Tom Wolfe, um precursor, sobretudo na década de 1970, do chamado New Journalism norte-americano, morreu segunda-feira num hospital de Manhattan, Nova Iorque, avança o New York Times. Wolfe tinha 87 anos. A morte do jornalista e escritor foi confirmada ao New York Times pela sua agente, Lynn Nesbit. De acordo com Lynn Nesbit, Wolfe tinha sido hospitalizado devido a uma infeção, não especificando Nesbit, porém, de que infeção se tratava.
Criado numa família abastada da Virginia, cedo Tom Wolfe se destacaria nas letras, tendo ainda criança escrito biografias de Napoleão Bonaparte e Mozart, chegando, na preparatória, a ser editor do jornal da St. Cristopher School, em Richmond. A escrita de reportagem, essa, chegaria em 1956, quando, ainda estudante universitário, se torna colaborador do Springfield Union, no Massachusetts. Em 1959 é contratado pelo Washington Post, sendo dele, Wolfe, uma série de reportagens premiadas sobre a Revolução Cubana.
A escrita jornalística de Wolfe era já diferenciada, utilizando elementos e técnicas da escrita ficcional nas reportagens, chegando mesmo o jornalista a assumir algum protagonismo no relato com a intenção de capturar a atenção do leitor, enredando-o na história que contava — mantendo, contudo, a imparcialidade jornalística. Em 1962, Wolfe deixa o Washington Post e muda-se para o New York Herald Tribune. É durante a greve dos jornais nova-iorquinos que publica uma das suas mais célebres reportagens: “There Goes (Varoom! Varoom!) That Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby”. Estávamos em 1963. Wolfe escreve a Byron Dobell, editor da revista Esquire, propondo-lhe a publicação um artigo sobre a “febre” de carros customizados no sul da Califórnia. Byron Dobell resolve publicar a carta na Esquire (retirando apenas o “Dear Mr. Byron” do início) como se de um artigo se tratasse.
Tom Wolfe não estava sozinho neste novíssimo jornalismo literário. A década de 1970 nos Estados Unidos foi profícua neste género. Tanto que em 1973, com E.W. Johnson, Wolfe publicaria uma coletânea de textos (à qual chamaria apenas “The New Journalism”) que reunia trabalhos de Truman Capote, Hunter S. Thompson, Norman Mailer, Gay Talese ou Joan Didion.
Wolfe retratava a América, dos hippies aos magnatas de Wall Street. Em 1987 resolveu retratá-la em “A Fogueira das Vaidades”, sua primeira obra (só) de ficção, livre que se tornaria num dos maiores best-sellers daquela década e essencial no presente. Carregado de sátira, com uma descrição de ambientes e personagens ainda próxima do jornalismo, Wolfe conta no livro a história de Sherman McCoy, negociador da alta-finança caído em desgraça depois do atropelamento de um rapaz negro no Bronx. Mas não é somente a América “endinheirada” a visada em “A Fogueira das Vaidades”; toda a América é, da elite e do sistema judicial à pobre.
Autor de 17 livros (13 são de não-ficção e quatro romances), o último deu à estampa em 2016: “The Kingdom of Speech”. “Sei que já não vou para novo. Mas no que respeita à morte, habitualmente escolho ignorar o assunto”, referiria numa entrevista em 2008.