O primeiro de uma série de debates televisivos que antecedem as eleições de 12 de dezembro, opondo o primeiro-ministro, Boris Johnson, e o líder do principal partido da oposição, o Trabalhista Jeremy Corbyn, realiza-se esta terça-feira.

O debate, no canal televisivo ITV às 20h locais (mesma hora em Lisboa), está previsto durar uma hora e será a estreia de Corbyn neste modelo, uma vez que Theresa May, a então líder do Partido Conservador, recusou enfrentar o líder trabalhista na campanha eleitoral para as legislativas de 2017.

Na opinião de Polly McKenzie, antiga assessora do antigo líder Liberal Democrata Nick Clegg, a tarefa está mais facilitada para o líder da oposição porque “a maioria das pessoas diz que ele vai perder, o que quer dizer que Boris tem mais a perder”, disse à BBC Radio 4 na segunda-feira.

Uma sondagem tornada pública pela ITV dá ao partido Conservador 42% das intenções de voto, uma vantagem de 14% sobre o principal rival, o ‘Labour’, que se fica pelos 28%, projetando uma vitória e uma possível maioria absoluta na Câmara dos Comuns para Boris Johnson.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A líder dos Lib Dems, Jo Swinson, tinha esperança de poder participar e o partido pediu a intervenção da Justiça, alegando falta de imparcialidade porque tanto Corbyn como Johnson são eurocéticos, mas os juízes do Tribunal Superior [High Court] recusaram intervir na programação televisiva da ITV.

Nas próximas semanas estão previstos mais debates, incluindo uma edição especial do programa ‘Question Time’ na BBC, que coloca semanalmente políticos, jornalistas e ativistas perante uma audiência de cidadãos, e que na sexta-feira vão ter oportunidade de questionar diretamente Boris Johnson, Jeremy Corbyn, Jo Swinson e a líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP), Nicola Sturgeon.

O canal Sky News propôs um debate para 28 de novembro a três, entre Johnson, Corbyn e Jo Swinson, mas até agora só Swinson aceitou, e a estação pública britânica também tem planeado um frente a frente entre Johnson e Corbyn a 06 de dezembro, seis dias antes das eleições.

A BBC vai realizar mais uma série de debates a nível regional, no País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia e programas especiais com líderes de partidos de menor dimensão, como os Verdes e o Partido do Brexit.

O Reino Unido foi um dos últimos países desenvolvidos a introduzir debates televisivos entre os principais líderes partidários durante as campanhas eleitorais, depois de tentativas falhadas em 1964, entre Harold Wilson e Alec Douglas-Home, em 1970, entre Wilson e Edward Heath, e em 1997, entre John Major e Tony Blair.

O primeiro debate só aconteceu em 2010, com o confronto entre o Trabalhista Gordon Brown, o Conservador David Cameron e o Liberal Democrata Nick Clegg, beneficiando este último, segundo Dennis Kavanagh e Philip Cowley, autores do livro “The British General Election of 2010”.

“Desde o início, era evidente que Nick Clegg estava a ter um bom desempenho e que toda a preparação dos liberais democratas tinha valido a pena. Por outro lado, Gordon Brown usou muitas estatísticas, as suas piadas não funcionaram e ele teve dificultado em criar empatia”, referiram, lembrando ainda que David Cameron “estava claramente nervoso e teve um mau desempenho”.

Nos dois debates seguintes, Cameron e Brown prepararam-se melhor e atacaram Clegg, mas foi o líder conservador quem somou mais pontos, acabando por tornar-se chefe de governo, em coligação com Clegg.

“Os debates tiveram um impacto muito maior sobre o ritmo e a perceção da campanha do que quase todos tinham previsto. Na prática, eles transformaram-se na campanha nacional, retirando a vida a muitos dos aspetos mais tradicionais da campanha”, concluíram Kavanagh e Cowley.

A experiência não foi repetida: em 2015, Cameron e Ed Miliband optaram por entrevistas separadas e um debate alargado com outros partidos foi boicotado pelo então primeiro-ministro, e em 2017 Theresa May não aceitou um confronto com Corbyn.