“A mulher que fisgou o melhor partido da América”, “a mulher que está a viver o sonho americano” e até “aquela que desperta o lado sensível de Zuckerberg”. A curiosidade à volta de Priscilla Chan é grande desde que em 2012 se casou com o fundador da rede social Facebook e o sétimo homem mais rico do mundo, segundo a Forbes. Quando na terça-feira os dois anunciaram que tinham sido pais de uma menina e que iam doar 99% das suas ações da rede social para caridade, o interesse acentou-se e estes foram alguns dos títulos da imprensa. Quem é a mulher que se encaminha para ser a próxima Melinda Gates e, quem sabe, uma das futuras integrantes das listas das mulheres mais poderosas do mundo?
A julgar pelo que mostra publicamente na sua página de Facebook, Priscilla Chan é uma mulher reservada. Sabemos que é médica pediatra, formada pela prestigiada Universidade da Califórnia em São Francisco, e que se graduou em 2012. Está lá uma foto de costas, ao lado de Zuckerberg, sem legenda. Para sabermos uma coisa tão simples como a sua data de nascimento, a 24 de fevereiro de 1985, é preciso ler a imprensa internacional. O mesmo para encontrar referências à aluna excelente que terminou o liceu em Quincy High School, Boston, com honras de melhor aluna.
Antes de se dedicar à medicina esteve em Harvard, entre 2003 e 2007, de onde saiu com um bacharelato em biologia, e com um namorado chamado Mark Zuckerberg que deixou a faculdade para se dedicar a 100% à criação daquela que é hoje uma das empresas mais valiosas do mundo — 10.ª, de acordo com a Forbes. No perfil de Chan há fotos com Zuckerberg desde 2007, mas sabe-se que os dois se conheceram numa festa em 2003, enquanto esperavam na fila para a casa de banho, e que o romance terá começado aí — embora com interrupções pelo meio.
Através do perfil de Priscilla Chan podemos conhecer também Michelle e Elaine, as duas irmãs mais novas a quem aparece abraçada numa imagem. Mais uma vez, optou por não escrever legenda. Não existem fotos com os pais, Dennis e Yvonne Chan, refugiados de ascendência chinesa que viveram no Vietname antes de se mudarem para os Estados Unidos. Foi a própria que contou, na primeira entrevista que deu à televisão, no ano passado. Para sobreviverem, trabalhavam dia e noite. Por isso, Chan conviveu sobretudo com a avó, que só fala cantonês. Seja para poder comunicar com a família da mulher, seja porque é bom para os negócios, Zuckerberg chegou a ter aulas de mandarim. E fez um brilharete na Universidade de Pequim, no ano passado, ao responder a 30 minutos de questões no idioma local.
De acordo com um artigo da Forbes de 2012, nos idiomas falados Priscilla Chan tinha o inglês, o espanhol e o cantonês, mas já retirou do perfil os seus dotes multilingues. Gosta do tenista Rafael Nadal, o que mostra que o interesse pelo ténis, que jogou no liceu, se mantém. Tanto ouve a pop de Beyoncé e Taylor Swift como o rapper Jay Z e o rock dos Red Hot Chili Peppers. A julgar pelo perfil, não é uma cinéfila. Só lá está um like, ao filme “00:30 Hora Negra“, sobre o momento em que Bin Laden foi apanhado e morto pelo exército americano numa operação secreta no Paquistão. Na televisão, gosta de ver “Glee”, “Uma Família Muito Moderna“, “House” e o programa de moda “Project Runway”, para além do “Last Week Tonight” de John Oliver. É fã dos livros de Harry Potter.
A única nota que mantém na página data de 2006, quando ainda tinha 21 anos e estava a viver com a mãe. “Hoje continuo o meu trabalho imensamente chato no laboratório no qual era suposto eu escrever a minha tese. Desisti por uma série de razões”. Parecia desiludida com o trabalho de investigação, o que se confirmou depois com a mudança para medicina. Em 2007 ainda deu aulas de ciência na Harker School, em San José, na Califórnia, ficando assim muito perto de Zuckerberg, mas no seu próprio apartamento arrendado. A mudança para a mansão do namorado só aconteceu em 2010.
Dois anos mais tarde, a 19 de maio de 2012, os dois mudaram o seu estado para “casado” na rede social mais popular do planeta. Para além de pouca informação, a página de Priscilla Chan tem poucas fotografias. Se a queremos ver, é mais fácil espreitar os álbuns da página do marido, muito menos reservado do que ela. Foi lá, por exemplo, que os dois anunciaram ao mundo que Priscilla estava grávida de uma menina, em julho deste ano.
O caminho foi sinuoso. “Há um par de anos que andávamos a tentar ter um bebé e durante este tempo sofremos três abortos espontâneos.” A forma natural como partilhou a informação teve o condão de pôr a América e o mundo a falarem sobre uma realidade que ainda é tabu.
Também é no perfil do fundador do Facebook que podemos ver imagens do baby shower, do carrinho de bebé, do cão Beast e da sessão de fotografias a preto e branco tirada pela prestigiada Annie Leibovitz, perto do fim da gravidez.
Atualmente, Priscilla dedica-se a lançar a escola “The Primary School”, idealizada pelo casal para prestar cuidados educativos e de saúde a todos os alunos desde o nascimento até ao final do liceu. Como primeira licenciada da família, a educação foi e é um pilar para a pediatra. “A educação é um assunto incrivelmente pessoal para mim”, disse na mesma entrevista televisiva. Escusado será dizer que a escola funcionará sem fins lucrativos. Deverá abrir em agosto de 2016 e pretende acolher gratuitamente alunos de famílias com poucas posses.
Há muitos anos que o fundador do Facebook demonstra generosidade. Em 2010 assinou, juntamente com Bill Gates e Warren Buffett, a promessa de doarem para a caridade pelo menos metade da sua riqueza ao longo da vida, e convidaram outros milionários para fazerem o mesmo. Três anos depois, Zuckerberg doou 18 milhões de ações do Facebook à Silicon Valley Community Foundation. Traduzindo em dólares, o valor da doação totalizou 990 milhões. Somando às outras doações já feitas até aí, o jornal The Chronicle of Philanthropy elegeu Mark e Priscilla como os americanos mais generosos de 2013. No início deste ano, doaram 75 milhões de dólares a um hospital público de São Francisco.
Os projetos de filantropia de Mark Zuckerberg e Priscilla Chan subiram de tom esta terça-feira, quando os dois anunciaram ao mundo que tinham acabado de ser pais de uma menina, Max, e que queriam ajudar a construir um mundo melhor, mais igualitário, para ela. Para isso, prometeram doar o valor de 99% das ações do Facebook que ainda tinham na sua posse para obras de caridade ao longo da vida, nomeadamente com a meta de “promover o potencial humano e promover a igualdade para todas as crianças na próxima geração”. Atualmente, essas ações valem 45 mil milhões de dólares. Todo esse dinheiro vai ser gerido, não através de uma fundação, mas sim pela Chan Zuckerberg Initiative.
Ao saber da notícia, Melinda Gates, que gere com o marido Bill Gates a maior fundação privada do mundo, felicitou o casal, e, neste caso, que melhor forma haveria do que comentando o próprio post de Zuckerberg no Facebook. “Wow. O exemplo que estão a definir hoje é uma inspiração para nós e para o mundo. (…) Como dizem, ‘as sementes plantadas hoje vão crescer’. O vosso trabalho vai dar frutos por muitas décadas”.
Priscilla Chan e Mark Zuckerberg parecem preparar-se para serem os próximos Melinda e Bill Gates. Com uma diferença: a Chan Zuckerberg Initiative é definida pelo Financial Times como uma empresa de responsabilidade limitada, que permite opções impossíveis a uma fundação. Por exemplo, o envolver-se na defesa de políticas públicas e até avançar com investimentos com o objetivo de obter lucro se isso beneficiar as causas que apoiam. Todos os lucros obtidos serão aplicados em filantropia. Resta saber que projetos irão ser abrangidos pela generosidade do casal, e como será feita essa gestão.