Uma adolescente de 15 anos está detida desde julho, no Egito, depois de ter assassinado um homem que a raptou e a estaria a tentar violar. A jovem esfaqueou o agressor com a faca que este utilizou para a ameaçar e entregou-se depois à polícia, podendo agora ser acusada de homicídio.

O alegado ataque ocorreu numa zona remota do Cairo, depois de o homem, um condutor de autocarro, ter raptado a jovem. “Foi ela que se entregou voluntariamente à polícia depois de matar o homem que a tentou violar”, disse ao El Mundo Intissar Saeed, presidente da Fundação do Cairo para a Lei e Progresso — a organização que representa legalmente a jovem. Logo após ser detida, a rapariga teve de se submeter a um teste para comprovar a sua virgindade.

Vários grupos defensores dos direitos das mulheres pedem liberdade para a rapariga, por simplesmente se ter defendido de um ataque sexual, mas as autoridades judiciais têm sido inflexíveis. “As provas estão a favor da jovem, mas as acusações são muito graves. Acusam-na de estar em posse de uma arma branca e de homicídio premeditado, apesar de ela ter declarado que a faca pertencia ao violador e que, enquanto este a forçava, conseguiu tirar-lhe a arma”, explicou Saeed. Um juiz já recusou uma decisão prévia do tribunal de libertar a jovem e prolongou o seu período de detenção.

Segundo o Independent, a alegada vítima disse ainda à polícia que esteve com o namorado antes de apanhar o autocarro. O rapaz também está a ser investigado para apurar se tem ou não ligações ao alegado crime.

A adolescente pode estar perante, pelo menos, 15 anos de prisão — se o juiz aplicar a pena pedida pela procuradoria. Se condenada, vai ficar num centro de menores até atingir a maioridade. A defesa vai tentar fazer com que a justiça egípcia considere o homicídio um “crime de honra”, para reduzir a pena para o máximo de três anos de prisão.

O caso ganhou mediatismo no país e tornou-se um símbolo da discriminação de mulheres vítimas de violação no mundo árabe, com organizações feministas a pedir a absolvição da rapariga. “É um caso muito especial e difícil”, lamenta Saeed. A sociedade egípcia, diz, “defende os homens que matam as suas mulheres e filhas sob o pretexto da honra” e culpa as mulheres vítimas de assédio.

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