“Cada um dos membros desta instituição, democráticos e republicanos, deve-se juntar a nós na condenação aos tweets racistas dos presidentes.” O apelo partiu de Nancy Pelosi, líder da Câmara dos Representantes. E os membros da instituição aderiram. Nem todos, é certo; mas o suficiente para aprovar a moção de condenação aos comentários de Donald Trump sobre quatro congressistas democratas.

A moção, aprovada na madrugada desta quarta-feira, serve para mostrar que os Estados Unidos condenam formalmente as mensagens de Trump no Twitter e criticar quem o apoia e defende a sua opinião. “O mundo está atento”, sublinhou a democrata californiana Karen Bass.

Enquanto 235 democratas e um independente votaram a favor da moção, 187 republicanos foram contra a medida. A “surpresa” da noite foi o facto de quatro republicanos terem votado a favor da condenação.

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A câmara reprovou assim com 240 votos as afirmações do Presidente dos EUA em que disse a Ayanna Pressley, Rashida Tlaib, Alexandria Ocasio Cortez e a Ilhan Omar para “voltarem para os países infestados de crime de onde vieram”. Trump comentou ainda que estas quatro congressistas “reclamam constantemente” e que “odeiam os Estados Unidos”. Todas elas têm nacionalidade norte-americana e três nasceram nos Estados Unidos.

Donald Trump já reagiu à votação: no Twitter, saúda a união do partido republicano e fala em casamento entre os democratas e “a amargura e o ódio”.

Quem são os quatro republicanos que votaram contra Trump?

Will Hurd (Texas), Susan Brooks (Indiana), Brian Fitzpatrick (Pensilvânia) e Fred Upton (Michigan). São estes os nomes que “desafiaram” o seu líder.

“Trump devia falar das coisas que nos unem, não das que nos dividem”, defendeu Hurd. O republicano afirma que os comentários do presidente foram “racistas e xenófobos” e sem razão, uma vez que “as mulheres são cidadãs dos Estados Unidos”.

Para Susan Brooks as palavras de Trump não representam “os valores da América”. “As nossas palavras e a forma como as dizemos têm um impacto eterno em quem as ouve”, disse ainda a congressista que se vai reformar em breve.

Fitzpatrick admite que concorda quase sempre com o seu presidente, mas afirma que não consegue ficar ao lado de Trump quando este fala “naquele tom”.

O republicano do Michigan Fred Upton também votou a favor da moção, dizendo que “a América aceita a diversidade e que assim deve continuar”.

Ainda na terça-feira, antes da votação, o presidente norte-americano afirmara não ser racista. “Os tweets não foram racistas. Não tenho um osso racista que seja no meu corpo”, afirmou. Trump apelou ainda aos membros republicanos da Câmara para não caírem naquilo a que chama “uma armadilha” nem mostrarem fraqueza na votação.

Tem razão, Sr. Presidente: o senhor não tem nenhum osso racista no corpo. O senhor tem uma mente racista na cabeça, e um coração racista no peito”, escreveu no Twitter a representante dos democratas de Nova Iorque, Alexandria Ocasio-Cortez.

Dois republicanos de renome também “corroboraram” a versão de Trump. “O presidente não é racista”, defenderam Mitch McConnell (líder da maioria do Senado) e Kevin McCarthy (líder da minoria).

Já a líder dos Representantes — bastante crítica de Donald Trump — evitou a palavra “racista”. Nancy Pelosi afirmou também que não condenar Trump pelos seus comentários seria uma “rejeição dos valores norte-americanos e uma abdicação vergonhosa do juramento”.

É uma vergonha continuar a ouvi-lo defender estas palavras tão ofensivas, palavras que todos o ouvimos repetir, não só sobre os nosso membros (do executivo norte-americano) mas também sobre tantos outros”, comentou Pelosi durante a sessão.

Mas Donald Trump ainda não tinha terminado. Pelo terceiro dia consecutivo — e no dia em que seria “julgado” pelos comentários — voltou a usar o Twitter para acusar quatro mulheres democratas de dizerem “as coisas mais vis, odiosas e nojentas” que um “político alguma vez disse no Senado”.

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Apesar de os democratas terem vencido a votação por alguma margem, a Câmara dos Representantes esteve dividida na votação e a sessão foi “invadida” por várias opiniões. Os democratas afirmaram que a votação era um teste para o Congresso e para a nação norte-americana. Disseram também que este dia era há muito esperado. Já os republicanos defenderam que a moção foi um “assédio ao presidente”, como comentou Dan Meuser.

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Comentários reforçaram apoio dos republicanos a Donald Trump

O presidente americano é agora mais apoiado pelos republicanos depois dos posts. Uma sondagem da agência noticiosa Reuters e da empresa Ipsos realizada entre segunda e terça-feira mostra que o apoio a Trump dentro do Partido Republicano cresceu cinco pontos percentuais, face a uma sondagem idêntica realizada na semana passada.

Donald Trump tem agora uma taxa de 72% de aprovação entre os membros do Partido Republicano. Ainda assim, e desde domingo, o chefe da Casa Branca perdeu apoio de democratas e independentes, acrescenta a Reuters.

Na semana passada, quatro de dez independentes disseram que apoiavam Trump. Na nova sondagem, esse número diminuiu para três apoiantes. Quanto aos democratas, a diferença entre quem apoia e está contra o presidente desceu dois pontos.

De acordo com a sondagem, durante a semana 41% dos norte-americanos mostraram-se a favor da governação de Trump, enquanto 55% afirmaram que são contra a atual política do presidente.