação, veem sempre lotados os botes, veem sempre molhados e agora com as temperaturas a baixar há sempre o risco de entrarem em hipotermia”, disse à agência Lusa o chefe da equipa da Polícia Marítima (PM) a operar no Mar Egeu, na Grécia.

Desde 01 de outubro que uma equipa da PM, composta por seis elementos, está na ilha grega de Lesbos, no âmbito de uma operação da Agência Europeia da Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros da União Europeia (Frontex), com o objetivo de cooperar no controlo e vigilância das fronteiras marítimas gregas e no combate ao crime transfronteiriço.

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“A principal missão é o controlo da fronteira, fazemos esse apoio à guarda costeira grega, mas a situação alterou-se e temos que dar primazia a quem está em perigo no mar”, contou o sub-chefe Pacheco Antunes em entrevista telefónica à Lusa a partir de Lesbos.

“Obviamente estamos cá para fazer o controlo da fronteira, mas como são tantas as embarcações que entram diariamente não se consegue controlar eficazmente esta situação. Os acidentes ocorrem atrás uns dos outros e nós temos que tirar o conceito de controlo de fronteiras para o salvamento dos refugiados”, adiantou.

A missão da PM vai durar até 31 de dezembro e os militares, segundo o balanço feito por Pacheco Antunes, resgatarem, em outubro, 1.000 refugiadas do Mar Egeu e detiveram quatro facilitadores.

“Na primeira semana de novembro houve uma grande afluência à zona onde nos encontramos em missão, mas as condições do mar que se têm vindo a sentir evitou alguns incidentes como os registados no mês anterior, agora apenas temos monitorizado as embarcações que efetuam a travessia entre a Turquia e a ilha de Lesbos”, disse.

Pacheco Antunes afirmou que a patrulha portuguesa não encontrou, até agora, crianças ou bebés refugiados mortos, mas infelizmente já tiveram que lidar com essa situação ao ajudar, em terra, as autoridades gregas, quando encontraram uma embarcação acidentada com vítimas mortais e algumas delas eram bebés.

O chefe da equipa da PM contou também que a situação mais difícil de controlar é quando os refugiados chegam à costa em pânico porque o bote avariou ou está furado e a água começa a entrar.

“O problema é quando têm problemas de avaria do motor ou o bote está furado ou está vazio, a água começa a entrar para dentro do bote e então aí eles entram em pânico e é um bocado difícil controlar a situação porque em média veem 50 pessoas dentro de um bote com cerca de oito metros, aí é sempre mais difícil nós conseguirmos controlar, mas até agora tem corrido tudo bem”, disse.

Pacheco Antunes adiantou que a entrada de embarcações na ilha é diária, mas nem todos os dias a afluência é idêntica: “há dias que entram mais do que outros. Na última semana do mês de outubro, só num fim de semana, na zona onde estamos entraram 100 embarcações. Estes últimos dias têm entrado poucas embarcações, quatro ou cinco por dia, tem havido uma redução bastante significativa nas entradas”.

O sub-chefe já tinha estado, em janeiro e fevereiro deste ano, também em missão na ilha de Lesbos, mas agora encontrou um “cenário completamente diferente” e “mais marcante”.

“Há muita gente a entrar, são aos milhares, e para quem está em missão é muito mais marcante”, concluiu.

A Polícia Marítima participa nesta missão da Frontex, denominada “Poseidon Sea 2015”, com a embarcação “Tejo”, apetrechada com meios apropriados ao controlo da fronteira, “combate à emigração irregular e de busca e salvamento.

Além dos seis elementos que fazem a patrulha no mar, a equipa da PM é ainda constituída por um oficial de ligação no International Coordination Center e um técnico de manutenção à embarcação.