Um dos arquitetos da zona euro, Otmar Issing, diz em entrevista à Bloomberg que Portugal seguiu “na direção errada”. Os desenvolvimentos recentes em Portugal foram um dos aspetos mencionados pelo alemão, próximo de Angela Merkel e antigo economista-chefe do Banco Central Europeu, que deu uma entrevista à agência noticiosa em que vai um pouco mais longe do que na entrevista à Central Banking em que disse que a zona euro se transformou num “castelo de cartas” que arrisca desmoronar-se em breve.
Em entrevista à televisão da Bloomberg, “Portugal é um caso que demonstra que todos os problemas [da zona euro] não são problemas da política monetária e de ganhar algum tempo”.
“Portugal não só tem desperdiçado tempo, no que diz respeito a fazer as reformas necessárias, mas também, desde que o novo governo tomou posse, tem ido na direção errada“. “Agora pagam o preço dessas políticas, que vão em sentido contrário em relação àquilo de que Portugal precisa para manter o país alinhado com a estabilidade da zona euro”, afirma Otmar Issing.
Otmar Issing é presidente do Center for Financial Studies e foi um dos arquitetos da zona euro, tendo servido como economista-chefe da instituição nos primeiros anos.
A retirada dos estímulos monetários não é um problema apenas do BCE mas é, diz Issing, um “problema global”, ou seja, que deve preocupar também outros bancos centrais como a Reserva Federal dos EUA e o Banco de Inglaterra. Ainda assim, “será muito difícil para o BCE gerir a retirada dos estímulos sem que existam distorções nos mercados” — daí que Otmar Issing defenda que exista uma ação coordenada entre os bancos centrais mais importantes do mundo para gerir a retirada dos estímulos.
Quanto às medidas e o tom adotado por Mario Draghi na conferência de imprensa de quinta-feira, Otmar Issing diz que “não houve surpresas”. Os investidores estão, agora, “a olhar para a reunião de dezembro” à espera que o BCE anuncie um reforço ou um prolongamento dos estímulos. Essa expectativa está a levar o euro a cair para a cotação mais baixa dos últimos seis meses, face ao dólar.