As contas de 2015 do banco de investimento Haitong, na altura em que José Maria Ricciardi era presidente-executivo, foram reabertas pela Deloitte para corrigir “erros” contabilísticos identificados pela consultora que veio substituir a KPMG no escrutínio e validação dos resultados financeiros. Em causa, conta o Jornal de Negócios na sua edição desta sexta-feira, estavam imparidades que a administração da altura não reconhecera nas contas.

Resultado: com a revisão dos números, os prejuízos do Haitong quase triplicaram. Ou seja, o primeiro relatório mostrava uma tendência de descida dos prejuízos,de 138,5 para 35,4 milhões de euros, devido a uma redução 84% no volume de imparidades e provisões. Com a revisão da Deloitte, o cenário passa a ser outro: o prejuízo do antigo Banco Espírito Santo de Investimento (BESI) — que se tornaria depois no Haitong — passa a ser de 98,3 milhões, quase o triplo, devido a imparidades.

José Maria Ricciardi, que se encontra atualmente na corrida à presidência do Sporting e já sem ligação ao Haitong, explica que a mudança se justificou na altura pela alteração do modelo de gestão do banco de investimento, que passou a ser liderado por Hiroki Miyazato e auditado pela Deloitte. Também a KPMG destaca a mudança acionista (para controlo de um grupo chinês) como parte da explicação e reforça que deixou nota para essa situação e para os valores de imparidades existentes mas ainda não contabilizados.

Os valores em causa, explica Ricciardi ao Observador, “são do conhecimento público, estão nos relatórios e contas e nos auditores”. O que se passou, reforça, tem a ver com os modelos de gestão seguidos.

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A redistribuição da amortização de um ‘goodwill’ [a diferença positiva entre o preço de aquisição de uma participada e os seus capitais próprios] deveu-se a uma divisão estratégica de fechar Londres”, operação que a nova gestão chinesa decidiu vender para limpar o impacto nas contas futuras. “Essa estratégia veio a comprovar-se errada”, avalia o executivo, lembrando que após a sua saída, por sua decisão, “os resultados agravaram-se e o banco perdeu a liderança nos lugares em que a tinha”.

Sobre a divulgação destas revisões de contas num momento em que se encontra na corrida à presidência do Sporting, Ricciardi acredita que se trata de “uma campanha negra para tentar afetar a minha credibilidade e reputação como banqueiro, profissão que desenvolvi durante muitos anos, isto tem o propósito de afetar a minha campanha para a presidência do Sporting”.

As mudanças estão identificadas como “correção de erros” no relatório e contas de 2016 publicado no ano passado. O novo auditor detetou insuficiências de imparidades de crédito de 5,2 milhões, “cujos eventos subjacentes à necessidade de reconhecimento de imparidade ocorreram em 2015”. Ou seja, já deveriam ter sido registados. O mesmo acontece com operações em títulos, no valor de 4,9 milhões, cujos eventos subjacentes ocorreram em 2014, detalha o jornal.