São empresas “orgulhosamente portuguesas” que marcam presença na IFA, a maior feira de eletrónica de produto da Europa e o Observador falou com três. Duas já são veteranas na IFA e no mercado de tecnologia: a Flama, com o seus “pequenos eletrodomésticos”, e a Airfree, com purificadores de ar com um conceito inovador. A última foi uma startup, a EggElectronic, que esteve oficialmente na feira pela primeira vez, com uma ‘ficha tripla’ de design revolucionário.

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Estas empresas não ocupam por completo nenhum dos 26 pavilhões da feira que recebe mais de 250 mil pessoas, como fazem gigantes eletrónicos como a Samsung ou a Sony. Se não procurássemos com atenção, os stands da Flama, da Airfree e da EggElectronic podiam passar despercebidos. Contudo, no pavilhão 8.1, mal se vê o logo do “Portugal 2020” e do “Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional”, ouve-se também uma língua pouco habitual entre tantos produtos eletrónicos: o português. Era lá que estavam as duas primeiras. Já a EggElectronic, por ser uma startup, partilhava o stand com uma marca alemã no pavilhão 26, dedicado à inovação.

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Daniel Matias, sócio da Airfree: Em Portugal é importante “exportar mais do que azeite, rolha e vinho”

Daniel Matias com o purificador da AirFree com maior sucesso no mercado

É o oitavo ano consecutivo que a Airfree marca presença na IFA. O negócio está sediado em Lisboa, mas Daniel Matias, sócio e responsável dos negócios da empresa na América, é “brasileiro e português”. A empresa foi criada entre “2004 e 2005”, pelo pai, Carlos Matias. Aos 17 anos, Carlos foi para o Brasil, casou por lá, voltou, depois, “ficou pelos dois países”. Atualmente, como conta Daniel, são “uma empresa orgulhosamente portuguesa, porque a sede está em Portugal e o coração está em Lisboa”.

O produto que vendem é revolucionário na indústria de purificadores de ar e “único no mundo”, diz. Tudo começou porque Daniel Matias, em criança, tinha “asma e alergias”. Solução? O pai criou um aparelho que em vez de filtrar os microorganismos, “queima-os a mais de 200 graus centígrados”. Agora, a gama de produtos tem desde purificadores domésticos a outros para uso industrial, que são considerados dos mais eficientes.

À entrada do stand da Airfree na IFA vê-se os símbolos dos programas de apoio portugueses e a frase “Made In Europe”

A Airfree já “vende [os purificadores] para mais de 50 países”. Apesar de o maior mercado serem os Estados Unidos da América, tudo continua a ser feito em Portugal, porque serve como “um hub de exportação”, explica Daniel. A Europa é o terceiro mercado para onde exportam: “Por alguma razão, os asiáticos e os americanos são mais sensíveis a estas questões”, conta ainda.

Em relação aos custos, valia a pena, mas queremos manter a produção nacional. Paga-se mais do que se fosse na China, mas o facto de ser um produto que é fabricado em Portugal e na Europa continua a ser uma vantagem”, diz Daniel Matias sobre o facto de manterem a operação em Portugal.

Mesmo sem produtos novos para mostrar, o investimento na IFA tem sempre um “retorno assegurado”, assume o executivo. “Acaba sempre por nos trazer novos distribuidores e é um ponto onde estes vão encontrar a marca”, diz. Exemplo disso foi a reunião que tiveram com um distribuidor de Taiwan, pouco tempo antes de o Observador chegar ao stand. Sobre serem uma das poucas tecnológicas portuguesas na maior feira de eletrónica de produto da Europa, Daniel afirma: “Em Portugal, tudo o que não seja azeite, rolha e vinho é sempre interessante exportar”.

Joaquim Alves, presidente executivo da Flama: “Já passámos fases em que ser orgulhosamente português tinha um cariz negativo”

Joaquim Alves com grelhadores portugueses da Flama e, ao fundo à direita, os novos robôs de cozinha da empresa apresentados na IFA

Ao chegar ao stand da Flama, perguntam-nos logo: “Quer uma água?”. Depois de percorrermos 160 mil metros quadrados de pavilhões, a resposta foi rápida: “Sim, por favor”. Aqui o ADN português da empresa liderada por Joaquim Alves manifesta-se. Depois de várias garrafas de água bebidas com rótulos alemães, esta tinha um sabor a casa: era uma garrafa de água do Luso. “Fazemos de propósito para ter água portuguesa aqui no stand”, explicaram.

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O stand da Flama, muito perto do da AirFree, tem em exposição os principais pequenos eletrodomésticos da empresa de Oliveira de Azeméis. “A estratégia da empresa enquanto marca passa muito pelo mercado da Península Ibérica”, conta o presidente executivo, Joaquim Alves. O contínuo investimento na IFA é “evidente” porque o “foco é falar com distribuidores e retalhistas”, explica o responsável da empresa.

Já passámos fases em que ser orgulhosamente português tinha um cariz negativo. Os grandes players do mercado sabem o que somos, existimos há 40 anos. Somos orgulhosamente portugueses e reconhecidamente portugueses”, disse Joaquim Alves sobre a Flama ser das poucas empresas portuguesas na IFA.

Para o presidente executivo, que desde há quatro anos seguidos marca presença na feira (já tinham estado antes de 2010, mas durante uns anos estiveram noutro evento alemão mais focado em eletrodomésticos apenas), “o mercado português é muito pequeno e não nos permite ganhar escala”. Como explica, com 10 milhões de habitantes Portugal é “quase uma cidade grande” e, por isso, é necessário exportar. Atualmente, “cerca de 60%” do que fabricam exportam para fora de Portugal. Feiras como a IFA permitem tentar entrar noutros mercados, como a Alemanha, onde a marca ainda não está presente.

A entrada do stand da Flama na IFA. No canto do balcão aparecem os apoios estatais que a empresa recebe, como o Portugal 2020 e o fundos europeus

Este ano a marca apresentou na feira o COOKII Cooking Machine 2180FL, um robô de cozinha (que concorre diretamente com a Bimby) que se pode conectar a uma aplicação para smartphones que permite controlar o aparelho. Além deste eletrodoméstico, a empresa tinha em exposição, juntamente com outros produtos já disponíveis da empresa, uma nova máquina de café de cápsulas que apresentou na IFA, a Coffee maker 1244FL.

Tiago Venda Morgado, Egg Electronics: “Na Alemanha e no resto da Europa dão muito valor ao facto de sermos portugueses e produzirmos em Portugal”

Tiago Venda Morgado foi convidado pela distribuidora alemã Consutecc para mostrar a ficha elétrica para vários aparelhos a distribuidores

Ao contrário da Flama e da Airfree, a empresa de Tiago Venda Morgado é uma startup e está pela primeira vez representada na IFA. O que vende é uma tomada elétrica com múltiplas entradas, que resolve aquele problema para quem tem muitos carregadores e fichas e não consegue encaixar todos nas tomadas tradicionais.

Tudo começou em maio de 2013, quando o arquiteto, que falou em direto com o Observador para o Facebook, “fez um esboço” do produto que atualmente vende. Depois de falar com amigos engenheiros eletrónicos, avançou com a ideia em parceria com EDP Ventures. Em 2016, a Portugal Ventures tornou-se também num dos investidores. Só no ano passado é que Tiago passou pela IFA, mas “nada de oficial, sem stand”. Era apenas para conhecer.

A passagem pela IFA em 2017 foi o suficiente para conhecer a distribuidora alemã Consutecc, que este ano quis a EGG como parte do stand. “São uma empresa que aposta muito em startups e em produtos disruptivoss”, explica. Mesmo estando na IFA com a alemã Consutecc, a startup está na feira “orgulhosamente portuguesa” e Tiago Venda Morgado afirma convictamente a quem por lá passa: “É tudo feito em Portugal”. Já o objetivo na IFA? É o mesmo que têm outras grandes portuguesas: “Procurar mais distribuidores”.

“Hoje, há muita produção na China e quando dizemos a clientes e fornecedores que é tudo feito em Portugal, ficam muito mais interessados”, diz Tiago Venda Morgado.

Além de tomadas em branco, o produto principal da EGG tem capas temáticas que podem ser personalizadas e algumas das mais vendidas são alusivas a Portugal, com padrões de azulejos azuis e brancos, como se podia ver no stand. Mesmo sem o apoio da Consutecc, o fundador afirma que quer continuar a marcar presença na feira, da mesma forma que investe “para estar presente em eventos como a Web Summit”. Como explica, não é só para mostrar o produto, é também para conhecer distribuidores.

*O Observador esteve na IFA, em Berlim, a convite da LG Portugal