A origem do surto está identificada: carne “La Mechá”, da empresa Magrudis. Em cinco dias, a listeriose já atingiu a denominação de “o maior de sempre” em Espanha. Há 131 casos confirmados de pessoas infetadas, das quais 53 continuam internadas, um morto registado e duas grávidas internadas no hospital perderam os bebés, estando em investigação se os abortos foram causados pela bactéria.

Na madrugada de segunda-feira, foi registado o primeiro caso de morte associado ao surto. Uma mulher de 90 anos, residente na Andaluzia não resistiu à infeção causada pela presença da bactéria Listeria monocytogenes nos alimentos. Apesar do número de infetados já ser o maior da história, de acordo com Jesús Aguirre, médico e conselheiro de saúde na Junta da Andaluzia, há ainda a hipótese de este número vir a aumentar uma vez que “os sintomas da doença podem demorar mais de quatro semanas a aparecer”. Esta quarta-feira, o responsável admitiu, numa entrevista à Rádio Cope que o número de doentes pode ultrapassar os 500.

Jesús Aguirre admitiu ainda que o surto “podia ter sido detetado mais cedo”, mas que se atuou “com celeridade” depois de identificar a carne “La Mechá” como a origem do problema. “Sabíamos que alguma coisa se estava a passar no início de agosto porque tivemos um ressalto no número de casos. Mas até o primeiro surto familiar ocorrer a pesquisa epidemiológica não nos levou até dois ou três produtos. No dia 14 confirmou-se que a origem estava em “La Mechá” e suspendeu-se a saída da carne. Decretámos o alerta sanitário no dia seguinte”, explicou o conselheiro de saúde.

A maior parte dos casos de pessoas infetadas pela bactéria regista-se em Sevilha e Huelva, onde 22 pessoas permanecem hospitalizadas, três delas nas unidades de cuidados intensivos.

Apesar de ainda não ter sido confirmado se os lotes estavam totalmente contaminados pela bactéria que causa a listeriose, a empresa de Sevilha, Magrudis — que fabrica a marca “La Mechá” — já recolheu os dois lotes, com cerca de duas mil embalagens da carne onde foi identificado o foco do surto da listeriose, afirmou ao ABC José Marín, gerente da fábrica. Entretanto o Observador verificou que o supermercado espanhol Supercor, do El Corte Inglés, não comercializa esta carne. Também a Mercadona, outra grande superfície comercial espanhola a operar em Portugal, confirmou ao Observador que não vende produtos da marca em questão.

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O diretor-geral da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) confirmou à Renascença que os produtos que estiveram na origem do surto em Espanha não foram importados para Portugal. Segundo a notificação da Rede de Alerta Rápido, lançada pela Comissão Europeia, “a distribuição da carne restringiu-se ao território espanhol”.

A bactéria causa problemas ao nível do sistema digestivo, como diarreia e vómitos, acompanhados de febre. Em caso de mulheres grávidas, recém-nascidos, idosos ou pessoas imunodeprimidas torna-se especialmente perigosa, podendo atingir uma taxa de letalidade de 30%, de acordo com a página da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Segundo a ministra da saúde espanhola, María Luisa Carcedo, o alerta sanitário foi declarado no dia 16, na comunidade autónoma da Andaluzia o que permite “localizar possíveis focos automaticamente” levando à sua “imobilização e retirada do mercado”.

“O alerta já está estabelecido. Existe uma rede de alerta alimentar que se ativa no momento em que uma comunidade autónoma nos comunica um surto e há suspeitas de que se possa estender”, explicou María Luisa Carcedo.

Em Portugal, o último surto de listeriose infetou 30 pessoas, causando a morte a 11 pessoas, entre 2009 e 2012 e teve origem em queijo, segundo a DGS. Mais recentemente, em 2016, foram destruídas 29 toneladas de queijo da Beira Baixa, contaminados com bactéria Listeria monocytogenes, produzidos pela Cooperativa de Produtores da Beira Baixa, em Idanha-a-Nova.

A transmissão da bactéria pode ocorrer através do contacto direto com animais (em reservatórios), do consumo de alimentos e produtos alimentares contaminados, de origem animal e vegetal, processados ou não, de mãe para feto ou durante a passagem pelo canal de parto infetado.

Os alimentos, ou produtos alimentares contaminados, que mais frequentemente se associam à transmissão da infeção incluem a carne crua de vaca, porco ou aves, crustáceos, mariscos ou moluscos, leite e derivados não pasteurizados, frutas e vegetais crus ou mal lavados e ainda através de alimentos processados, nomeadamente charcutaria e congelados.

Notícia atualizada às 13h40 de 21 de agosto com atualização do número de doentes com listeriose e informação relativa à deteção do surto. Dados de Jesús Aguirre, médico e conselheiro de saúde na Junta da Andaluzia em entrevista à Rádio Cope.