O ex-conselheiro de Bill Clinton e Barack Obama, Gregory Craig, foi acusado por um tribunal federal de ter trabalhado enquanto lobista para o governo ucraniano em 2012, sem que tenha feito o registo legalmente exigido nos EUA a todos os cidadãos que façam aquele tipo de trabalho para um governo estrangeiro.

Gregory Craig é o primeiro democrata a ser apanhado por uma das várias ramificações que a investigação do procurador especial Robert Mueller fez ao alegado conluio entre a campanha de Donald Trump e a Rússia.

Gregory Craig é suspeito do mesmo crime do que o ex-diretor de campanha de Donald Trump Paul Manafort, que trabalhou em 2010 para o ex-Presidente da Ucrânia Viktor Yanukovitch em 2010. Em março, Paul Manafort foi condenado a 7 anos e meio de prisão, por não se ter declarado como lobista e também por crimes financeiros.

Depois de sair da Casa Branca de Barack Obama, em 2010, Gregory Craig tornou-se sócio da firma de advogados Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom — conhecida simplesmente por “Skadden” —, de Nova Iorque. Em 2012, a meio do mandato presidencial de Viktor Yanukovitch, a Skadden foi contratada pelo Ministério de Justiça para elaborar um relatório com sugestões para a condenação de Yulia ­Tymoshenko, ex-primeira-ministra da Ucrânia e adversária política daquele ex-Presidente ucraniano.

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De acordo com o Washington Post, o relatório final chegava às 187 páginas e deixava, além de várias críticas a Yulia ­Tymoshenko, uma avaliação positiva e encorajadora da ação do Ministério da Justiça durante a presidência de Viktor Yanukovitch. Segundo aquele jornal, o tom do relatório era positivo ao ponto de o próprio Paul Manafort ter admitido que chegou a usá-lo como instrumento de promoção de Viktor Yanukovitch fora da Ucrânia.

O Washington Post refere ainda que, apesar de a firma de advogados de Gregory Craig ter declarado que o relatório foi cobrado a 12 mil dólares (cerca de 10.600 euros), Paul Manafort, que trabalhou com Viktor Yanukovitch logo desde a campanha eleitoral de 2010, contou que arranjou maneira de fazer chegar, através de uma conta offshore, mais de 4 milhões de dólares (3.5 milhões de euros) à Skadden.

Os investigadores sustentam a acusação em contactos que Gregory Craig fez com a imprensa norte-americana, entre o final de 2012 e 2013. Além de um telefonema para o The New York Times, onde terá falado do relatório da Skadden, entrou em contacto com outras redações para reagir a “imprecisões” em notícias relativas à Ucrânia, reforçando ainda assim que não era “de maneira alguma um agente ao serviço da Ucrânia”.

O facto é que, mais tarde, já em janeiro de 2019, a Skadden concordou pagar 4,6 milhões de dólares (mais de 4 milhões de euros) ao Departamento de Justiça, reconhecendo que devia ter declarado que trabalhou para o governo da Ucrânia.

A defesa de Gregory Craig recusa qualquer culpabilidade do seu cliente. “O Sr. Craig não é culpado de qualquer crime”, lê-se na nota de imprensa dos seus advogados, citada pelo Washington Post. Ainda de acordo com aquele jornal, os advogados dizem que a “a teimosia do governo em julgar o Sr. Craig é um abuso discricionário dos procuradores”.