O Papa Francisco demitiu na semana passada um padre chileno acusado de abusos sexuais. De acordo com um comunicado da arquidiocese de Santiago, o Papa Francisco demitiu do estado clerical o até agora padre Cristián Precht Bañados e dispensou-o oficialmente de todas as obrigações sacerdotais, devendo agora o ex-sacerdote enfrentar um julgamento civil no Chile.

A demissão deste padre é o primeiro ato concreto da justiça do Vaticano sobre o escândalo de abusos sexuais no Chile desde que, em maio deste ano, os 34 bispos chilenos apresentaram a renúncia ao Papa Francisco.

O escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros do clero no Chile reacendeu-se no início deste ano com a visita do Papa Francisco àquele país. A viagem motivou novamente fortes críticas contra o bispo Juan Barros, acusado de encobrir durante décadas abusos sexuais praticados pelo padre Fernando Karadima — que, aliás, foi condenado em 2011 pelo Vaticano e suspenso das funções de sacerdote.

Bispos chilenos apresentaram renúncia ao Papa

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Karadima era considerado um protegido do bispo Juan Barros, que, em 2015, foi nomeado pelo Papa Francisco como bispo da cidade de Osorno. A nomeação não agradou à comunidade católica chilena.

Na viagem ao Chile, entre 15 e 18 de janeiro, foram várias as vítimas do padre Karadima que vieram a público exigir um pedido de desculpas do Papa. Mas o Papa respondeu que tudo eram “calúnias”. “No dia em que vir uma prova contra o bispo Barros, então falarei. Não há uma única prova contra ele. É tudo calúnia. Está claro?”, disse Francisco.

As palavras do Papa Francisco causaram um choque de grandes dimensões no país e por todo o mundo, com cardeais de topo — incluindo o cardeal Seán O’Malley, o homem forte do Papa na luta contra os abusos sexuais — a vir criticar publicamente o líder da Igreja Católica por ter causado “grande dor” às vítimas

O Papa veio depois pedir desculpa pelo que disse. “O drama dos abusados é tremendo. O que é que sentem as vítimas? Tenho de pedir-lhes desculpa, porque a palavra ‘prova’ feriu. A minha expressão não foi feliz. Peço desculpa se as feri, sem me aperceber, sem o querer. Dói-me muito”, disse Francisco no voo de regresso do Chile a Roma.

O que é que a Igreja está (mesmo) a fazer para acabar com os abusos sexuais?

Na sequência da polémica, o Papa Francisco decidiu ordenar uma investigação de grandes dimensões ao escândalo no Chile. Em maio, os bispos chilenos foram convocados pelo Papa para uma reunião no Vaticano para discutir o assunto — e foi na sequência dessa reunião que decidiram, coletivamente, colocar os seus lugares à disposição de Francisco.

O padre Cristián Precht Bañados já tinha sido suspenso do ministério sacerdotal em 2012, depois de o arcebispo de Santiago ter ordenado uma investigação sobre alegações de abusos sexuais. Na altura foram encontradas suspeitas credíveis, mas o sacerdote negou sempre as acusações.

Precht tornou-se conhecido no Chile por ter sido um grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura de Augusto Pinochet, tendo-se tornado num herói nacional e símbolo da defesa da dignidade humana no país.

A decisão de um Papa decretar diretamente e ex officio a demissão de um padre é uma decisão rara, mas é uma das formas previstas nos procedimentos postos em prática pela Igreja Católica para lidar com os abusos sexuais. Segundo as normas da Igreja, “em casos muito graves em que um julgamento criminal civil declarou o clérigo culpado de abuso sexual de menores ou quando há provas esmagadoras”, a Congregação para a Doutrina da Fé pode optar por levar o caso diretamente ao Papa. Esta decisão não é passível de recurso para nenhuma instituição da Igreja.