Em Faro, Pedro Marques teve o reforço máximo do partido, o líder António Costa, mas acabou por ser ele a marcar a noite com um discurso curto e direto ao adversário, no dia em que considera que “a campanha eleitoral foi longe de mais”. O candidato socialista às Europeias referia-se ao voo de helicóptero que Paulo Rangel fez esta terça-feira para sobrevoar a zona dos incêndios de 2017. O líder do PS havia de se juntar à crítica forte, dizendo “compreender bem a raiva” do seu candidato: “É a raiva de quem está há muitos anos na vida política sabendo que ela não se faz a andar de helicóptero, mas com os pés no chão, cara a cara com as pessoas“.
Apesar do reforço do comício de Faro ser de luxo, foi Pedro Marques quem dominou o púlpito com uma intervenção sentida em que atacou a ação de campanha do social-democrata: “Na corrida pelo oportunismo político mais lamentável Rangel ganhou de longe. Ele escolheu sobrevoar a dor das pessoas e do território, desiludiu os que lá esperavam, mesmo com dois anos de atraso, uma palavra, um gesto, um momento de ouvir e compreender”. Deixou a sala de cerca de 200 pessoas em silêncio nos cerca de seis minutos em que falou. O socialista aproveitou as declarações desta tarde do presidente da Câmara da Pampilhosa da Serra, eleito pelo PSD, indignado com a ação de campanha de Rangel. José Brito disse que lhe apeteceu “gritar” quando soube do voo do PSD, que considerou “uma afronta”.
Marques disse “conhecer bem” o autarca do PSD que “interpretou o sentimento das suas gentes considerando que esta foi uma afronta à população de Pampilhosa. Falou de um desrespeito total pelas pessoas do território.” E falou no trabalho que fez na região, quando ainda estava no Governo, e em como lá esteve no dia seguinte à tragédia de Pedrógão Grande: “Nesse dia, o primeiro-ministro, eu e outros membros do Governo estávamos a reunir com os presidentes dos concelhos mais afetados, levámos o conforto mas também capacidade de ação”.
Isto para traçar a diferença face a Rangel, dizendo que “uns sujam as mãos, outros sobrevoam as dificuldades espreitando cada oportunidade de arrebanhar uns votos que parecem fáceis” e falando contra “políticos superficiais que não conhecem o país e já só conhecem os corredores de Bruxelas”.
Costa aplaude campanha de Marques: “Sê igual a ti próprio”
António Costa subiu ao palco logo a seguir às palavras de Pedro Marques para pedir uma política que seja “muito mais do que isto”: “Vamos escolher e votar pela dignidade política”. E subiu para dizer logo à cabeça ser difícil falar depois daquele discurso e de ter ouvido o seu candidato “falar com a raiva que lhe vai no coração”. Costa reconhece que não tem na estrada das Europeias um candidato com valências mediáticas, mas considera que essa é uma vantagem: “Há uma diferença entre os que escolhem bons candidatos para aparecer na televisão e os que escolhem bons deputados para representar a nação”. E aconselhou o candidato — que tem sido criticado pela campanha oficial menos efusiva, mais controlada e dentro de portas — a ser ele mesmo, já que “a política não é um espetáculo para as televisões, não são campanha negras, arregimentando nas redes sociais perfis falsos para denegrir. Isso não é política, é sujeira”, disse Costa apontando a um caso recente que envolveu um consultor do PSD.
Pedro, sê igual a ti próprio. Não vamos entrar no concurso das piadinhas nem na campanha suja. Podemos não agradar aos comentadores e às televisões mas agradamos à nossa própria consciência. “
Costa já tinha estado no domingo ao lado de Pedro Marques, mas nesse discurso, com o candidato apoiado pelo PS à comissão Frans Timmermans no pavilhão do almoço de Mangualde, o líder socialista não referiu uma única vez o seu candidato no discurso que fez. Desta vez a primeira parte da intervenção foi toda concentrada no homem que escolheu como cabeça de lista do PS às Europeias.
Lombo assado, Coelho em brasa e Costa que esqueceu o candidato do PS às Europeias
Disse que “o Pedro Marques não está há dez anos em Bruxelas sem que uma pessoa seja capaz de dizer uma coisa útil que tenha feito pelo país” e no caso de existirem dúvidas sobre a quem se estava a referir, nomeou mesmo os seus alvos, dirigindo-se ao seu candidato: “Não sei se vais estar dez anos no Parlamento Europeu, mas mesmo que estejas lá seis meses farás mais do que Rangel e Melo fizeram em dez anos”.
Também lhe puxou pela experiência política, como “vereador do Montijo, secretário de Estado”, pela “reforma da Segurança Social que toda a Europa aponta como modelo de coragem e de visão” e pela “renegociação do último quadro” comunitário de apoio. Mas mesmo aqui voltou à crítica que os socialistas elegeram para o discurso da noite dizendo que esse quadro trouxe 1700 milhões de euros para as regiões de baixa densidade e que “é assim que desenvolvemos o interior, não é andando a sobrevoar o interior de helicóptero”.
Costa terminou a pedir “mais força” para Portugal poder ter “melhores pelouros” no futuro Governo comunitário e voltou a falar de Rangel e Melo como rostos dos que “querem impor a Portugal austeridade”.