A Coreia do Norte lançou esta terça-feira um míssil balístico que o Pentágono acredita que poderá ser o mais potente de sempre. A informação do lançamento, inicialmente avançada por meios de comunicação sul-coreanos que citavam fontes militares, foi depois confirmada oficialmente pela televisão norte-coreana. De acordo com a KCTV, o projétil é um novo modelo de um míssil balístico intercontinental (ICBM), batizado de Hwasong-15, capaz de alcançar “todo o território dos Estados Unidos da América”.
Tal como é hábito, coube à veterana pivô Ri Chung-hee fazer o anúncio, em tom solene, do “bem-sucedido” lançamento que foi “autorizado e presenciado pessoalmente pelo líder” Kim Jong-un, o primeiro que o regime de Pyongyang leva a cabo após dois meses e meio.
O míssil foi disparado em direção a leste a partir da província de Pyongan do Sul, a cerca de 25 quilómetros da capital norte-coreana, Pyongyang, por volta das 3h17 (18h17 de terça-feira em Lisboa). O projétil percorreu cerca de 960 quilómetros, atingindo uma altitude de mais de quatro mil quilómetros, antes de se despenhar no Mar do Japão. Esta foi a máxima altitude alcançada até à data por um míssil norte-coreano e sinaliza um novo e perigoso avanço do programa norte-coreano.
O último míssil lançado pela Coreia do Norte foi em setembro. O míssil foi lançado cerca das 6h57 locais desde Sunan (perto da capital Pyongyang) e alcançou uma altitude de 770 quilómetros. Caiu cerca de 19 minutos depois, a dois mil quilómetros do Japão, pelas 7h16 locais, sobrevoando o norte da ilha de Hokkaido, no Japão, percorrendo 3.700 quilómetros.
Pentágono anunciou que o míssil lançado pela Coreia do Norte é um engenho balístico intercontinental, que realizou um voo de mil quilómetros. O disparo deste míssil, com alcance que permite atingir território norte-americano, foi o primeiro ensaio em dois meses e meio, depois de o último, de médio alcance, ter sobrevoado o norte do Japão antes de cair no mar. “A Coreia do Norte lançou um míssil balístico não identificado em direção a leste das redondezas de Pyongsong, província de Pyongan del Sur, a norte da capital norte-coreana (Pyongyang)”, revelou o Estado-maior Conjunto sul-coreano.
Os continuados ensaios com armas feitos pelo regime de Kim Jong-un, entre os quais um ensaio nuclear no passado 3 de setembro, aumentaram a tensão na zona a níveis nunca vistos depois da guerra da península da Coreia (1950-1953). Além disso, os testes têm provocado um crescente mal-estar entre o país e os Estados Unidos.
No dia 3 de setembro, a Coreia do Norte tinha realizado outro teste nuclear, em que foi testada uma bomba de hidrogénio, a designada “Bomba H”. Este teste provocou um tremor de terra de magnitude 6,3 e, por consequência, instabilidade em Punggye-ri — a zona onde são realizados os testes — que já tinha sofrido outros tremores de terras na sequência de outros testes. “A explosão do teste de 3 de setembro teve tanta força que os túneis existentes no local de testes subterrâneos podem ter cedido”,disse Kim So-gu, investigador do Instituto Sismológico da Coreia do Sul, na altura.
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EUA “vão tomar conta do assunto”
Donald Trump garantiu que os Estados Unidos “vão tomar conta do assunto”. O Presidente norte-americano, que falava à imprensa a partir da Casa Branca, não deu mais detalhes sobre as medidas que os Estados Unidos poderão adotar.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, tinha anunciado antes que Trump fora informado do lançamento ainda quando o míssil estava no ar. Trump estava reunido com senadores republicanos quando ocorreu o lançamento. Entretanto, fonte oficial japonesa disse que o míssil caiu no mar do Japão, na Zona Económica exclusiva do país.
O Pentágono anunciou que o míssil lançado pela Coreia do Norte é um engenho balístico intercontinental, que realizou um voo de mil quilómetros. “Detetámos um lançamento de míssil desde a Coreia do Norte. Estamos em processo de avaliação da situação e divulgaremos informação adicional quando esta estiver disponível”, disse o porta-voz do Pentágono, coronel Robert Manning.
No passado dia 21, os Estados Unidos impuseram sanções contra 13 entidades encarregadas do transporte marítimo e terrestre na Coreia do Norte, com o intuito de pressionar Pyongyang para que ponha um fim aos ensaios de mísseis balísticos e às suas aspirações nucleares. As sanções foram divulgadas um dia depois de Donald Trump ter remetido para a Coreia do Norte a lista de países “patrocinadores do terrorismo”, da qual o país asiático tinha saído há quase uma década.
Depois desta decisão, o Presidente dos Estados Unidos instou o regime comunista norte-coreano a “pôr fim a seu ilegal desenvolvimento nuclear e de mísseis balísticos”.
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Na assembleia-geral da ONU, em setembro, Trump foi duro quanto aos programas nucleares norte-coreanos e ameaçou “destruir totalmente” a Coreia do Norte se Pyongyang continuasse com as provocações. Por várias vezes, Trump afirmou também que não descarta uma ação militar contra o regime de Pyongyang, uma vez que, disse, anos de diálogo não serviram para nada.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, qualificou como um “ato violento”, que “não pode ser tolerado”, o disparo de um míssil efetuado ao início de quarta-feira (hora local) pela Coreia do Norte. Em declarações à comunicação social, Abe apelou também a uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Nunca cederemos a qualquer ato de provocação. Vamos maximizar a nossa pressão” sobre Pyongyang, declarou Shinzo Abe.
O chefe do Governo japonês garantiu que o Japão “seguiu inteiramente” a trajetória do míssil. “Nós protestámos com força”, adiantou Abe. Ao lançar este míssil, a Coreia do Norte ignorou “a vontade forte e unida da comunidade internacional de chegar a uma solução pacífica”, acrescentou. Para Abe, agora, “a comunidade internacional deve aplicar as sanções de maneira perfeita e em uníssono”.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) vai reunir de emergência, na quarta-feira à tarde por causa do lançamento do míssil efetuado pela Coreia do Norte, anunciou a presidência italiana. Os testes de mísseis balísticos realizados durante o mês de julho levaram a sanções a Pyongyang, aprovadas pela ONU por unanimidade, no dia 5 de agosto.
Coreia do Sul: disparo é “séria ameaça” à paz global
O Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, reagiu ao lançamento para dizer que o novo disparo de míssil por parte da Coreia do Norte é uma “séria ameaça” à paz global e defendeu que são necessárias sanções mais fortes contra Pyongyang. Moon Jae-in garantiu, no Conselho de Segurança Nacional, que a Coreia do Sul “não vai ficar sentada a ver” as provocações da Coreia do Norte e explicou que vai trabalhar com os Estados Unidos para fortalecer a segurança.
O Presidente da Coreia do Sul salientou que é preciso “desencorajar as ambições nucleares” da Coreia do Norte e explicou que os sul-coreanos anteciparam o lançamento e estavam preparados. O Exército da Coreia do Sul efetuou os seus próprios exercícios com mísseis, que começaram poucos minutos depois do lançamento da Coreia do Norte ter sido detetado.
Moon Jae-in exprimiu ainda a sua preocupação com a possibilidade de o aperfeiçoamento de um míssil balístico intercontinental pela Coreia do Norte levar os Estados Unidos da América a considerarem um ataque preventivo, o que pode levar a que situação na segurança regional entre numa “espiral fora de controlo”. Moon disse que é importante prevenir uma situação em que a Coreia do Norte possa fazer erros de cálculo e ameace a Coreia do Sul com armas nucleares ou que os Estados Unidos considerem a possibilidade de um ataque preventivo para eliminarem a ameaça.
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