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José Silvano: "Preferimos pagar a fornecedores em vez de fazer grandes festas. São prioridades"

Este artigo tem mais de 5 anos

Secretário-geral lança farpas à gestão de Passos, dizendo que, se há polémica, "é porque a carapuça serviu". A prioridade de Rio, lembra, é pagar dívidas não fazer uma grande festa do Pontal.

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ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Há fornecedores à espera que o PSD pague dívidas de há mais de doze anos. O secretário-geral do PSD, José Silvano, não percebe o ruído por ter lembrado que o partido deve a “alguns fornecedores há mais de dez anos” quando foi criticado por a Festa do Pontal ter este ano um corte de 60 mil euros. Ao Observador, José Silvano refere que “é público que o PSD ainda tem contas das autárquicas de 2005 para pagar” e reitera essa política de pagar as dívidas antes de fazer grandes eventos: “Preferimos pagar a fornecedores em vez de fazer grandes festas. São prioridades.” Antigos dirigentes estão indignados com a “falta de solidariedade” de Silvano.

A polémica começou quando, em resposta a um crítico, José Silvano escreveu num comentário no Facebook: “Fica a saber que a festa do Pontal custou em 2017 cerca de 79.000 euros. Devemos a alguns fornecedores há mais de 10 anos. Pagamos juros, devido a algumas injunções postas por alguns desses fornecedores, algumas dezenas de milhares de euros. Comigo o PSD não vai por esse caminho”.

Ora, o secretário-geral revelava aqui duas coisas: que o PSD tem dívidas de há mais de 10 anos e que alguns fornecedores puseram o partido em tribunal. Mas mais do que isso: deixava implícita uma crítica a gestões anteriores, de Matos Rosa e Miguel Relvas (secretários-gerais durante o tempo de Passos Coelho) e de Marques Guedes (secretário-geral durante o tempo de Manuela Ferreira Leite).

Luís Cirilo Carvalho, secretário-geral adjunto do tempo de Durão Barroso (2000-2002), considerou “lamentável” o facto de José Silvano ter ido “para o facebook desabafar sobre questões de foro interno do partido, e que dele não deviam sair nunca, atitude jamais vista num secretário geral do PSD”. Em críticas duras a José Silvano, Luís Cirilo Carvalho ironizou dizendo que isso acontece porque Silvano está “provavelmente cansado das esgotantes tarefas de mandar fazer um novo (e bem feio) cartão de militante, de dar conferências de imprensa a atacar o anterior líder e a anterior direção em vez dos verdadeiros adversários ou de esconder as setas, descaracterizando o PSD.”

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Cirilo Carvalho considerou mesmo este um “triste, disparatado e injustificável procedimento, que lesa gravemente a imagem do partido”.

O Observador falou com antigos dirigentes do PSD durante a direção de Passos Coelho, que consideram “desleal” a forma como o atual secretário-geral expôs a situação. “Jamais no tempo do Passos Coelho, o Miguel [Relvas] ou o Matos Rosa iam criticar contas do tempo do Marques Guedes”, atirou um desses dirigentes contactados pelo Observador. A mesma fonte lembrou que quando foram as buscas da Polícia Judiciária à sede a propósito do caso Tutti-Frutti, a solidariedade de Silvano “foi zero”. O atual secretário-geral apressou-se a dizer que os factos investigados “são anteriores à entrada da atual direção.”

Um outro dirigente diz que “a falta de solidariedade é gritante” e que “é óbvio que as anteriores equipas estão incomodadas com o assunto”.

Apesar das críticas, o secretário-geral reforça a ideia ao Observador, dizendo que a direção de Rui Rio prefere “pagar a fornecedores em vez de gastar dinheiro em festas. São prioridades.” Quanto ao facto de haver desconforto dos passistas, Silvano atira: “É alguém a quem lhe serviu a carapuça“. Questionado sobre se falou com o anterior secretário-geral, José Matos Rosa, sobre o assunto já depois (ou antes) de ter feito estas declarações, Silvano foi claro:

Não falei. Também estava lá o Matos Rosa quando aprovámos as contas. Também as aprovou. Aprovámos as contas à frente de todos. É tudo público. E dissemos que íamos ter como prioridade pagar a fornecedores, não percebo a surpresa.”

José Silvano tem dito que a última edição custou cerca de 80 mil euros. Afinal, quanto custa a festa do Pontal? De acordo com as contas entregues no Tribunal Constitucional, as últimas quatro edições custaram quase 400 mil euros. Mais precisamente: 396.448 euros. A generalidade dos gastos são com empresas de organização de eventos (como a Smart Choice) ou com o aluguer de autocarros (para deslocar militantes para o evento). Nas contas feitas pelo Observador o custo do Pontal nos últimos anos foi:

  • 2017: 77.558 euros
  • 2016: 85.209 euros
  • 2015: 131.766 euros (neste ano, a festa do Pontal foi a rentrée da coligação Portugal à Frente e incluiu o CDS, tento as despesas entradas nas contas da campanha e não nas contas do partido)
  • 2014: 101.917 euros

A Festa do Pontal vai este ano mudar de estilo face aos últimos anos. Depois de, em edições recentes, se ter aproximado do que era nos anos 90 – um grande comício de “rentrée” no ano político – este ano vai recuar mesmo para a década de 1970, mais próximo do que era a festa no tempo de Sá Carneiro. A festa do Pontal vai ser um “convívio ao ar livre com atividades lúdico-desportivas, que incluirão o jogo da malha, jogos de futebol e passeios de bicicleta.” Muito diferente do que tem sido nos últimos anos. E, já agora, mais barato também. Vai passar de 80 mil para 20 mil euros de custos.

Acabou-se a festa? Pontal vai mudar à imagem de Rio

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