O primeiro-ministro, António Costa, assumiu esta terça-feira ter sido convidado para exercer um dos cargos de topo da União Europeia, tendo recusado por estar “exclusivamente” dedicado ao seu compromisso com Portugal e os portugueses.

“É sabido que sim”, respondeu sucintamente o primeiro-ministro ao ser questionado sobre se teria sido convidado para desempenhar um dos cargos incluídos no “pacote” esta terça-feira fechado pelo Conselho Europeu.

Já há acordo para distribuição de cargos de topo da UE. Costa admite “desilusão dos socialistas”

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Escusando-se a entrar em pormenores, António Costa recordou que o seu compromisso é “com os portugueses, com Portugal e em Portugal nos próximos anos, exclusivamente”.

Já disse o que tinha a dizer várias vezes sobre essa matéria. Não tenciono desertar de Portugal. Estou muito empenhado em continuar a fazer aquilo que tenho vindo que a fazer, como aliás está provado”, reforçou.

O primeiro-ministro já tinha declarado não ser candidato “a nada” na hierarquia europeia.

Questionado então pelos jornalistas sobre notícias na imprensa internacional, designadamente no Financial Times, que o apontavam como eventual candidato surpresa à sucessão de Donald Tusk como presidente do Conselho Europeu, António Costa afirmou que tal “é muito elogioso”, mas disse que, “seguramente”, não seria candidato na “guerra dos tronos da União Europeia”.

“Eu não sou candidato a nada a não ser às funções que exerço em Portugal”, asseverou, sublinhando estar “muito concentrado” no seu trabalho em Portugal.

Na altura, Costa voluntariou-se para ser parte “ativa na decisão de qual deva ser a equipa dirigente da UE a seguir às eleições europeias”, uma disponibilidade que o levou a ser, juntamente com o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, o negociador dos socialistas europeus nas discussões entre aquela família política, o Partido Popular Europeu e os liberais sobre as nomeações para os cargos de topo da União Europeia.

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“Manifestamente, o presidente Tusk não exerceu bem as suas funções”, diz Costa

António Costa juntou-se entretanto ao “coro” de críticas ao presidente do Conselho Europeu, considerando que Donald Tusk “manifestamente” não exerceu bem as suas funções e conduziu de forma “atabalhoada e caótica” os trabalhos da cimeira europeia.

Ressalvando que é inevitável que o processo de negociação das nomeações dos altos cargos da União Europeia seja moroso, dada a complexidade da equação, o primeiro-ministro reconheceu que o Conselho Europeu que esta terça-feira terminou após três dias de discussões foi mais demorado por estar “tão desorganizado”.

“Mas isso tem a ver com o presidente deste Conselho, que não revelou particular habilidade na gestão deste processo”, apontou, argumentando que as reuniões quando são mal preparadas, “necessariamente” levam a “Conselhos particularmente difíceis”.

Para António Costa, “quem exerce certas funções deve ter a competência para saber conduzir processos desta natureza e não permitir que as coisas decorram da forma atabalhoada e caótica como ocorreram” ao longo dos três dias de cimeira. “Manifestamente, o presidente Tusk não exerceu bem as suas funções”, reiterou, antes de instar a que todos o deixem terminar com dignidade o seu mandato.

Na segunda-feira, após a suspensão dos trabalhos da reunião extraordinária dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia, o Presidente francês, Emmanuel Macron, já tinha deixado uma crítica implícita ao político polaco.

Desejo que durante este processo tomemos o tempo necessário para escolher a equipa certa, uma que permita ter reuniões mais bem preparadas e aceder a soluções concretas”, disse Macron.

Os líderes dos 28 chegaram à cimeira europeia às 18h00 locais de domingo (menos uma hora de Lisboa) e estiveram reunidos, a 28 mas também em encontros bilaterais e várias rondas de consultas, durante 18 horas, antes que o político polaco reconhecesse o “fracasso” das negociações e agendasse o reinício da reunião extraordinária para as 11h00 desta terça-feira.

Contudo, esta terça-feira, o reinício dos trabalhos foi sendo sucessivamente atraso, por estarem a decorrer encontros bilaterais e outras reuniões entre líderes europeus. Retomada às 16h20 (hora local), a cimeira europeia voltou a ser interrompida uma hora depois, antes de os chefes de Estado e de Governo dos 28 regressarem à sala para fechar o acordo sobre as nomeações para os cargos de topo da UE.

Os líderes indicaram a conservadora alemã Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia, o primeiro-ministro belga em funções, o liberal Charles Michel, para a presidência do Conselho Europeu, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, o socialista Josep Borrell, como Alto Representante da UE para a Política Externa e ainda a francesa Christine Lagarde para o Banco Central Europeu.