A legalização da eutanásia vai ser votada na próxima terça-feira, no Parlamento, e a líder do CDS já está a antecipar o debate. No discurso de encerramento das jornadas parlamentares do CDS, que decorreram em Viana do Castelo, Assunção Cristas foi dura nos argumentos contra a legalização da morte assistida em detrimento de uma aposta nos cuidados paliativos. Rejeitando que o Serviço Nacional de Saúde não deve servir para “executar a morte”, Cristas defendeu que a morte assistida “não é tirar a dor, é antecipar a morte”.

“Uma lei que trata simplesmente de criar no SNS – aquele Serviço Nacional de Saúde que queremos desenvolver e acarinhar para tratar as pessoas e dar qualidade de vida até ao fim dos seus dias – se prepara para passar a ter uma nova prestação, que já não é tratar, já não é tirar a dor, é antecipar a morte, é executar morte. Isso nós não aceitamos, nem achamos admissível”, disse.

Em cima da mesa estão quatro projetos de lei a favor da legalização da eutanásia, do PAN, BE, PS e Verdes, sendo que, por iniciativa do CDS, a votação vai ser feita de forma nominal: um a um, cada deputado vai revelar o seu sentido de voto em cada projeto. Na bancada do CDS, contudo, não haverá certamente votos a favor, com os centristas a virarem a discussão para a necessidade de reforçar os cuidados paliativos no Serviço Nacional de Saúde.

“Ainda hoje vemos mais uma manchete num jornal [Jornal de Notícias] a denunciar a falta de cuidados paliativos no nosso país, que só chegam a 10% da população. O mesmo Governo que não aposta nos cuidados paliativos é o Governo cujos partidos que o apoiam se preparam para aprovar, para a semana, a lei que permite legalizar a eutanásia”, disse perante os deputados centristas no encerramento dos trabalhos. Para Cristas, o foco do debate não deve desviar-se do reforço dos cuidados paliativos “para passar a permitir em Portugal algo que não existe em quase nenhum outro país europeu”.

E Assunção Cristas foi ainda mais longe, dando o exemplo de uma “pessoa da Holanda” com quem falou recentemente — sendo que na Holanda a eutanásia é legal — que a aconselhou a “não ir por aí”. “Nós errámos, não vão por aí, se quiserem conhecer e aprender com a nossa experiência, não aceitem a legalização da eutanásia”, disse Cristas recuperando as palavras que lhe terão sido transmitidas. “A eutanásia é um processo que se sabe como começa mas não se sabe como acaba”, concluiu.

No discurso de encerramento, Cristas fez ainda um balanço dos temas recentes em que o CDS tem batalhado e tem, nas suas palavras, estado na dianteira. É o caso da Justiça, onde o CDS foi o único partido que respondeu ao repto de Marcelo Rebelo de Sousa e apresentou no Parlamento um pacote legislativo “há três meses” que está à espera de ser acompanhado de propostas dos outros partidos, ou o caso do estatuto do benefício fiscal para o interior, onde Cristas reafirmou que o CDS iria olhar para as propostas do Movimento pelo Interior e apresentá-las no Parlamento.

“Não temos medo, temos coragem, não temos medo de sermos politicamente incorretos. Temos de trabalhar muito para liderar em várias matérias, para que um dia os portugueses olhem para nós e nos dêem a confiança do voto”, disse, sublinhando que é através do “trabalho intenso em todas as áreas” que esse voto de confiança se consegue.

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