A Rádio Renascença vai deixar o histórico número 14 da Rua Ivens, no Chiado, onde está instalada desde 1937. Sai a redação da rádio, entra mais uma unidade hoteleira. As obras começam em junho, avança o Diário de Notícias na edição desta quinta-feira, e darão lugar a um hotel de charme com 94 quartos. Mas também o edifício histórico do Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, vai ter o mesmo fim, confirmou o Observador junto de fonte do processo.

Com as obras a começarem no arranque do segundo semestre deste ano, o grupo R/Com – Renascença Comunicação Multimédia, cujo edifício é propriedade da Fidelidade Companhia de Seguros, SA, vai mudar-se para a Quinta do Pastor entre a Buraca e Benfica. Além da Rádio Renascença, pertence também ao grupo a rádio RFM. De acordo com informações avançadas ao DN por fonte da Fidelidade, o edifício do século XIX inserido na baixa pombalina vai dar lugar a um hotel de charme com 94 quartos.

Não há, no entanto, dados sobre o valor do negócio nem quanto tempo se prevê que durem os trabalhos de construção. Construído no século XIX, originalmente um palacete, o número 14 da Rua Ivens começou por ser casa, entre 1914 e 1950, da Companhia dos Grandes Armazéns Alcobia. O edifício tem ainda acesso pela Rua Capelo, tendo ai funcionado a Pensão Nova Capelo e a Casa do Algarve.

Venda do edifício do DN terá encaixe de 20 a 25 milhões

Já a concretização do negócio de venda do edifício da Avenida da Liberdade, cujo valor está estimado entre 20 e 25 milhões de euros, está pendente de autorizações legais a cargo da Direção-Geral do Património Cultural. Trata-se de um edifício prémio Valmor, que em 2015 completou 75 anos, já classificado como Imóvel de Interesse Público. Quaisquer alterações, por mais pequenas que sejam, exigem autorização específica, pelo que a fachada deverá permanecer inalterada.

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A venda do edifício do DN em Lisboa, bem como a do JN no Porto, eram duas das medidas anunciadas pela nova administração do grupo Global Media, que tomou posse em abril de 2014. O encaixe financeiro de 20 a 25 milhões — além de outros 10 milhões, considerando a venda da sede do JN no Porto — permite ao grupo dar um grande passo no equilíbrio das compras. A intenção de venda era conhecida desde meados de 2014, quando o jornal Expresso avançou que a administração da empresa estava decidida a alienar o património. Chegaram a existir negociações com grandes marcas para abrir lojas no local e chegou a ser equacionada de só alertar a parte inferior do prédio para esse fim. A solução encontrada foi contudo a de entregar o local a uma cadeia de hóteis e fazer do local uma referência hoteleira da capital.

A empresa em causa tem procurado um novo local para albergar os meios do grupo (que além do DN e do JN inclui o desportivo O Jogo, várias revistas e a rádio TSF). Atualmente, a hipótese em cima da mesa é um edifício junto às Torres de Lisboa. A mudança de pessoal deverá acontecer em outubro deste ano.

O edifício do Diário de Notícias, no número 266 à Avenida da Liberdade, é um dos mais emblemáticos da cidade de Lisboa. Apresenta uma planta retangular e é composto por seis pisos, cave não incluída. Foi o primeiro edifício moderno da principal avenida de Lisboa e o único construído de origem para albergar um jornal, tendo sido projetado em 1936 pelo arquiteto Porfírio Pardal Monteiro. A inauguração, essa, aconteceu a 24 de abril de 1940 com a presença do então presidente Óscar Carmona, que cortou a fita comemorativa lado a lado de Pardal Monteiro e Augusto de Castro, à data o diretor do jornal.

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No mesmo ano em que abre as portas para jornalista entrar e público ver, o edifício de linhas modernas ganha o prémio Valmor, distinção instituída no século passado. De referir que antes do prédio junto à icónica avenida, o jornal, que completou 150 anos, tinha sede no Bairro Alto, na Rua Diário de Notícias.

A fachada do edifício que se enquadra na estética modernista é totalmente revestida a pedra aparelhada e pretende representar uma impressora. A olho nu é possível ver uma torre facetada encimada por um farol (que se acende à noite).

Uma vez lá dentro, o átrio e a grande sala de entrada surgem decoradas com painéis originais de Almada Negreiros — “Grande Planisfério” e “Quatro alegorias a Portugal e à Imprensa”. Foram pintados entre 1934 e 1940 e representam os vários momentos de produção de um jornal, como também alegorias ao mundo de então. As salas dos jornalistas, bem como a cave do edifício, mantêm ainda alguns dos móveis originais, além da impressora onde antes o diário era impresso — há mais de 75 anos.

Neste momento, o prédio que é constituído por dois grandes blocos ligados por corredores internos tem duas entradas: o acesso original é feito através da Avenida da Liberade, existindo ainda uma porta nas traseiras, na rua Rodrigues Sampaio. O prédio alberga o DN, a delegação de Lisboa do JN e do O Jogo, as várias revistas (incluindo os títulos Evasões, Volta ao Mundo e Notícias Magazine), e ainda todos os serviços administrativos do grupo Global Media.