O futuro é incerto e nebuloso para o líder do Partido Socialista Espanhol (PSOE) Pedro Sánchez que, esta segunda-feira, afastou a hipótese de se demitir na sequência do desaire eleitoral nas regionais de domingo, optando antes por propor a realização de eleições primárias e um congresso ainda antes de haver novas legislativas. A ideia, contudo, não agradou aos barões do partido, que chegaram a pedir a sua demissão. O braço de ferro continua e, esta terça-feira, numa entrevista à rádio espanhola Cadena Ser, Sánchez deixou claro que não irá desistir, mesmo que o partido (que se reúne este sábado) não aprove a proposta de realizar um congresso antecipado.
Antes haver novas eleições nacionais, que seriam as terceiras no espaço de um ano, do que dar o braço a torcer e apoiar, mesmo que por via da abstenção, um Governo do PP de Mariano Rajoy. É este o ponto de honra de Pedro Sánchez, que tem cada vez mais dificuldades em manter esta tese firme dentro do partido. Segundo o El País, seis dos sete presidentes das regiões autónomas, estão mesmo contra a postura do secretário-geral socialista.
Não quero terceiras eleições, tal como não queria segundas, mas para um democrata umas eleições nunca são uma má solução. Uma má solução é a esquerda ceder, com o seu voto, a Mariano Rajoy”, disse esta terça-feira à Cadena SER o presidente do PSOE, acrescentando que “Rajoy não pode ser presidente do Governo nem mais um quarto de hora”.
Certo é que as eleições regionais deste domingo agitaram as águas e tiraram chão a Pedro Sánchez, que perde cada vez mais terreno na afirmação de uma alternativa política a nível nacional. Numa altura em que Espanha vive uma crise política intensa, o fraco resultado do PSOE, que diminui a sua influência nestas duas regiões, enfraquece as possibilidades de sucesso da tentativa que o partido vai fazer nos próximos dias para encontrar uma candidatura alternativa ao Governo espanhol que desbloqueie o atual impasse político em Madrid. A única certeza que há para já é a de que, se a situação não for desbloqueada até 31 de outubro, o rei Felipe VI terá de dissolver o parlamento nacional e convocar novas eleições — que, segundo a Constituição, seriam a 25 de dezembro.
Resultados das eleições
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Galiza
PP: 47,43%
En Marea: 19,07%
PSOE: 17,88%
País Basco
Partido Nacionalista Basco: 37,65%
EH Bildu: 21,23%
Podemos: 14,83%
PSOE: 11,94%
Antes de chegar aí, contudo, Pedro Sánchez quer ser reeleito e legitimado no partido. Depois de ter sido o grande derrotado da noite eleitoral de domingo, ao ser ultrapassado pela coligação do Podemos com a Esquerda Unida na Galiza, e pelo Podemos no País Basco, apressou-se a anunciar a intenção de convocar primárias para eleger o secretário-geral, que seriam no próximo dia 23 de outubro, e um congresso para o início de dezembro. Tudo antes de Espanha ir novamente a votos. O objetivo, disse, é “defender um PSOE de esquerdas, autónomo, dialogante e diferenciado do PP” numa altura em que, reconheceu, muitos dirigentes socialistas não pensam como ele.
É evidente que há dirigentes que não pensam o mesmo que eu, que creem que devemos abster-nos e que não devemos nem sequer planear a possibilidade de governar com 85 deputados”, disse, na segunda-feira, logo depois da reunião da Comissão Executiva do PSOE. “Assumo a minha responsabilidade, agendo este congresso e a eleição em primárias porque reconheço que existe um debate a ter depois das declarações públicas de dirigentes importantes. Está a abrir-se uma divisão que nos prejudica eleitoralmente e é por isso que o faço”. “Necessitamos de debater e votar e que o PSOE tenha uma única voz”, acrescentou.
Mas o que quer, afinal, Pedro Sánchez? A alternativa que Sánchez propõe, e que qualifica de “generosa”, é um governo com o Podemos (esquerda) e o Ciudadanos (centro direita), ou com “independentes de prestígio”. Segundo o El País, a sua ideia passa também por ir legitimando esse mesmo governo com moções de confiança de dois em dois anos.
Demitir-se é que não é opção. A não ser que o partido eleja outro secretário-geral. E é por isso que propõe primárias e congresso, para chamar os militantes socialistas ao debate. Mas mais do que um debate em torno do líder, esse debate seria um debate ideológico em torno da postura do PSOE no dilema político nacional: deve o PSOE optar pela abstenção técnica e com isso viabilizar um governo do PP ou fazer tudo para evitar um governo da direita? É a pergunta para um milhão de euros com que se debate por estes dias o partido socialista espanhol. Para Sánchez, os socialistas estão perante “não uma questão tática, mas sim uma questão essencial para o futuro da social-democracia”. Que é saber se ideologicamente o PSOE se deve aproximar das esquerdas ou do Partido Popular, da direita.
Se houver primárias, Susana Díaz avança?
O problema, reconheceu Pedro Sánchez, na mesma entrevista à rádio espanhola, é que “nas últimas semanas temos ouvido muitas vozes que questionam o comité federal” e que fazem com que predomine a sensação de que “não há autoridade no PSOE”. O comité federal, que decidirá se há ou não primárias e congresso antecipado, reúne este sábado e é a este órgão que cabe a última palavra.
Na sombra de Sánchez há o nome de Susana Díaz, a presidente da Andaluzia que dirige a federação socialista mais poderosa, e que é a principal opositora interna do atual líder do partido. Falando aos jornalistas esta terça-feira, a dirigente socialista recusou-se a esclarecer se apresentará a sua candidatura à liderança do partido caso avancem as eleições primárias, mas deixou uma frase enigmática: “Estarei onde os meus companheiros me puserem, na cabeça ou na cauda, é aí que estarei”. Ou seja, os militantes é que sabem.
Certo é que Díaz se opõe a um congresso feito à pressa, sublinhando que primeiro está Espanha e depois estão os assuntos orgânicos do partido. Para a presidente da Andaluzia, não é por o PSOE viabilizar um governo do PP por via da abstenção que os socialistas passam a ser menos socialistas. “Ninguém é subalterno do PP e muito menos o são os socialistas andaluzes”, disse, em resposta às declarações de Sánchez, que defendeu que o lugar do PSOE é na oposição a Rajoy e não na viabilização a um governo de direita.
Para Susana Díaz, o importante é “ganhar eleições”, em contraste com as “muitas eleições perdidas” até aqui.