No final de maio os EUA emitiram um decreto executivo que proibia negócios com a Huawei. Rapidamente, e depois do alvoroço criado por isso cessar parcerias com a maioria das empresas tecnológicas norte-americanas — como a Google, que detém o Android, ou a fabricante de chips Qualcomm —, houve uma suspensão dos efeitos do embargo. Essa suspensão terminava esta segunda-feira, mas foi alargada por mais 90 dias, avançou a Reuters.

A extensão de 90 dias “tem como objetivo possibilitar que os consumidores nos EUA tenham o tempo suficiente para deixarem de utilizar equipamentos da Huawei tendo em conta a ameaça para a segurança nacional”, disse o governo norte-americano.

Em comunicado, o departamento do Comércio dos EUA afirmou: “Enquanto continuamos a incentivar que os consumidores deixem de utilizar produtos da Huawei, reconhecemos que é necessário mais tempo para prevenir qualquer disrupção”. Wilbur Ross, Secretário do Comércio dos EUA, disse ainda que mais 46 empresas ligadas à Huawei foram anexadas à “lista negra” e que estão proibidas de negociar com a tecnológica chinesa. Ao todo, já são mais de 100 empresas afiliadas da Huawei, além da própria, que fazem parte desta lista.

Governo norte-americano proíbe agências governamentais de comprarem equipamento à Huawei e a outras quatro empresas chinesas

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Os negócios não têm estado fáceis para a Huawei. Mesmo com a suspensão em vigor, o futuro da empresa continua incerto,. Ao não poder negociar com tecnológicas como a Google ou a Intel, o negócio da venda de smartphones e os contratos de vendas de componentes e antenas que tem em vários países podem estar ameaçados. Tudo porque os EUA afirmam que a Huawei utiliza as suas tecnologias para espiar a favor do governo chinês, algo que a empresa tem negado veementemente. Segundo o Financial Times, a vontade do executivo norte-americano em permitir relações com a empresa não é muita, mesmo com a prorrogação do embargo. Donald Trump, Presidente dos EUA, disse este fim-de-semana que “não queria de todo fazer negócios” com a Huawei.

EUA. Huawei já pode negociar com empresas, mas continua numa “lista negra”

A polémica com a Huawei tem estado no centro da guerra comercial entre a China e os EUA. Enquanto não há acordo para o fim do conflito económico, e sem uma decisão definitiva por parte do governo dos EUA, várias empresas norte-americanas têm pedido à Casa Branca mais orientações.

A Huawei anunciou recentemente que vai lançar o seu próprio sistema operativo, que poderá vir a concorrer com o Android, que é utilizado como base dos smartphones da empresa, uma medida que foi encarada como um dos planos da Huawei para mostrar que pode não vir a depender tanto de empresas norte-americanas.

Com o prolongamento da suspensão do embargo, as empresas norte-americanas podem continuar a negociar com a tecnológica chinesa. Contudo, será apenas até novembro, o que pode ser entendido como um passo intermédio que pode mudar o rumo do conflito económico. Mas, com a linguagem do comunicado do governo americano, e mesmo com prorrogação, a Huawei pode ficar definitivamente impedida de negociar com a empresas dos EUA.

Em 2018, a Huawei gastou cerca de 10 mil milhões de euros a comprar componentes a empresas norte-americanas. A empresa chinesa depende de ligação a empresas dos EUA para continuar a fabricar produtos como tem feito até à data. Além do software Android, a tecnológica precisa de utilizar chips e ter licenças para fabricar vários dos produtos.

O governo chinês afirmou, antes de ser conhecida a prorrogação, que queria que os EUA “cumprissem os compromissos”, como noticiou a agência Lusa. Além dos EUA, outros países, como a Austrália, a Nova Zelândia ou o Japão têm também imposto restrições à Huawei com a justificação de que é um perigo para a soberania dos Estados.

A Huawei ainda não reagiu publicamente ao comunicado emitido pelo departamento do Comércio dos EUA. No final desta manhã, o Observador tentou obter resposta da gigante chinesa quanto ao impacto que esta medida vai gerar no negócio da empresa em Portugal e como é que vai agir tendo em conta que o executivo norte-americano não quer fazer “de todo” negócios com a Huawei. Até ao momento não obteve resposta. À agência Lusa a empresa enviou um comunicado no qual refere que a prorrogação não muda o “tratamento injusto” e pede aos EUA para que “remova” da lista de entidades que não podem negociar no país.

Huawei diz que prorrogação de prazo para negócios nos EUA não muda “tratamento injusto”

*Notícia atualizada às 15h27 com justificação do alargamento da suspensão do embargo imposto à Huawei e às 19h31 com reação da empresa enviada por comunicado à Agência Lusa.