O grupo dos eurodeputados socialistas portugueses já estabeleceu as prioridades para os cargos a ocupar no novo Parlamento Europeu. E quer Pedro Silva Pereira, que foi ministro da Presidência durante o governo de José Sócrates e um homem próximo da liderança do antigo primeiro-ministro, como vice-presidente do Parlamento Europeu.

As opções foram dadas a conhecer num email assinado por Carlos Zorrinho e enviado à direção do grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D, o grupo a que pertencem os eurodeputados do PS) e a que o Observador teve acesso.

Zorrinho, que recentemente voltou a ser eleito líder da delegação do Partido Socialista no Parlamento Europeu, confirma a escolha e, ao Observador, explica que esta proposta faz parte do “processo negocial. Indicamos as nossas preferências já com nome porque isso as reforça. Se uma delegação é hesitante, perde capacidade negocial. Se diz logo o que quer, isso permite interações”, detalha.

O eurodeputado diz que a escolha de Silva Pereira “foi uma decisão da delegação. A nossa delegação entendeu que a indicação desse nome era boa na economia geral da proposta”, argumenta. O antigo braço direito de Sócrates foi uma figura pouco ou nada presente na caravana oficial do PS, durante o período oficial de campanha. Foram raras as vezes que surgiu junto do cabeça de lista Pedro Marques. Aconteceu no comício de Guimarães, por exemplo, mas pouco mais e nunca discursou, ao contrário das número dois e quatro da lista, Maria Manuel Leitão Marques e Margarida Marques. Silva Pereira era o número três. Facto que foi usado pela oposição para atacar o PS.

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Zorrinho diz que a delegação não teme qualquer polémica, com a escolha deste nome, e garante que “na delegação nenhum dos nove deputados teve essa perceção”, quando questionado sobre o ruído que isso poderia causar tendo em conta a colagem ao ex-primeiro-ministro socialista acusado de 31 crimes (corrupção passiva branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada). “É um excelente eurodeputado e com toda a capacidade para exercer qualquer cargo”, garante o líder da delegação do PS que diz que Silva Pereira “tem uma vantagem que é ser repetente. É muito reconhecido e, na economia geral da proposta, isso era importante. A sua prestação como eurodeputado foi, no geral, muito reconhecida”.

O novo hemiciclo, com os deputados eleitos nas últimas eleições europeias, toma posse em Estrasburgo no dia 2 de julho e nesse dia espera-se que consiga já ser eleito o novo Presidente do Parlamento Europeu. Até lá decorrem as negociações para ocupar todos os outros lugares que, entretanto, ficam vagos.

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O email enviado pelos socialistas aponta ainda outros cargos de topo que a delegação portuguesa pretende ocupar. Para a eurodeputada que foi eleita em segundo lugar na lista do PS, a ex-ministra Maria Manuel Leitão Marques, Zorrinho propõe duas vice-presidências: ou a da Comissão de Indústria, Investigação e Energia ou a do Mercado Interno e Proteção dos Consumidores.

Carlos Zorrinho reconduzido na liderança da delegação do PS no Parlamento Europeu

A preferência vai claramente para a primeira comissão, na condição de que os socialistas portugueses garantam ali dois eurodeputados. Para isso, admitem até a hipótese de ter apenas um eurodeputado suplente na comissão de Mercado Interno. Caso contrário, preferem garantir a Leitão Marques a vice-presidência na Comissão de Mercado Interno.

Outra das pastas onde os socialistas querem garantir presença forte é a dos Orçamentos, onde se propõe Margarida Marques também para número dois. Finalmente, o próprio Carlos Zorrinho quer manter em mãos portuguesas a presidência do grupo de trabalho EuroLat, dedicado às relações entre a Europa e a América Latina. Até agora a chefiar este grupo, onde na última legislatura Zorrinho já participava, estava o eurodeputado Francisco Assis que agora regressa de Bruxelas.

Uma das curiosidades da lista de preferências enviada pelos socialistas portugueses é a ausência de lugares propostos para Pedro Marques, que foi cabeça de lista do PS nas europeias. Em Bruxelas há quem já veja aqui a garantia de que Marques está bem encaminhado para um lugar como comissário Europeu, possibilidade que o governo português não desmente.

Confrontado com esta ausência, Zorrinho diz apenas que a “proposta é uma base de negociação”, recusando quaisquer outras interpretações.

O S&D manteve-se como segunda força política no hemiciclo ao eleger 153 deputados, menos 34 do que na atual legislatura.

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