A Cofina SGPS anunciou este sábado que chegou a acordo com a espanhola Prisa para comprar a totalidade das ações que detém na Media Capital. O grupo de media português – que detém o Correio da Manhã, o Jornal de Negócios, o Record ou a Sábado, entre outros – oferece 2,3336 euros por cada ação da dona da TVI que não seja controlada pelos espanhóis da Prisa.

No total, o grupo dono do Correio da Manhã terá de mobilizar 181 milhões de euros, 170 milhões para pagar à Prisa, que controla cerca de 95% do capital da dona da TVI, e pouco mais de 10 milhões para adquirir as ações que estão dispersas em bolsa, através de uma oferta pública de aquisição.

Como o negócio inclui a assunção da dívida da Media Capital pela Cofina, a operação valoriza a Media Capital em 255 milhões de euros. A soma é substancialmente inferior ao proposto pela Altice, a dona da PT, em 2017, de 440 milhões de euros. Os números não são diretamente comparáveis porque a estrutura da operação é distinta, mas representam uma desvalorização face à transação que estava em cima da mesa há dois anos. Aliás a espanhola Prisa assume que terá de reconhecer nas contas uma perda de 76,4 milhões de euros.

O acordo foi anunciado três dias depois da suspensão da negociação das ações da Cofina em bolsa.

Para financiar a compra está previsto um aumento de capital da empresa liderada por Paulo Fernandes. O comunicado admite a entrada de novos acionistas qualificados na Cofina que já terão sido identificados, mas que não são referidos. Um dos nomes apontados é o do empresário Mário Ferreira, conhecido pela operação de cruzeiros no Rio Douro. Outro novo investidor será o banco espanhol Abanca que é já acionista da Media Capital. Ainda não há data, nem valores pera esta operação, mas está previsto que os atuais acionistas da Cofina mantenham o controlo com mais de 50% do capital da empresa.

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O financiamento bancário é assegurado pelo Santander e pela Société Générale.

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Condições de sucesso. Operação tem de passar na Autoridade da Concorrência

De acordo com o comunicado, o negócio encontra-se sujeito às seguintes Condições Suspensivas:

  • não-oposição da Autoridade da Concorrência;
  • autorização da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC);
  • aprovação, pela Assembleia Geral da PRISA, da transação prevista no Contrato de Compra e Venda;
  • aprovação da transação prevista no Contrato de Compra e Venda, a prestar por credores da PRISA, em conformidade com os termos e condições de financiamentos em que a PRISA e a Vertix são partes;
  • Mas também “a aprovação e execução de um ou mais aumentos do capital social” da Cofina “por novas entradas em dinheiro, no montante necessário para, conjuntamente com a parcela de financiamento bancário a contrair (…) financiar a aquisição da participação da PRISA” na Media Capital.

Apesar da dimensão do negócio no mercado dos media portugueses, a junção de dois dos três maiores grupos do setor, os envolvidos não antecipam obstáculos de maior Autoridade da Concorrência,cujo parecer negativo inviabilizou a compra da Media Capital pela Altice. Em causa está uma concentração horizontal, e não vertical como era a compra pelo grupo francês que seria realizada através da Meo, a principal dona das infraestruturas de distribuição de conteúdos.

Do ponto de vista da concorrência, será analisado sobretudo o impacto da soma dos dois grupos no investimento publicitário nos media, em particular na televisão, uma vez que o negócio integra a TVI e os seus canais de cabo com a Correio Manhã TV, o canal pago com maior audiência.

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Cofina diz que negócio garante grupo financeiramente forte, independente e nacional

De acordo com a Cofina, a aquisição da Media Capital “integra-se na estratégia de consolidação dos media no plano global, mantendo-se no essencial a atividade destas sociedades e das sociedades que com estes estejam em relação de domínio ou grupo”. O grupo português também refere que o negócio permitirá “potenciar o investimento na expansão digital, o lançamento de serviços inovadores e a promoção e desenvolvimento de conteúdos produzidos em Portugal”, garantindo que a Media Capital se mantém “como um ativo com identidade portuguesa”.

A empresa destaca ainda que a criação de um grupo financeiramente forte é o melhor garante da independência editorial e da criação de valor para todos os stakeholders, incluindo colaboradores, acionistas, clientes, fornecedores e parceiros. E deixa também a nota de que compra “permite, que após alguns anos, um dos principais grupos de meios de comunicação social, volte a ter um acionista de matriz nacional.”

“Esta aquisição enquadra-se na visão que a empresa tem para os media e afigura-se como aquela que melhor é capaz de garantir o seu crescimento e a sua sustentabilidade, e está em linha com a tendência global para a consolidação do setor dos media nos últimos anos”, refere a administração da Cofina, liderada por Paulo Fernandes, num comunicado enviado à agência Lusa.

“O projeto da Cofina passa por manter as linhas editoriais dos diferentes meios de comunicação social que detém e que passará a deter, bem como todos os profissionais que estejam dispostos a colaborar neste novo projeto”, prossegue.

“Esta aquisição garante a existência de um grupo de media independente e capaz de reforçar o papel que os media têm enquanto pilar essencial à vida de uma sociedade democrática”, salienta a Cofina, que refere que, “no que diz respeito à atividade de produção, o caminho passará por intensificar a criação de conteúdos de perfil exportador, tendo em vista a transposição para a legislação nacional da designada ‘diretiva Netflix'”.

“O novo grupo Cofina constituir-se-á como uma plataforma mais competitiva capaz de assegurar aos portugueses uma oferta diversificada de conteúdos de informação e de entretenimento, através da imprensa, televisão e rádio, seja ‘offline’ ou ‘online'”, adianta, salientando que “contará ainda com os melhores profissionais, seja nas áreas de televisão, rádio, imprensa e produção, garantindo a criação de condições de desenvolvimento pessoal e profissional, de forma sustentável”.

Novo grupo junta receitas de 270 milhões e 1800 colaboradores

A concentração vai fazer da Cofina o maior grupo de media em Portugal com um volume de negócios de mais de 270 milhões de euros, 271 milhões foram as receitas das duas empresas no ano passado, e cerca de 1800 colaboradores. A Media Capital já era o grupo com mais receitas antes desta operação. A Impresa que controla a SIC e o Expresso teve em 2018 rendimentos de 172,1 milhões de euros.

Eis os principais indicadores e títulos detidos por cada grupo para o ano passado.

Indicadores da Cofina

  • Receitas operacionais totais de 89,3 milhões de euros
  • Receitas de publicidade de 28,1 milhões de euros
  • Lucros de 6,6 milhões de euros
  • Trabalhadores: 735

Títulos

  • Correio da Manhã
  • Record
  • Jornal de Negócios
  • Destak
  • Sábado
  • Máxima
  • TV Guia
  • Correio da Manhã TV

Indicadores da Media Capital

  • Receitas operacionais de 181,8 milhões de euros
  • Receitas com publicidade de 124,8 milhões de euros
  • Lucros de 21,6 milhões de euros
  • Colaboradores: 1077

Operações:

  • TVI
  • TVI24
  • Produtora audiovisual Plural
  • Rádio Comercial
  • Rádio M80
  • Rádio Cidade
  • Rádio Smoth
  • Rádio Vodafone
  • Portal IOL

A OPA em bolsa

O objeto da oferta em bolsa “é constituído pela totalidade das 84.513.180 ações ordinárias, escriturais e nominativas” da Media Capital.

“No entanto, considerando que a Vertix [que é detida pela Prisa e é titular de ações representativas de 94,69% dos direitos de voto do Grupo Média Capital, SGPS, S.A] declarou a sua intenção de não aceitar a Oferta, as 80.027.607 ações por si detidas foram na presente data, em conformidade com o Contrato de Compra e Venda, objeto de uma instrução irrevogável de bloqueio (…)”, adianta o comunicado. Estas ações já tinham preço fixado neste contrato de compra e venda: 2,132 euros por cada.

Ou seja, prossegue, “a Oferta, ainda que geral, apenas poderá ser aceite pelos titulares das restantes 4.485.573 ações, representativas de 5,31% do capital social” da Media Capital. Por outras palavras, os 2,3336 euros oferecidos por ação apenas valem para estes títulos da Media Capital, o que “corresponde a um valor total da Oferta de 10,46 milhões de euros”.

Assim, a Cofina acertou com a Prisa comprar os 94,6% da Vertix por 170,6 milhões de euros e oferece aos restantes acionistas da Media Capital 10,46 milhões. Somando, a compra envolve 181 milhões de euros. Incluindo a dívida (que a Cofina assume) o negócio global ascende a 255 milhões de euros.

Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Cofina adianta que, na sequência da celebração, no dia 20 de setembro, de um contrato de compra e venda de ações com a Prisa – Promotora de Informaciones para a compra de ações da totalidade da Vertix SGPS, que detém 94,69% dos direitos de voto da Media Capital, a dona do Correio da Manhã vai lançar uma Oferta Pública geral e voluntária de aquisição (OPA) sobre a totalidade das ações da dona da TVI.

Prisa assume que a venda implica perdas consolidadas de 76,4 milhões de euros

Em comunicado enviado ao mercado, a Prisa informa que acertou vender à Cofina a totalidade da sua participação na Vertix (que detém os 94,6% da Media Capital) por um preço de 170,63 milhões de euros. Ressalva, porém, que a base do negócio é um “enterprise value” [incluindo a dívida] de 255 milhões de euros.

“Para o efeito, as partes subscreveram um contrato de compra e venda mediante o qual a Prisa transmitirá à Cofina a totalidade da sua participação na Vertix, tendo a Cofina obtido previamente à assinatura do contrato compromissos de financiamento do preço acertado junto de entidades de crédito, dos seus principais acionistas e de investidores. A execução da operação está condicionada à obtenção da autorização da autoridades de concorrência e regulatórias portuguesas, à aprovação de um aumento de capital por parte da Cofina, à obtenção de waiver de determinados credores financeiros da Prisa [que não especifica]”, refere o grupo espanhol.

No entanto, refere que – segundo as suas estimativas – “esta transação vai traduzir-se em perdas nas contas consolidadas da Prisa de aproximadamente 76,4 milhões de euros”, e de 77,4 milhões de euros nas contas individuais.

Notícia atualizada às 12.50 com indicadores dos dois grupos