O milionário Jeffrey Epstein viveu uma vida de luxo: entre as festas em mansões e naquela que ficou conhecida como “ilha das orgias”, o empresário andava frequentemente acompanhado de mulheres, modelos e figuras importantes da política e sociedade norte-americanas. Mas Epstein, que se suicidou no dia 10 de agosto na cela onde estava preso por tráfico e abuso sexual de menores, rodeou-se também de cientistas, professores de Harvard, autores e vencedores do prémio Nobel, noticia o The Guardian.

Da lista de figuras importantes da ciência que pertenceram ao universo de Jeffrey Epstein, constam nomes como o físico e autor Stephen Hawking, o biólogo Stephen Jay Gould, o neurologista Oliver Sacks, o engenheiro George Church e o físico Frank Wilczek.

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O Guardian escreve esta segunda-feira que o milionário fazia jantares na sua mansão em Manhattan e convidava tanto cientistas como modelos e outras pessoas do mundo da moda. “Às vezes, virava-se para a esquerda e fazia perguntas relacionadas com ciência. Depois, virava-se para a direita e pedia a uma modelo para lhe mostrar o portefólio”, relembra um cientista que quis ficar anónimo, citado pelo jornal britânico. A mesma fonte acrescenta que, nestes eventos, não havia qualquer interação entre os dois tipos de convidados.

Jaron Lanier, um cientista da NASA referiu que Epstein convidava várias mulheres atraentes e com bons currículos porque tinha um plano em mente na área da genética pela qual se interessava: melhorar o ADN humano engravidando várias mulheres.

Jeffrey Epstein queria engravidar dezenas de mulheres para “melhorar” o ADN humano

Em 2002, Martin Nowack, professor de biologia e matemática e líder de um programa de dinâmicas da evolução na universidade de Harvard, lembrou um jantar no qual foi buscar um quadro e deu uma aula de matemática de duas horas a Epstein sobre como a linguagem funciona. “O Jeffrey tem a mente de um físico. É como falar com um colega do nosso campo. Às vezes, aplica o que aprende na vida. Outras vezes é só por curiosidade. Ele mudou a minha vida. Sinto que consigo fazer qualquer coisa, por causa do apoio dele”, disse na altura.

Epstein chegou a reunir-se com 21 físicos na sua ilha privada, em 2006, para discutirem questões relacionadas com a lei da gravidade. Segundo o New York Times, o empresário utilizou mesmo um submarino para fazer transportar alguns dos cientistas — incluindo Stephen Hawking — para a ilha. Há relatos de que, durante o encontro, o milionário teve sempre ao seu lado a companhia de três a quatro mulheres.

O norte-americano, que morreu aos 66 anos, doou milhões de dólares a organizações como a Universidade de Harvard e o MIT. Definia-se a si próprio como um “filantropo da ciência”. Alguns destes institutos continuaram a receber dinheiro do milionário mesmo depois da sua condenação por tráfico e abuso sexual em 2008, enquanto outras organizações cortaram relações com o empresário.

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Joi Ito, diretor do Media Lab do MIT, pediu desculpa na semana passada por ter aceitado doações de Epstein. “Aceito toda a responsabilidade pela minha falha de bom senso. Peço imensa desculpa às vítimas, ao Media Lab e à comunidade do MIT por ter trazido tal pessoa para a nossa rede”, declarou, afirmando que está “arrependido”. Também o Instituto de Santa Fe se distanciou de Epstein e uma porta-voz anunciou que a organização está a pensar doar 25 mil dólares — valor oferecido pelo empresário em 2010 — a uma instituição de caridade que lida com vítimas de tráfico sexual.

Também muitos dos cientistas começaram a afastar-se do milionário depois de 2008. As mesmas pessoas voltaram a condenar Jeffrey Epstein em julho, na sequência da sua detenção. Ainda assim, houve quem continuasse a defender o milionário. Foi o caso de Lawrence Krauss, ex-físico da Universidade do Arizona: “Como cientista, julgo sempre tudo com base em provas empíricas. Ele tinha sempre a companhia de jovens de 19 ou 23 anos, mas nunca vi nada de mais”, declarou em 2011. “Não me sinto diminuído pela minha relação com o Jeffrey; sinto-me orgulhoso”, acrescentou.