Em 2016, no último jogo da pré-época dos San Francisco 49ers antes do início da temporada de futebol americano nos Estados Unidos, Colin Kaepernick ajoelhou-se durante o hino nacional. O protesto do atleta contra a violência policial em relação aos afro-americanos e às injustiças raciais alastrou-se a outros jogadores de futebol americano e não só e dividiu o país. Na altura, Donald Trump insultou os atletas e pediu que fossem despedidos.
Agora, dois anos depois, Colin Kaepernick é uma das caras da campanha da Nike que assinala os 30 anos do mítico slogan “Just Do It”. O jogador de futebol americano – que depois de estar no centro da polémica acabou por deixar os 49ers, está sem clube e vai agora processar a National Football League (NFL) – surge na campanha numa fotografia a preto e branco com a frase “Believe in something, even if it means sacrificing everything”, acredita em alguma coisa, mesmo que signifique sacrificar tudo, em português.
Believe in something, even if it means sacrificing everything. #JustDoIt pic.twitter.com/SRWkMIDdaO
— Colin Kaepernick (@Kaepernick7) September 3, 2018
Além de Kaepernick, outros atletas como Odell Beckham Jr. e Serena Williams integram a campanha. Lançada esta segunda-feira, a campanha publicitária da Nike está a dividir novamente os Estados Unidos — assim como o jogador de futebol americano fez em 2016 — entre pessoas que estão revoltadas com o apoio da marca desportiva ao ativismo de Kaepernick e aquelas que acreditam que é uma genial manobra de marketing. Nas redes sociais, os vídeos e fotografias de pessoas a destruir produtos da Nike começam a multiplicar-se: incluindo uma imagem partilhada pelo cantor country John Rich, que aconselha a marca a “preparar-se”. E há ainda uma hashtag mobilizadara contra a marca: #justburnit, em alusão ao famoso slogan da marca ‘just do it’.
Our Soundman just cut the Nike swoosh off his socks. Former marine. Get ready @Nike multiply that by the millions. pic.twitter.com/h8kj6RXe7j
— John Rich???????? (@johnrich) September 3, 2018
First the @NFL forces me to choose between my favorite sport and my country. I chose country. Then @Nike forces me to choose between my favorite shoes and my country. Since when did the American Flag and the National Anthem become offensive? pic.twitter.com/4CVQdTHUH4
— Sean Clancy (@sclancy79) September 3, 2018
Por outro lado, muitos norte-americanos recordam que a camisola de Colin Kaepernick tornou-se a mais vendida da NFL logo depois do jogo onde o atleta se ajoelhou e em 2017, quando o jogador já nem sequer estava a atuar, era ainda a 39.ª camisola mais vendida nos Estados Unidos.
I’m just here to remind folks that last year Colin Kaepernick was in the top 50 in NFL jersey sales, despite not being on a roster. Nike made a business move.
— Jemele Hill (@jemelehill) September 3, 2018
Colin Kaepernick tinha um contrato com a Nike na altura em que se ajoelhou pela primeira vez que incluía representação total e equipamento desportivo personalizado e agora, de acordo com a BBC, esse acordo terá sido renegociado com melhores condições para que o jogador integrasse a campanha publicitária.
A verdade é que, mesmo que os fãs de futebol americano em particular e os cidadãos dos Estados Unidos no geral decidam fazer uma espécie de boicote à marca de desporto mais popular do mundo, será difícil para a NFL fazer o mesmo: a Nike é o patrocinador oficial da liga e de todas as 32 equipas.