Ou os legisladores europeus gostam de ser enganados, no que diz respeito aos consumos dos veículos com motor de combustão e às respectivas emissões para a atmosfera, ou, então, estão a tentar ‘impingir’ veículos e a conferir-lhes vantagens que sabem ser incorrectas e não fazem sentido. Estas são duas das possíveis explicações para a disparidade que encontramos quando comparamos os dados anunciados em solo europeu, mesmo através do método WLTP, que substituiu o ultrapassado e nada eficaz NEDC, com os consumos anunciados nos EUA, apurados através do sistema definido pela Agência de Protecção Ambiental norte-americana (EPA na sigla em inglês).
Partindo do princípio (facilmente demonstrável) que um modelo gasta e polui o mesmo, seja ele conduzido por um condutor europeu ou americano, tomemos como exemplo um veículo comercializado em ambos os lados do Atlântico, o BMW 530e – uma berlina familiar com 252 cv e um torque de 420 Nm, onde um motor de quatro cilindros a gasolina (um 2 litros de 184 cv) recebe ajuda de um motor eléctrico de 113 cv, que por sua vez é alimentado por uma bateria com uma capacidade (mínima) de 9,2 kWh.
Segundo a norma europeia, o 530e é capaz de percorrer 50 km em modo eléctrico, um verdadeiro milagre para uma bateria 9,2 kWh, e apenas 8 kWh utilizáveis. Ainda de acordo com WLTP, este mesmo BMW está homologado – e paga impostos em países como o nosso, mas não só – com um consumo médio de 1,9 litros/100 km, o que é uma impossibilidade (para este e para todos os outros híbridos plug-in), mesmo que se limitado aos primeiros 100 km, e nunca aos restantes, o que tão pouco faz sentido.
Já o sistema americano concede a este mesmo veículo, que é bom que se diga é tão apreciado lá como cá, uma autonomia em modo eléctrico de apenas 26 km, estimativa muito mais razoável e exequível. Depois, estabelece um consumo de 8,04 litros/100km, mais uma vez um valor muito mais aceitável. Daí que, para efeito de cálculos e análise, preferimos apoiarmo-nos no sistema EPA sempre que se impõe comparar a eficácia dos diferentes modelos. Mesmo se, no processo, temos de abrir mão dos modelos que são importantes no mercado europeu, mas que não vendem nos EUA, como é o caso do Renault Zoe.
Veja na fotogaleria o ranking dos veículos eléctricos que mais quilómetros conseguem percorrer com apenas uma carga de bateria, sendo que os valores determinados pela EPA foram convertidos em quilómetros, por motivos óbvios. Ainda assim, é impressionante que a autonomia oscile entre 95 e 539 km. E, porque o futuro está já ali ao virar da esquina, a tabela já inclui os Jaguar I-Pace (que já está à venda, mas apenas em alguns países), Mercedes EQC (que só vamos ver no final de 2019) e Audi e-tron, cuja produção já começou e que vai ser apresentado a 17 de Setembro.